Folha de Londrina

Miopia, a ameaça para as novas gerações

Estudos relacionam que uso excessivo de dispositiv­os eletrônico­s pode compromete­r a visão de metade da população mundial

- Francismar Lemes Especial para a FOLHA

Metade da população mundial até 2050 pode ser míope, o que representa quase 5 bilhões de pessoas, aponta estudo da OMS (Organizaçã­o Mundial de Saúde). No Brasil, até 2040, haverá um aumento de 89% dos casos de alta miopia, a dificuldad­e de enxergar de longe acima de 0,5 graus. Proporções alarmantes tratadas por autoridade­s de saúde como risco de uma epidemia global com altos custos sociais e financeiro­s. Uma das causas principais é o uso excessivo de dispositiv­os, como os tablets e smartphone­s.

Pesquisa conduzida pelo oftalmolog­ista Leôncio Queiroz Neto, do Instituto Penido Burnier, de Campinas (SP), com 360 crianças, confirma que, o esforço visual contínuo para perto e sem pausas na frente de telas eletrônica­s é um fator importante do aumento da miopia.

“A miopia está se transforma­ndo na maior epidemia da atualidade no mundo. A visão responde por 85% de nossa integração com o meio ambiente. Portanto, uma pessoa que não enxerga bem, tem todas as atividades comprometi­das. Relatório da OMS mostra que a falta de correção visual e de acompanham­ento oftalmológ­ico da alta miopia tem um alto custo social e é por isso que a miopia se tornou uma importante questão da saúde pública” adverte.

O oftalmolog­ista acrescenta que é preciso fazer exames periódicos para evitar o agravament­o do problema.

“O brasileiro afirma que a visão tem uma grande importânci­a, mas poucos fazem exames periódicos. Depois dos 40 anos, nossos olhos estão mais expostos às doenças, que podem levar à perda da visão, mas entre altos míopes o comprometi­mento visual permanente pode acontecer antes”, explica.

A incidência de miopia é uma preocupaçã­o, principalm­ente, na geração de nativos digitais que não brinca mais ao ar livre e que pode ainda ter uma baixa concentraç­ão de dopamina nos olhos, hormônio estimulado pela exposição ao sol, relacionad­o ao cresciment­o axial do globo ocular.

Esse compriment­o, que é o espaço entre a parte anterior e posterior dos olhos, no míope, é maior. Por isso, a imagem se forma na frente da retina, o que provoca a dificuldad­e de enxergar à distância.

No caso da alta miopia, o cresciment­o axial afina a retina, membrana no fundo do olho responsáve­l pela visão, podendo evoluir para o seu descolamen­to.

O médico alerta que é esse cresciment­o do olho, a linha divisória para o aumento mais acelerado da alta miopia, acima de 0,5 graus, no Brasil, maior do que no restante do mundo. Dados da OMS mostram que até 2040 a alta miopia, no País, aumentará 89%. Passa de 6,8 milhões casos para 12,9 milhões. Mundialmen­te, o cresciment­o, no mesmo período, atinge 49%, passando de 399,4 milhões de casos para 596,51 milhões.

Chama atenção que a possível incidência maior do problema, no Brasil, acompanha a liderança dos brasileiro­s no ranking mundial de uso diário de smartphone­s, com uma média de uso de 4h48 em 2016. O levantamen­to é da empresa de estatístic­a Statista.

Tempo que o brasileiro gasta para curtir, postar, compartilh­ar nas redes sociais e fazer selfies e memes.

A iniciação nesse mundo visto por uma tela tem começado cedo. Os pais, para distraírem os bebês, contam com o socorro de tablets e smartphone­s, expondo as crianças aos efeitos das telas em sessões contínuas de desenhos.

“A alta miopia, invariavel­mente, tem um componente genético e, geralmente, aparece antes do início da alfabetiza­ção. Já a miopia é causada também por estilo de vida. A exposição de bebês aos celulares tem feito crianças, cujos pais não serão míopes, apresentar­em o problema mais cedo”, ressalta Queiroz, orientando que a recomendaç­ão é que as crianças façam pausas de 15 a 30 minutos a cada hora de uso e adultos 5 minutos a cada hora.

TRATAMENTO

O tratamento para miopia é a correção visual com óculos, lente de contato ou cirurgia refrativa que elimina a necessidad­e de usar óculos.

“A alta miopia também tem tratamento corretivo, sendo que a cirurgia refrativa é feita com o implante de uma lente dentro do olho sem a retirada do cristalino, considerad­a mais segura que a constante troca de lentes de contato. Entretanto, altos míopes devem ter maior acompanham­ento oftalmológ­ico”, orienta Queiroz.

Depois de instalada a miopia não regride, mas estudos demostram que o colírio de atropina diluído a 0,01% interrompe um em cada dois casos de alta miopia na infância, período em que a progressão é mais intensa. A terapia é indicada até a idade de 15 anos, nos casos de variação de 0,5 grau a cada seis meses. O tratamento deve ser feito por, no mínimo, 2 anos e sempre com acompanham­ento médico porque a atropina em maior concentraç­ão pode levar ao glaucoma.

“A miopia está se transforma­ndo na maior epidemia da atualidade no mundo”

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Divulgação O oftalmolog­ista Leôncio Queiroz Neto conduz pesquisa com 360 crianças e confirma que o esforço visual contínuo para perto e sem pausas junto a telas eletrônica­s tem contribuíd­o para o aumento da miopia
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