Jovens demais para desistir
Pessoas de 14 a 24 anos estão na faixa de maior índice de desocupação em um contexto de falta de fiscalização e visões distorcidas sobre trabalhadores com alto potencial de inovação, sem vícios e que retribuem a confiança com dose extra de engajamento
Os dois dígitos do percentual de pessoas que compõe a taxa de desocupação ou desemprego que assombram o mercado de trabalho brasileiro se acentuam quando o recorte fica entre quem nem entrou ou ainda está ingressando no universo do trabalho e que na avaliação da OIT (Organização Internacional do Trabalho) é a pior situação em 27 anos. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), na última divulgação, cravou 28,1% de desempregados entre 18 e 24 anos no primeiro trimestre de 2018, em uma realidade que aflige 13,1% do total daqueles que procuraram e não conseguem uma vaga no Brasil. Mesmo quando se leva em conta as oportunidades de trabalho para aprendizes, previstas na legislação, segundo a Superintendência Nacional de Operações do CIEE (Centro de Integração Empresa Escola), devido à falta de fiscalização do cumprimento da Lei da Aprendizagem, o percentual segue no patamar de 27% de desocupação, conforme o último dado apurado pela instituição junto ao IBOPE (Instituto Brasileiro de Opinião e Estatística).
Na semana passada, a Superintendência apresentou os índices operacionais do primeiro semestre, que evoluíram tanto no aumento de 11,7% na quantidade de aprendizes encaminhados pelo CIEE (de 33.273, entre janeiro e julho de 2017, para 37.178, entre janeiro e julho 2018), quanto de 9,6% de alta nos estagiários (de 129.293, 1º semestre de 2017, para 141.659, 1º semestre 2018) por conta de uma série de ações que o CIEE adotou no sentido de de sensibilizar e mostrar ao contratante as vantagens de trazer essa força de trabalho para a organização. “Somos uma sociedade civil organizada sem fins lucrativos e totalmente independente de qualquer órgão governamental ou empresarial, nossa receita vem em grande parte da administração dos contratos entre empresa, escola e estagiário. Trabalhar pela evolução das contratações de estagiários integra nossas estratégias para seguir adiante nesses 54 anos de história”, esclarece o superintendente geral do CIEE, Humberto Casagrande Neto. No conjunto de ações nesse sentido, o CIEE reformulou o portal, com SEO e ferramentas responsivas e colaborativas, e apresentará uma agenda positiva (veja o quadro) para apresentar aos candidatos ao pleito deste ano questões que impactam profundamente no universo do trabalho das pessoas de 14 a 24 anos. “Teríamos 1 milhão de aprendizes, se todos cumprissem a lei, mas, na prática, há somente 370 mil em todo o país, ou seja, apenas 37% cumprem a única legislação que olha para o jovem no mundo do trabalho”, apontou Neto.
GANHA-GANHA
Mais do que obrigações legais, o superintendente geral do CIEE entende que os números positivos de ampliação das vagas tem a ver com a uma evolução da mentalidade em torno da qualificação de aprendizes e estagiários. “Ao inserir o jovem no mundo do trabalho há um lado social que vai desde diminuir o alto índice de jovens que abandonam o Ensino Médio no Brasil como de melhorar os sistema produtivo, ajudando a ampliar a visão, o repertório e a qualificação da mão de obra que tem um nível de engajamento fortalecido com quem confere a primeira oportunidade”, argumenta Neto. “Qualificar o mercado é a palavra de ordem dentro da visão e do estágio de amadurecimento das empresas que nos procuram para o preenchimento de vagas. Houve um amadurecimento sobre o entendimento dessa fase de aprendizado na qual se prevalece o ganha-ganha com o estagiário trazendo a atualização do que está sendo tratado na sua formação acadêmica para dentro da empresa que devolve com a vivência daquela profissão”, comemora o presidente da Rede Abre, Fer- nando Linschoten. Com sede em Maringá e presente em 17 estados, por meio de 34 unidades incluindo as cidades paranaenses de Londrina, Curitiba e Ibaiti, a empresa é considerada a maior rede privada especializada no recrutamento e seleção de jovens entre 16 e 30 anos. Com quase duas décadas de atuação no segmento, Linschoten afirma que mesmo em um cenário de incerteza, o empresariado tem diferenciado vagas profissionais daquelas de estágio. “A empresa já entendeu que a substituição de mão de obra de um profissional
por estagiário não dá resultado e reforçamos a orientação quando sentimos isso no processo de abertura de vaga, até porque a relação se extingue rápido ao contratar alguém que não está pronto para atender aquilo que se demanda do profissional da área”, ressalta. Mesmo em um contexto de estagnação, só no Paraná, a Abre conduziu o processo de seleção de 1.236 vagas de empresas privadas de janeiro a junho deste ano, avaliando 9,7 mil candidatos e encaminhando para entrevistas às empresas interessadas outros 4,3 mil, com um tempo de preenchimento de vaga da abertura à seleção variando entre 15 e 20 dias. “Estamos explorando outras demandas de setores que não costumavam abrir para estagiários como a Gastronomia. Mas apesar de tantas transformações, vejo que o mercado é bastante tradicional ao valorizar princípios como comprometimento de quem se habilita à vaga, assim como a forma de se preencher o currículo no cadastramento online, que, para empresas especializadas, é um filtro importante no processo seletivo”, instrui.