A depender dos mesmos políticos que os criaram.”
ENVIADOS ESPECIAIS A CLEVELAND
Há quase 13 meses, Donald Trump desceu as escadas rolantes de sua Trump Tower de Manhattan e anunciou sua intenção de ser o 45º presidente dos EUA. Antes, deu um atestado de óbito para o sonho americano: “Tristemente, ele está morto”.
Nesta quinta (21), último de quatro dias da Convenção Nacional Republicana, de onde sai candidato do partido à Casa Branca, ele descreveu uma nação na UTI e apresentou a fatura para reavivá-la.
“Não podemos mais bancar sermos tão politicamente corretos”, disse Trump no palco de um pavilhão em Cleveland, num discurso em que se vendeu como líder disposto a tomar medidas extremas para proteger seus cidadãos.
Ao som dos Beatles (“Here Comes the Sun”), a filha Ivanka o apresentou como alguém “incapaz de pensar pequeno”. Lembrou de, criança, brincar de blocos de montar no escritório do magnata e o aclamou por erguer um império imobiliário com “pecinhas” de aço e concreto.
A imagem de homem que pode reconstruir os EUA foi a tônica da fala de Trump, repleta de ataques a Hillary Clinton, a ser oficializada candidata democrata na convenção da próxima semana.
Se eleita, disse, a ex-secre- tária de Estado de Barack Obama trará “morte, destruição e fraqueza” à nação. Afirmou “estar certo” que Obama “se arrepende” de pô-la no cargo, “após 15 anos de guerras no Oriente Médio, trilhões de dólares gastos e milhares de vidas perdidas”.
“Os problemas que enfrentamos agora —pobreza e violência em casa, guerra e destruição no exterior— vão perdurar enquanto continuarmos Cofundador do PayPal, Peter Thiel foi o terceiro homossexual (assumido) a falar numa convenção republicana: “Tenho orgulho de ser gay”, disse. Sua empresa boicotou Estados com “leis de liberdade religiosa” (que discriminam a comunidade LGBT), defendidas por Mike Pence, vice de Trump. Don King, lendário empresário de boxe, foi à convenção e distribuiu sopapos (metafóricos) no presidente do Partido Republicano. Reince Priebus convenceu Trump a desistir de escalar King, condenado por assassinato no passado, como orador. “Ele não gosta de negros”, disse. Verônica Silvany chegou à convenção produzida para deixar claro quem é: boné com bandeira do Brasil e o cartaz “Latinas por Trump”. “É um momento épico, não podia perder”, disse Silvany, 57, nos EUA desde 1964. ‘AMERICANISMO’ Trump começou a campanha desacreditado por republicanos e democratas, mas emergiu com um discurso contra a política tradicional.
Em sua apresentação mais importante até aqui, pôs como prioridade “fazer a América forte, orgulhosa e segura de novo”, em variações do slogan “Fazer a América Incrível de Novo” —que virou tema musical no evento encerrado com uma chuva de 125 mil balões vermelhos, azuis e brancos na plateia.
Repetiu um de seus bordões prediletos, “a América em primeiro lugar”, aceno a políticas protecionistas. “Americanismo, não globalismo, serão nosso credo.”
Prometeu linha-dura, lembrando os recentes ataques terroristas nos EUA e no exterior e conflitos domésticos agravados pela tensão racial.
“Tenho uma mensagem a cada pessoa que ameaça a paz nas nossas ruas e a segurança de nossa polícia: quando fizer meu juramento [presidencial] no ano que vem, vou restaurar a lei e a ordem.”
Os planos mais polêmicos, como um muro na fronteira do México, foram aplaudidos. Trump, que já mexicanos de “estupradores” e “traficantes”, voltou a responsabilizar imigrantes pela criminalidade, ainda que com palavras mais suaves. E disse que vetará a imigração de cidadãos de qualquer país com suspeita de abrigar terroristas.
“Teremos compaixão por todos. Mas minha maior compaixão será com nossos próprios cidadãos.”