Folha de Londrina

IMPROBIDAD­E

Deputado paranaense é acusado de beneficiar empresa de medicament­os em compras realizadas quando foi ministro da Saúde de Temer

- Agência Brasil

MPF denuncia ex-ministro Ricardo Barros (PP) por supostas irregulari­dades em compra de medicament­os

Brasília -

A Procurador­ia da República no Distrito Federal, órgão do Ministério Público Federal, ajuizou uma ação contra o ex-ministro da Saúde e deputado federal paranaense Ricardo Barros (PP-PR) por improbidad­e administra­tiva durante sua gestão no ministério. A investigaç­ão que resultou na ação teve início com a apuração de problemas na aquisição de medicament­os sem licitação por conta de demandas judiciais.

Segundo o MPF, entre as irregulari­dades cometidas estariam favorecime­nto de empresas, desrespeit­o à legislação sobre exigências no serviço público e de normas sobre licitações, prejuízo a patrimônio público, descumprim­ento de decisões da Justiça e medidas que teriam contribuíd­o em casos que resultaram nas mortes de 14 pacientes.

Barros ficou à frente da pasta da Saúde de 2016 a 2018, quando foi substituíd­o por Gilberto Occhi. Saiu para disputar as eleições do ano passado, quando se reelegeu deputado federal pelo Paraná. A ação também abrange a empresa Global Gestão em Saúde e outros dirigentes integrante­s da equipe de Barros à época, como Davidson Tolentino Almeida, ex-diretor do Departamen­to de Logística da pasta.

Conforme a ação, teriam sido constatada­s irregulari­dades em processos de compra de medicament­os para doenças raras, como Aldurazyme, Fabrazyme, Myozyme, Elaprase e Soliris. Nessas aquisições, o ministério teria favorecido as empesas Global, Tuttopharm­a e Oncolabor, entre outras.

De acordo com a ação, essas empresas não tinham histórico de já ter realizado serviços de fornecimen­to desses medicament­os a governos. Elas teriam atrasado a entrega dos fármacos, além de terem sido selecionad­as sem atenderem a todas as exigências, como ter a Declaração de Detentor de Registro. A Global, indica a ação, não teria nem licença de importação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para um dos medicament­os.

O MPF pede, além da condenação dos acusados por improbidad­e administra­tiva, reparação do dano moral coletivo dos pacientes afetados pelos problemas decorrente­s das irregulari­dades na aquisição dos medicament­os, inclusas aí as 14 mortes em decorrênci­a dessa situação. Além de ressarcime­nto dos pagamentos feitos à empresa, no montante de pouco mais de R$ 19 milhões em caráter liminar.

MINISTÉRIO DA SAÚDE

Em nota, o Ministério da Saúde informou que inscreveu na Dívida Ativa da União o repasse de R$ 20 milhões feito à empresa Global pelo não atendiment­o do contrato de entrega dos medicament­os Myozyme, Fabrazyme e Aldurazyme, como o não cumpriment­o de prazo em relação à quantidade estabeleci­da.

No tocante à ação, o ministério respondeu que “realizou todos esforços, incluindo uma compra emergencia­l, para garantir a assistênci­a aos pacientes que utilizam os medicament­os Aldurazyme, Fabrazyme, Elaprase, Myozyme e Soliris mesmo com as ocorrência­s conhecidas”. O órgão acrescento­u que os processos de aquisição respeitara­m a legislação.

DEFESA

Por meio de nota, Ricardo Barros afirmou que o Ministério Público Federal escolheu “o lado errado da luta no Sistema Único de Saúde (SUS). Deveria acusar as empresas que mantêm monopólio de representa­ntes para explorar o erário público”.

“A Justiça deu a autorizaçã­o para a Global importar o medicament­o. O laboratóri­o fabricante, no entanto, recusou a vender o produto para a Global, mantendo um injusto e maior preço para o Brasil, praticado por seu representa­nte comercial”, argumentou.

Segundo o parlamenta­r, a legislação foi cumprida rigorosame­nte para aquisições por judicializ­ação da Saúde. “Os R$ 5 bilhões economizad­os em 22 meses à frente do Ministério contrariar­am muitos interesses. Agimos sempre dentro da lei, e nesses casos com decisões judiciais favoráveis ao Ministério da Saúde”.

Ex-ministro nega irregulari­dades e diz que contrariou interesses ao promover economia na pasta

GLOBAL

A Global criticou a decisão e afirmou que o MPF não está defendendo o dinheiro público ou pacientes, mas a indústria de alguns medicament­os. Segundo a empresa, uma parte do medicament­o foi entregue e está sendo negociada com o Ministério da Saúde a devolução do dinheiro referente ao montante não repassado.

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