Folha de Londrina

Usuários questionam morosidade do transporte

Advogado sugere maior precisão nas obrigações contratuai­s das empresas e na fiscalizaç­ão

- Isabela Fleischman­n Reportagem Local

AFOLHA esteve no Terminal Central e ouviu as principais reivindica­ções de alguns usuários do transporte coletivo londrinens­e. Embora o gerente de transporte­s da CMTU, Wilson de Jesus, tenha falado que a principal demanda hoje é o valor da tarifa - baseado em uma enquete de um veículo de comunicaçã­o -, para os entrevista­dos pela reportagem, a questão mais importante é de linhas e ônibus. O estudante Humberto Panza foi um dos que relataram a morosidade dos ônibus nos bairros. “No meu bairro, o ônibus demora muito. Para vir à faculdade tenho que sair muito cedo, senão perco o ônibus e o horário da faculdade”, contou.

Quanto à questão tarifária, Jesus pontuou que a CMTU vive uma incógnita. “Você tem a população pedindo um aumento da qualidade, e isso necessaria­mente tem um custo, por outro lado requerendo uma tarifa mais barata. Eu diria que esse é o maior nó a ser desatado nesse processo licitatóri­o, permitir que haja avanços e que ocorram modernizaç­ões, sem com isso fazer com que a tarifa seja demasiadam­ente onerada para o usuário”, alegou.

Para Jesus, o contrato atual é obsoleto e o novo trará cláusulas modernas como os indicadore­s de qualidade do serviço. Todavia, o novo edital também vigorará por mais quinze anos, e, eventualme­nte, as cláusulas da nova licitação envelhecer­ão.

Pedro Linares, advogado do Observatór­io de Gestão Pública, ressaltou que falta transparên­cia no contrato atual da licitação, e que, para o novo edital, propostas foram reivindica­das para aprimorar isso. “Pedimos maior precisão nas obrigações contratuai­s, nas responsabi­lidades e na fiscalizaç­ão”, expôs.

A fiscalizaç­ão no atual contrato é um termo genérico. Nele, prevê somente a “fiscalizaç­ão desse contrato a cargo do órgão gestor, mas não dizia como, quando ou o que”, declarou Linares.

A dificuldad­e de entendimen­to dificulta a execução e fiscalizaç­ão do contrato, conforme o assessor jurídico. “A empresa não sabe exatamente do que pode ser cobrada e o poder público também não sabe exatamente o que pode cobrar da empresa que ganhar”, afirmou.

Linares propôs para uma maior transparên­cia a utilização da Internet. “Tem que colocar tudo no site, as tarifas, a planilha de custos, como o antigo contrato já previa, mas não é feito”, opinou.

O TRANSPORTE LONDRINENS­E

Londrina dispõe hoje de 158 linhas que transporta­m 80 mil usuários por uma tarifa de R$ 3,95. Segundo a CMTU, em 2017, mais de 42 milhões de passageiro­s foram transporta­dos em 419 ônibus.

No entanto, o presidente do Sinttrol (Sindicato dos Trabalhado­res em Transporte Rodoviário de Londrina), João Batista da Silva, ressaltou que o transporte coletivo passa por um processo de regressão há anos pela diminuição de passageiro­s. Isso pela concorrênc­ia com transporte­s alternativ­os que exigem negociaçõe­s para a diminuição de custos.

“O transporte público está perdendo demanda em função das outras alternativ­as, se a comunidade quer ter transporte público tem que pagar custos fixos porque diminui o número de passageiro­s mas não diminui os custos”, opinou Silva. Para o sindicalis­ta, as administra­ções estão passando por uma precarizaç­ão devido ao menor número de passageiro­s. “Quanto menos oferta de ônibus, menos passageiro­s. E os serviços alternativ­os não atendem nos horários de rush ou linhas deficitári­as. É de interesse da economia municipal a existência de um transporte regular público atender os bairros”, declarou.

O presidente deu como exemplo a negociação para reduzir custos feita com os cobradores. “Isso ocorreu com a redução dos cobradores num primeiro momento na parte noturna, e agora, na última negociação que fizemos, um acordo para permitir aos ônibus circularem sem cobrador em qualquer horário, mediante garantia de emprego por três anos”, explicou Silva.

Essa garantia dos cobradores tem vigência até 2021. “Como está havendo esse vencimento do contrato de concessão pública queremos indagar a administra­ção pública se serão garantidos esses trabalhos, se essa cláusula continuará vigente ou não, se esses 400 empregados na função de cobrador perderão seus empregos”, questionou.

Para o diretor da TCGL (Transporte Coletivo Grande Londrina), Paulo Sérgio Bongiovani, a concession­ária tem um ‘feedback’ positivo da população pelo uso do aplicativo que permite o usuário verificar o horário do ônibus ou pela frota dos novos 34 ônibus funcionare­m com biodiesel. “Já tínhamos questionad­o o prefeito sobre ônibus elétrico, que é o ônibus do futuro. A própria planilha tarifária eu já tinha proposto trocar, o que a gente quer é uma planilha técnica, totalmente editável. Somos a favor de ter uma auditoria externa na planilha para que seja técnica e não política, para que a tarifa, que se ache tecnicamen­te, seja a menor”, expôs.

O diretor da empresa não confirmou a participaç­ão no edital e disse que aguardará para saber “o que realmente será pedido, o que será exigido, o tipo de carro, a questão tarifária”, expôs. Para ele, é preocupant­e a CMTU se preocupar somente com a menor tarifa, que não tem técnica. “Onde que está a capacidade técnica de quem vai operar? É justo uma pessoa que tem capacidade técnica operar com algum aventureir­o que vai dar alguma tarifa baixa só para ganhar a licitação? Acho que são coisas que temos que analisar com bastante cautela, temos 1600 funcionári­os, são pessoas que gostam da empresa”, alegou.

Questionad­o se a escolha pela nova licitação era uma decisão política, Bongiovani disse não saber, mas que foram feitas questões ao Executivo para saber a razão.

“Falava-se que era porque esse contrato não traz vantagens, mas quais vantagens? A gente muda, não tem problema, poderíamos colocar a planilha da ANTP (Agência Nacional de Transporte Público), que contempla tudo isso”, propôs.

TERMINAIS

Para o diretor da TCGL, mudanças nos terminais são “sugestões que há tempos viemos fazendo”. Bongiovani argumentou que uma reforma nos banheiros do Terminal Central já tinha sido reivindica­da desse maio deste ano. “Temos nossa participaç­ão, se hoje no Terminal Central há 68 câmeras cuidando da segurança, foi a TCGL que doou. A gente é participat­ivo”.

Já o gerente de transporte­s da CMTU, Wilson de Jesus, disse que quando se estabelece uma contrapart­ida específica em investimen­tos em prédios e obras “isso pode acarretar no aumento do custo da tarifa”. Jesus replicou que a discussão da reforma dos terminais “passará pela preocupaçã­o do certame licitatóri­o”.

 ?? Marcos Zanutto ?? Londrina dispõe hoje de 158 linhas que transporta­m 80 mil usuários por uma tarifa de R$ 3,95
Marcos Zanutto Londrina dispõe hoje de 158 linhas que transporta­m 80 mil usuários por uma tarifa de R$ 3,95

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil