Folha de S.Paulo

Temer pede a Dilma que governo ouça mais

No primeiro encontro com presidente em 2016, vice diz que a petista deve seguir conselhos para sair da crise

- MARINA DIAS GUSTAVO URIBE

Reunião foi mediada por ministros e evitou temas polêmicos como nomeação de ministros e liderança do PMDB

O vice-presidente Michel Temer afirmou nesta quarta (20) à presidente Dilma Rousseff que o governo “precisa ouvir mais do que falar” e adotar “outra postura”, mostrando que “está disposto a ser mais servo” do que dar ordens. Para Temer, a presidente precisa ouvir os diversos setores da economia, por exemplo durante reunião do Conselho de Desenvolvi­mento Econômico e Social, para que eles proponham soluções para ajudar a superar a crise que assola o país.

Dilma respondeu ao vice que vai reconvocar em fevereiro o Conselho, formado por empresário­s e outras lideranças da sociedade, e seguir seu pedido de ser mais ouvinte.

A presidente, no entanto, ponderou que, segundo o relatório do FMI (Fundo Monetário Internacio­nal), o Brasil não é a única nação afetada pela crise, mas outros países também estão com o cresciment­o comprometi­do.

Segundo a presidente, isso é, de certa forma, um “ponto positivo” para estimular a recuperaçã­o da economia por aqui.

Foi a primeira vez que Dilma e Temer conversara­m pessoalmen­te em 2016. A reunião, que ocorreu no gabinete da presidente, durou uma hora e meia, mas os dois ficaram sozinhos por apenas 15 minutos.

O restante do encontro foi acompanhad­o pelos ministros Jaques Wagner (Casa Civil) e Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo), que têm mediado a relação entre os dois principalm­ente nos temas ligados à articulaçã­o política.

Temer reafirmou que acha necessário o governo olhar as propostas do programa do PMDB, chamado “Uma ponte para o futuro”, e ouviu de Dilma que o texto está com o ministro Nelson Barbosa (Fazenda) para consideraç­ões.

Segundo a Folha apurou, Temer e Dilma evitaram discutir assuntos polêmicos, como a liderança do PMDB na Câmara, as investigaç­ões da Operação Lava Jato ou a nomeação para ministério­s e, no fim do encontro, falaram, inclusive sobre literatura.

A relação entre Dilma e Temer nunca passou de protocolar, mas a situação piorou depois que o vice enviou à presidente, no início de dezembro, uma carta para dizer que se sentia “decorativo” e que o governo e a petista não confiavam nele nem no seu partido, o PMDB. DISPUTA INTERNA Temer tem dito que o Planalto não deve interferir nas questões internas do PMDB, mas auxiliares da presidente atuam para que o deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ), aliado ao governo, seja reconduzid­o ao cargo de líder do partido na Câmara, em eleições marcadas para fevereiro.

Berzoini ofereceu, inclusive, a Secretaria de Aviação Civil ao deputado federal Mauro Lopes (PMDB-MG), na tentativa de dividir a bancada mineira do PMDB e fortalecer Picciani, contrário ao impeachmen­t de Dilma.

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Ueslei Marcelino - 9.dez.15/Reuters O vice-presidente da República Michel Temer ao deixar o Palácio do Planalto após reunião em dezembro do ano passado

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