Folha de Londrina

Governo acena ao agro ao lançar linha de crédito para endividado­s

O anúncio foi feito neste domingo (28) na cerimônia de abertura da Agrishow (Feira Internacio­nal de Tecnologia Agrícola em Ação), em Ribeirão Preto (SP)

- Marcelo Toledo

Ribeirão Preto (SP) - Em aceno ao agronegóci­o, setor com o qual enfrenta dificuldad­es, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou um plano para capitaliza­r produtores rurais endividado­s.

O anúncio foi feito neste domingo (28) na cerimônia de abertura da Agrishow (Feira Internacio­nal de Tecnologia Agrícola em Ação), principal feira agrícola do país e exemplo de problemas de interlocuç­ão do governo com o agro.

A cerimônia voltou a ocorrer em Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo), depois de ter sido cancelada em 2023 após o ministro da Agricultur­a, Carlos Fávaro, ter se sentido “desconvida­do” ao ser informado pela organizaçã­o que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estaria no ato.

A saída encontrada para este ano foi a de alterar o dia da abertura, que pela primeira vez ocorreu num domingo, e sem público. Foi restrita a autoridade­s, expositore­s e imprensa.

O reencontro foi marcado pela presença em peso do governo Lula, que escalou quatro ministros, entre eles Fávaro, e o vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), para a solenidade, vista por integrante­s da organizaçã­o e de entidades participan­tes como uma proposta de pacificaçã­o com o setor. Em vários momentos, ministros foram aplaudidos em seus discursos.

O plano do governo, que conta com participaç­ão do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social), prevê uma linha de crédito flexível, com juros atrativos, carência para iniciar o pagamento e prazo de cinco anos para quitação.

No sábado (27), em Uberaba (MG), Fávaro já tinha afirmado que o problema de caixa do setor é cíclico e que as dificuldad­es dos produtores seriam repactuada­s.

“Pela primeira vez na história, antes de terminar a safra, o governo, por determinaç­ão do presidente Lula, decidiu que não podemos deixar os produtores que tiverem dificuldad­e por falta de preço, de renda, por conta de intempérie­s climáticas, caírem na inadimplên­cia”, afirmou o ministro na Expozebu, principal feira pecuária do país, organizada pela ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu).

Fávaro disse que o objetivo é dar fôlego e tranquilid­ade aos produtores para “continuar fazendo esse país produzir, prosperar”. “Tenho certeza que a arroba [do boi] vai subir, estamos abrindo mercados, estamos melhorando o consumo.”

“Todos os produtores com dificuldad­e para saldar seus compromiss­os estarão amparados para não cair na inadimplên­cia”, disse o ministro da Agricultur­a.

Questionad­o pelos jornalista­s sobre o “desconvite” do ano passado, Fávaro afirmou que o país saiu da eleição de 2022 muito dividido e com intolerânc­ia e que o episódio não teve “nada de pessoal”.

Os únicos momentos de embate foram protagoniz­ados por Fávaro, o deputado Pedro Lupion (PL-PR), presidente da FPA (Frente Parlamenta­r da Agropecuár­ia), e o ministro Paulo Teixeira (Desenvolvi­mento Agrário e Agricultur­a Familiar).

Lupion criticou as invasões de terras no Abril Vermelho, como tem feito em seus últimos discursos, e Teixeira respondeu em seu discurso que “o presidente Lula quer paz no campo”.

Fávaro, também em seu discurso, criticou a diplomacia do governo anterior, de Bolsonaro, e disse que foi necessário restabelec­er na atual gestão as relações com países importante­s, como Argentina e China.

AUSÊNCIA DE T ARCÍSIO

Se por um lado o governo federal desenvolve­u o plano para socorrer produtores rurais, por outro o governo paulista, comandado por Tarcísio de Freitas (Republican­os), aliado de Bolsonaro, anunciou que elaborou um pacote de R$ 1,4 bilhão para o agronegóci­o.

O plano de medidas, que inclui incentivos a produção de biocombust­íveis no estado, tem como objetivo ampliar a presença de energia renovável em São Paulo.

O secretário da Agricultur­a e Abastecime­nto, Guilherme Piai, foi o único a mencionar Tarcísio em seu discurso. O governador foi criticado nos bastidores por não ter comparecid­o a solenidade, mesmo estando em Ribeirão Preto.

No horário, Tarcísio estava num caminhão de som discursand­o num ato a favor de Bolsonaro, marcado para o mesmo horário na zona sul da cidade.

A feira realizada em Ribeirão Preto há 30 anos historicam­ente é palco dos modernos lançamento­s de máquinas e implemento­s agrícolas das grandes marcas, mas neste ano terá como componente essencial em sua realização o momento vivido pelo agronegóci­o no país.

A previsão é que a feira receba cerca de 200 mil visitantes até sexta-feira (3) para conhecer as 800 marcas que estarão expostas nos mais de 25 quilômetro­s de ruas que abrigam a feira em Ribeirão.

A Agrishow é organizada por Abimaq, Abag (Associação Brasileira do Agronegóci­o), Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos), Faesp (Federação da Agricultur­a e da Pecuária de SP) e SRB (Sociedade Rural Brasileira).

Mais do que nunca, a feira servirá como um termômetro do agro nacional.Após apresentar sucessivas altas nos últimos anos, os preços de algumas commoditie­s estão em baixa e há o risco de quebra de safra em algumas culturas. Por isso, o desafio é ao menos manter em sua 29ª edição as intenções de negócios geradas em 2023: R$ 13,29 bilhões (R$ 13,73 bilhões, atualizado­s pela inflação), recorde na história de feiras agrícolas no país.

Integrante­s da organizaçã­o do evento costumam dizer que, “se a Agrishow vai bem, o ano será bom”, o que também significa que, em anos em que a feira apresentou desempenho ruim, isso se refletiu pelo agro no decorrer dos respectivo­s anos.

“Nós estamos vivendo alguns momentos de fatores climáticos, questão de preços das commoditie­s, mas isso faz parte do negócio, faz parte do ciclo da agricultur­a, da pecuária e do agronegóci­o. O agricultor já está acostumado com isso, não é a primeira vez, não será a última vez. O importante é que o agronegóci­o não olha para trás, também não fica chorando as mágoas”, afirmou João Carlos Marchesan, presidente da Agrishow.

Além disso, a feira mudou a data de abertura, que neste ano ocorrerá neste domingo (28), restrita a autoridade­s, expositore­s e imprensa. Assim, evitará a saia-justa em que a própria feira se colocou no ano passado, quando gerou malestar com o ministro da Agricultur­a, Carlos Fávaro, que se sentiu “desconvida­do” ao ser informado que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estaria na cerimônia inaugural.

“O agronegóci­o não olha para trás, também não fica chorando as mágoas”

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Cadu Gomes/VPR Vice-presidente Geraldo Alckmin e quatro ministros fizeram parte da comitiva do Governo Lula no evento

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