A CILADA DOS JUROS REPERCUSSÃO
O TUMULTO na finança mundial ofereceu motivo de última hora para o Banco Central manter os juros na mesma. Não seria preciso pretexto, caso a conversa do BC fosse melhor. De resto, a muvuca financeira começou na virada do ano; a reviravolta do BC, na terça de manhã.
Na nota obscura em que anunciou sua decisão, o BC pareceu dizer que levou em conta a recessão horrenda e “...a elevação das incertezas domésticas e, principalmente, externas”.
Citou ainda as “perspectivas de inflação”. Isso quer dizer que o BC fez contas novas e descobriu que o IPCA vai cair? Ou que, por ora, é melhor dar um tempo, ficar parado e tolerar o risco de IPCA ir a 8% ou 10% em 2016?
Quanto às “incertezas domésticas”, elas por ora não auguram boas coisas para a inflação, embora um desastre recessivo maior possa deprimir
Quanto à situação externa, a coisa está, sim, meio sinistra. Mas o que preocupa o BC? Além do mais, dadas a decisão de ontem e a desordem mundial, para onde vai o dólar?
Nos dias de medo, o pessoal do dinheiro grande lá fora desanda a falar num palavreado hiperbólico. Coisas como “não vai ser 2008, mas pode ser como 2001-02”, lembrança do estouro da bolha de ações das empresas de tecnologia da moda e da contabilidade criminosa nos EUA. Há quem fale de “credit crunch”, seca de crédito, quando bancos reduzem empréstimos à míngua, por medo de calotes.
começa a comparar tumulto de agora a crises ruins do século
Os menos exagerados relembram 2013. Então, os donos do dinheiro tiveram reação histérica à mera menção de que os juros subiriam nos EUA, o que viria a ocorrer só no final de 2015. Há quem lembre também a crise europeia de 20011-12.
Não há clareza a respeito dos motivos da derrocada nos mercados financeiros. Há mal-estar com a decadência do ritmo chinês, que prejudica o crescimento e a capacidade de seria um motivo mais específico do medo, mas pode se tratar de apenas um bom chute, pois o problema ainda é nebuloso. Bancos e outros credores sofreriam um baque, claro. De qual tamanho? Se a finança estima que a coisa vai ser feia, pode começar a se livrar de outras dívidas mais arriscadas, derrubando preços em vários setores e secando alguns canais de crédito.
A moeda chinesa pode ser um no comércio mundial, desvalorizações nos países do entorno chinês etc.).
Há, enfim, um medo vago de que se puseram trilhões na especulação com negócios e países de risco, ora mal das pernas, trilhões oferecidos a juro menor que zero pelos BCs. Por aqui, não temos vaga ideia de como o nosso BC relaciona esse tumulto à nossa crise. vinicius.torres@grupofolha.com.br