AVENIDA PARANÁ
Como dizia um cientista, não sou grande — apenas estou no ombro de gigantes
Pai, mãe... Como eu queria que vocês estivessem aqui! Hoje vou receber o título de cidadão honorário de Londrina. Saibam que, depois de Deus, vocês são os maiores responsáveis por essa conquista — modesta, mas muito significativa para mim. Sem vocês, eu não seria nada.
Quando nasci, vocês me deram o nome de Paulo, que significa pequeno. É isso que sou. Não pensem, meus amados, que me sinto grande ou importante ao receber esse título. Grandes e importantes foram as instituições que me ajudaram a chegar até aqui, entre elas o jornal em que escrevo estas palavras agora. Grandes e importantes foram os amigos e colegas que me ensinaram tantas coisas. Grandes e importantes foram os pioneiros, cujo dia acaba de ser comemorado (fiz questão de receber a cidadania logo após o Dia do Pioneiro, 21 de agosto). Grandes e importantes são meus mestres, como Olavo de Carvalho e Bento 16. Grandes importantes são meus santos, como Madre Leônia e Dom Albano. Grandes e importantes são vocês. Como dizia um velho cientista, não sou grande — apenas estou no ombro de gigantes.
Peço licença a vocês, meus pais, e a vocês, meus sete leitores, para me tornar o menor dos londrinenses. Aquele que tem menos títulos, menos diplomas, menos experiências, menos riquezas, menos recursos, menos méritos. Aquele que só possui, nas mãos e no coração, nos olhos e nos ouvidos, no corpo e na alma, um amor misterioso e incondicional por esta cidade que tão bem o acolheu, um amor que todos os dias tenta transformar em verbo, numa desajeitada alquimia de palavras.
Mãe, você me ensinou que durante o período Cretáceo o planeta Terra possuía apenas um continente: a Pangeia. Dele surgiram todos os continentes atuais. Após 130 milhões de anos, uma cidade chamada Londrina realizou dentro de si uma nova Pangeia, unindo pessoas que vieram de diversas partes do mundo — muitas vezes fugindo de ditaduras — para criar uma civilização no Sertão. Dos movimentos tectônicos que causaram a separação dos continentes, houve o derrame de lavas vulcânicas que formaram o latossolo, ou terra vermelha, um dos solos mais férteis do planeta. O latossolo foi como um pranto do imenso continente que se separava. Nós somos o sorriso. O sorriso da Pangeia.
Na terra de Londrina os pioneiros plantaram café, mas também semearam a fé. Quando contemplo a foto da missa na floresta, em 1934, penso que Londrina é nada menos que uma antecâmara do lugar em que vocês, meus amados pais, estão agora. Sim, Londrina é um ensaio do Céu.
Aqui eu conheci a mulher da vida. Aqui nasceu meu filho. Aqui escrevi meus livros. Aqui eu fiz sete amigos leitores — e espero encontrar todos eles hoje à noite, na Câmara.
Peço licença para me tornar o menor dos londrinenses