Para analista, discursos separatistas se baseiam em premissas ‘falaciosas’
Curitiba -
O professor de ética e política da UEL (Universidade Estadual de Londrina (UEL), Bianco Zalmora Garcia, lembrou que não é de hoje que grupos separatistas como “O Sul é meu País” buscam estabelecer suas bandeiras. Entretanto, acontecimentos recentes, como o referendo da Catalunha pela independência da Espanha, acabaram trazendo a questão novamente à tona. “Eles [organizadores] se aproveitaram do impacto do movimento espanhol e se empolgaram. Mas é algo que vem e volta, baseado em um argumento econômico e também num preconceito social”, opinou.
Garcia se referia principalmente aos discursos proferidos durante a campanha presidencial que culminou com a eleição de Dilma Rousseff (PT), em 2014. “Atribuíram aos nordestinos o fato de o PT se eleger. Colocaram o Nordeste como região atrasada, não só economicamente, mas culturalmente, o que é totalmente equivocado. Pode fazer uma pesquisa em quem defende [o Sul independente]. São segmentos minoritários, ultraconservadores, e que se aproveitam de uma percepção imediata, para fazer um discurso falacioso, de que os problemas que atingem o Sul decorrem de sua inserção no Brasil.”
De acordo com o professor, apesar do nosso sistema federativo ser “problemático” em termos de estrutura e representação política, um plebiscito como o de hoje não se justifica. Ele afirmou, inclusive, que não tem sentido aplaudir os catalães e repudiar o que acontece no Brasil. “Esquecem que os pressupostos são semelhantes, claro que ressalvadas as diferenças culturais e o tipo de preconceito que envolve. Mas lá [a questão] foi alavancada por um movimento nacionalista que vem crescendo na Europa e nos Estados Unidos. Alegam que os problemas econômicos, como o desemprego, foram causados por estrangeiros.”
Embora não veja possibilidade de a separação de fato ocorrer, Bianco Zalmora Garcia falou que ela tem um impacto negativo. “De um lado, temos uma falha grave na configuração do nosso sistema federativo e, de outro, um deficit de representatividade, que acaba criando um caldo favorável para esses grupos. A população sente os efeitos imediatos da crise (…) Agora, o remédio não é por aí. Quem protagoniza sabe que [o referendo] não vai ter efeito imediato. Porém, cria ruídos, e ruídos criam pautas, como já vimos no caso da arte, com aquelas visões moralistas. Há interesses de poder; gente esperando ‘surfar’ nessa onda, ainda mais em época de eleições.”
(M.F.R.)