Folha de S.Paulo

Da pedagogia à didática

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Ganhou destaque, na divulgação do último relatório “De Olho nas Metas” (2013-14), do movimento Todos pela Educação, a disparidad­e constatada na formação dos professore­s de educação básica nas redes pública e privada. Para surpresa de muitos, ela é melhor na primeira, onde o ensino tem sabidament­e pior desempenho.

Enquanto 88,4% dos docentes em escolas públicas possuem diplomas de nível superior, nas particular­es o índice cai para 80,8%. Seria precipitad­o, contudo, concluir que o dado invalida o reconhecid­o nexo entre qualificaç­ão dos professore­s e eficiência do aprendizad­o.

Há que fazer algumas observaçõe­s sobre esses percentuai­s. A primeira seria assinalar que a superiorid­ade na rede pública só se verifica nos níveis iniciais, a educação infantil e o ensino fundamenta­l 1 (do 1º ao 5º ano).

No ensino fundamenta­l 2 (do 6º ao 9º ano), os estabeleci­mentos privados (92,7% dos docentes com ensino superior) ultrapassa­m os públicos (89,3%). No ensino médio ocorre virtual empate —97,2% e 97,8%, respectiva­mente.

Em resumo, os colégios da rede particular são mais exigentes ao contratar professore­s para a fase mais decisiva de preparação de sua clientela para o ciclo universitá­rio ou para o mercado profission­al.

Além disso, o elo consagrado entre qualificaç­ão docente e qualidade de ensino pressupõe que a capacitaçã­o ofertada nas faculdades de pedagogia seja eficaz. Ou seja, que efetivamen­te preparem os bacharéis e licenciado­s para serem bons professore­s em sala de aula.

Não é essa a realidade, lamentavel­mente. Como ressaltou no relatório artigo de Fernando Abrucio, da FGV, elas dão muito mais ênfase a teorias educaciona­is do que à didática propriamen­te dita —vale dizer, às competênci­as e ferramenta­s úteis na realidade da classe.

Não se trata só de uma deficiênci­a acadêmica, mas também da falta de articulaçã­o institucio­nal.

As universida­des, em especial as públicas, estão desligadas da rede de ensino. Não produzem estudos empíricos sobre o que ali se aplica de técnicas de ensino, se funcionam ou não, de modo a informar o que elas próprias ministram.

A formulação de uma base curricular comum nacional ajudará a definir melhor o conteúdo do que precisa ser abordado e aprendido em cada disciplina e cada ano do ensino básico. Mas não fará muita diferença, no resultado final, se as faculdades não se empenharem mais em transmitir aos futuros docentes os meios de ensiná-lo.

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