Folha de Londrina

MANIFESTAÇ­ÃO -

Londrinens­es protestam contra possível restrição de consumo de álcool em espaços públicos; para alguns isso gera ‘segregação’

- Isabela Fleischman­n Reportagem Local

A Marcha da Cachaça reuniu cerca de 200 pessoas, ontem, na rotatória das avenidas JK e Higienópol­is, em protesto contra a lei que proíbe o consumo de bebidas alcoólicas nas vias públicas das 22h às 8h em Londrina.

Obaiano autor da marchinha de carnaval “se você pensa que cachaça é água”, Marinósio Trigueiros Filho, viveu em Londrina no início da década de 1940. Foi com sambas referentes ao álcool como este que aproximada­mente 200 londrinens­es – segundo estimativa­s otimistas dos organizado­res - caminharam neste domingo (29), na primeira “Marcha da Cachaça” da cidade.

Uma legião de jovens com latões de cerveja se reuniu na rotatória da avenida Higienópol­is em protesto à lei que proíbe o consumo de bebidas alcoólicas nas vias públicas das 22h às 8h, já aprovada pela Câmara dos Vereadores.

O nome do evento é uma referência à Revolta da Cachaça, em 1660, quando o Brasil, ainda colônia, sofreu com o aumento dos impostos cobrados em cima do produto pela metrópole portuguesa. Dessa vez, a revolta é outra e foi organizada na rede social. Se vigorar a nova lei, além da restrição de beber em vias públicas à noite, também ficará proibida a ingestão de álcool durante o dia, nas proximidad­es de escolas. A norma ainda não foi sancionada porque aguarda o parecer jurídico da Procura- doria Geral do Município, o que deve acontecer nos próximos dias.

No meio da massa, o professor Emílio Colman, 29, anuncia a faceta proibida de um mercado legalizado. “É uma pauta liberal, ocupar o espaço público. É um direito consumir a droga lícita que é o álcool. Falta noção de urbanidade para os vereadores”, disse.

Com um carro de som que garantiu unidade à massa aglomerada remendando funks, coube aos manifestan­tes a dança, como se a rotatória das avenidas JK e Higienópol­is fosse uma “balada ao ar livre”.

Houve quem fechasse a cara ao ver os jovens, parte trôpegos, caminharem pelo centro. Segundo os moradores da avenida Higienópol­is, quem frequenta o local para beber costuma fazer muito baralho e deixar lixo espalhado.

Outro complicado­r da norma, conforme Gilberto Vasconcell­os Junior, que gere o evento, seria a segregação da periferia. A lei impediria a população de ocupar os espaços públicos no centro da cidade e forçaria beber somente em locais fechados como bares e boates.

“Sabemos que a queixa inicial dos moradores de certas regiões é sobre excesso de barulho e descarte incorreto de latas e garrafas. Sabemos também que já existem leis que proíbam os excessos. Por que não se faz cumprir essas leis já existentes?”, questionou. “Nós londrinens­es, que vivemos a cidade e ousamos ocupar suas ruas, calçadas e praças nos manifestam­os (e beber em via pública também é uma manifestaç­ão), estamos diante de um atentado ao direito de ir e vir e beber onde quisermos”, diz o panfleto da marcha.

Os organizado­res do evento se apoiam na inconstitu­cionalidad­e do projeto de lei, determinad­a pelo TJ-PR (Tribunal de Justiça do Paraná) em Cascavel (Norte). Para Vasconcell­os, a lei não é educativa, mas punitiva, já que a multa para quem for flagrado bebendo na rua será de R$ 500. A norma também “sobrecarre­garia as forças de segurança na fiscalizaç­ão, em detrimento do combate ao crime organizado e cuidado com patrimônio público”, opinou.

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Gustavo Carneiro
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Fotos: Gustavo Carneiro Cerca de 200 pessoas marcharam na avenida Higienópol­is defendendo o direito de beber em vias públicas, elas criticaram ações de repressão e a possível sanção da “lei seca” em Londrina
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Para Gilberto Vasconcell­os Junior,organizado­r da Marcha, “a lei não é educativa, mas punitiva”

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