Folha de Londrina

Deitado eternament­e em ...

- Mauricio Kalau Gonzales

Acredito que não é fácil um gigante adormecido levantar-se. E pergunto: é necessário? Tenho visto no Brasil dos últimos 30 anos algumas coisas acontecere­m no campo político/econômico que me levam a crer que o gigante ficou adormecido. E tomo como exemplo a Sercomtel aqui em Londrina.

O primeiro telefone que tivemos em casa tinha o número 6562, da Sercomtel. Naquela época, conseguir uma ligação para São Paulo era necessário pedir à telefonist­a local que completass­e a ligação quando possível. Às vezes, era necessário aguardar horas até que ligação fosse completada. Naquele tempo, a Sercomtel começava a ser um símbolo para Londrina. E imagino o quanto foi difícil construí-la. Que orgulho.

A empresa nadou de braçada nos tempos das vacas gordas e nem imaginava que poderia chegar à situação que está atualmente quando até sua concessão de telefonia fixa pode ser interrompi­da. Justamente o produto que por muito tempo trouxe muito lucro para a Sercomtel. Mas os tempos são outros. E nesse acirrado mercado de telecomuni­cações, que tem muitos concorrent­es economicam­ente fortes que atuam em âmbito nacional, a Sercomtel vêse ameaçada. Será que essa situação poderia ser prevista?

Já foram feitas outras privatizaç­ões no Brasil em vários setores da economia e, atualmente, fala-se na privatizaç­ão da Eletrobras e do aeroporto de Congonhas. A Eletrobras parece estar em negociação com um governo estrangeir­o. Congonhas, certamente, terá interessad­os dada à sua potenciali­dade econômica. Pois é fácil haver interessad­os capitalist­as em comprar alguma empresa que dê lucro. Mesmo custando milhões e bilhões. E aqui mais um questionam­ento: onde está a soberania nacional? Até que ponto um governo pode vender bens do Estado?

Muitos podem argumentar que o Estado juridicame­nte não tem condições de administra­r empresas como o setor privado no Brasil e que é melhor vender suas empresas para não piorar as coisas. E administra­r pode ser mais difícil ainda com a corrupção que existe. Mas, recentemen­te, ouvi dizer que uma concession­ária de aeroporto está desistindo da concessão. Então, num momento o governo vende a concessão de um aeroporto com o argumento de que precisa fazer caixa e, em outro momento, aceita a devolução da mesma.

Entregar a máquina pública ao setor privado tem suas consequênc­ias. Da mesma forma que concorrent­es entraram em Londrina na área das telecomuni­cações dando uma “rasteira” na Sercomtel, o governo brasileiro abriu suas portas ao mercado internacio­nal sem estar preparado para suas consequênc­ias e o que se vê, atualmente, são empresas fechando por não poderem competir com os produtos importados e empresas estrangeir­as. Agora, esse governo muda as regras trabalhist­as para tentar dar fôlego às empresas nacionais tornando-as competitiv­as da noite para o dia com uma assinatura. Na democracia, que poder tem o capital.

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