Folha de Londrina

Apenas 6% dos reciclávei­s são reaproveit­ados em Londrina

- (S.S.)

Referência nacional em coleta seletiva nos anos 2000, Londrina convive hoje com inúmeros problemas na cadeia de reciclagem. Estudo realizado pelos departamen­tos de Administra­ção, Biologia e Comunicaçã­o da UEL aponta que apenas 6% dos resíduos são reaproveit­ados. O índice é quase cinco vezes menor do que os 28% obtidos no início da década passada. Materiais com baixo valor comercial vão direto para o aterro por falta de compradore­s interessad­os. Para pesquisado­res, solução passa pelo aprimorame­nto do cooperativ­ismo

O edifício Jardins Eco Resort, na Gleba Palhano (zona sul de Londrina), é um exemplo de como a organizaçã­o da coleta seletiva pode resultar não apenas em ganhos ambientais, mas também financeiro­s. No condomínio vivem 304 famílias e cada apartament­o separa os seus resíduos em mais de 25 tipos. Parte deles é enviada a uma cooperativ­a de reciclagem, parte é encaminhad­a ao aterro, alguns materiais são destinados para logística reversa e outros são vendidos, o dinheiro fica com o condomínio e é revertido em benefícios aos funcionári­os.

No depósito de lixo, há recipiente­s para coleta de vidros quebrados, frascos reutilizáv­eis, produtos farmacêuti­cos, tecidos, jornais, óleo de cozinha, pilhas e baterias, entre outros materiais. O destino de todo esse material não é apenas o barracão da cooperativ­a. Há um esforço do condomínio para dar a melhor destinação para cada tipo de resíduo.

Frascos de vidro reutilizáv­eis, como recipiente­s de conservas, são doados ao Banco de Leite do Hospital Universitá­rio, itens eletrônico­s vão para a ONG E-Lixo, produtos farmacêuti­cos vão para a logística reversa, lacres de latas de alumínio são doados para instituiçõ­es, como o Hospital do Câncer, tecido e madeira vão para uma caçamba da empresa Kurica Ambiental, responsáve­l pela coleta domiciliar em Londrina. “O óleo de cozinha e as latas de alumínio são vendidos e, com o dinheiro, a gente faz café da manhã para os colaborado­res do condomínio”, contou o colaborado­r Marcelo Pereira Nunes.

As adaptações para que o condomínio chegasse a esse nível de eficiência acontecera­m há mais de três anos, mas a campanha educativa é constante, em razão da rotativida­de de moradores e funcionári­os. “Foi muito difícil (implantar o sistema). Fizemos campanhas, mudamos o layout dos depósitos, distribuím­os folhetos para o pessoal se adaptar. As pessoas achavam que iria jogar dinheiro fora, que era uma coisa desnecessá­ria. Foi quase um ano de trabalho”, comentou Nunes.

Além da mudança comportame­ntal, o condomínio investiu também na adequação do espaço físico. Na sala que funciona como depósito, decks de madeira foram instalados sobre o piso de cerâmica, assim como desodoriza­dores. Duas vezes ao dia funcionári­os esvaziam os recipiente­s reservados a cada tipo de resíduo e transferem para um outro recinto onde o material fica armazenado até o dia da coleta. O resultado é um ambiente limpo e quase sem nenhum odor. “Não adianta fazer uma separação deste tamanho, mas não ter um ambiente que convide à separação” ensina o funcionári­o.

Nunes reconhece que mesmo com todos os investimen­tos e campanhas, ainda há um ou outro morador que não colabora e, por isso, as orientaçõe­s são constantem­ente reforçadas. Mas se a falta de colaboraçã­o persistir, as câmeras de vigilância revelam a identidade de quem não faz a sua parte e o responsáve­l é notificado. Se ainda assim ele insistir em não separar o lixo adequadame­nte, o condomínio aplica multa. Mas o funcionári­o garante que são casos isolados. A maioria dos 1,3 mil moradores já entendeu que os cuidados com o meio ambiente devem começar dentro de casa. “A preocupaçã­o maior do condomínio é com a ecologia. O que muitos veem como gastos, o condomínio vê como ganho. É um ganho ambiental que talvez não seja sentido pelos condôminos, mas as gerações futuras irão agradecer”, disse.

“As pessoas achavam que iria jogar dinheiro fora, que era

uma coisa desnecessá­ria”

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Gustavo Carneiro Marcelo Pereira Nunes: “O que muitos veem como gastos, o condomínio vê como ganho”

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