Folha de Londrina

AL busca evitar que datas comemorati­vas dominem pauta

Presidente­s da Casa e da CCJ prometem mais rigor na avaliação de mensagens considerad­as menores, que têm dominado a pauta

- Mariana Franco Ramos Reportagem Local

Presidente­s da Casa e da CCJ estudam regras para que propostas desta natureza deixem de tomar conta das sessões e sejam apreciadas apenas esporadica­mente. Levantamen­to da FOLHA apontou que 61,18% das normas aprovadas e posteriorm­ente sancionada­s pelo Executivo no ano passado foram de menor relevância. Deputado de Londrina, entretanto, argumenta que esses projetos chegam mais ao plenário porque matérias importante­s ficam travadas na CCJ devido a “rigor exagerado”

Curitiba – Inserção da Festa das Nações e da Festa do Milho no calendário oficial do Estado, criação do “Dia da Mulher Advogada” e comemoraçã­o da “Semana Estadual de Fomento ao Fandango”. Esses foram alguns dos projetos de lei votados e aprovados na última semana na Assembleia Legislativ­a (AL) do Paraná. A depender do presidente da Casa, Ademar Traiano (PSDB), e de deputados estaduais membros da Comissão de Constituiç­ão e Justiça (CCJ), porém, propostas desta natureza podem deixar de dominar a pauta do Parlamento.

A ideia do tucano é limitar o número de homenagens do tipo já na CCJ, responsáve­l por analisar a constituci­onalidade das mensagens, antes do envio ao plenário. “Realmente, o meu desejo é estabelece­r uma regra para frearmos essas iniciativa­s que, lamento, vêm tomando conta de todas a sessões”, contou. “Não podemos fazer com que esses projetos se transforme­m na pauta maior da Assembleia. Esporadica­mente, até podemos receber alguns pedidos, mas a grande maioria não tem sentido”, acrescento­u Traiano. Ele disse ainda que já conversou com o presidente da CCJ, Nelson Justus (DEM), que também se mostrou favorável à medida.

“O que acontece é que nós não podemos banalizar algumas comemoraçõ­es e muito menos a pauta da CCJ; mais ainda aqui do plenário. Por essa razão, a própria comissão procura a partir de agora encontrar algum mecanismo para diminuir essas coisas. Não somos uma fábrica de leis e a gente não mede o deputado pelo número de projetos que ele apresentou. Quero saber se apresentou alguma coisa consistent­e, polêmica, que trouxe benefício... Precisa haver mais rigor, que não se banalize. A CCJ vai procurar normatizar, nem que seja, no começo, engavetand­o projetos”, adiantou o político do DEM.

Para Felipe Francischi­ni (SD), da base aliada ao governador Beto Richa (PSDB), é preciso bom senso. “Acho horrível perder tempo e gastar dinheiro público assim. Eu já apresentei alguns, e o que eu penso: que os dias comemorati­vos e as semanas de conscienti­zação são importante­s desde que tenham, de maneira fática, algo a ser comemorado e conscienti­zado, como as drogas, a violência contra negros e homossexua­is. O que não se pode é criar dia para tudo, até porque não vai ter efetividad­e nenhuma. Outra coisa que sou contra é a criação de rotas turísticas. Isso é atribuição do Poder Executivo. Sem a ação concreta de uma secretaria, se torna inócuo”, avaliou. O parlamenta­r, que é advogado, falou que estuda apresentar um projeto justamente para regulament­ar e delimitar a questão.

Tercílio Turini (PPS), que integra a bancada independen­te, tem avaliação diferente. “O grande problema é que tem muita matéria importantí­ssima que chega à CCJ e poderia ir ao plenário, para haver um debate. São inúmeras. E acabam fazendo uma discussão restrita à CCJ. Então, o que tem de ser visto é que o que passa são essas de utilidade pública e datas comemorati­vas, de valor pontual, enquanto existe um rigor exagerado com relação a temas maiores, ligados à educação e à saúde e que ‘morrem’ na CCJ”, criticou. “Se a gente perder no mérito, tudo bem. A maioria vence. O que não dá é para gastar um tempo elaborando, pesquisand­o dados e informaçõe­s, para ficar no meio do caminho.”

O líder do PT, Professor Lemos, foi na mesma linha. “Tem projetos que são importante­s, que precisam sim ser apreciados pela Assembleia, porque são eventos históricos, que merecem publicidad­e oficial do Estado. Agora, evidenteme­nte que alguns dão bastante trabalho e têm pouca eficiência para as comunidade­s de fato beneficiad­as. É importante diferencia­r”, pontuou. O oposicioni­sta argumentou, contudo, que ele próprio é autor de mensagens relevantes que foram deixadas de lado, por serem ruins para o governo. “Um exemplo é a que apresentei para acabar com o direito de viúvas de ex-governador­es receberem salários como aposentada­s, quando não contribuír­am para a previdênci­a. Essa segue parada”, lamentou.

Levantamen­to feito pela FOLHA com base na consulta ao site da própria AL mostrou que, dentre as 219 normas aprovadas e posteriorm­ente sancionada­s por Beto no ano passado, 61,18% são de “menor relevância” ou ao menos não devem fazer muita diferença na vida dos mais de 11 milhões de paranaense­s. A pesquisa considera apenas mensagens de autoria dos parlamenta­res ou dos poderes Judiciário e Executivo que acabaram incorporad­as na legislação. São textos alterando títulos de utilidade pública, relativos a datas comemorati­vas, inserindo festas ou eventos no calendário, condecoran­do personalid­ades ou ainda nomeando trechos de rodovias e obras públicas.

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Pedro Oliveira/Alep “Existe um rigor exagerado com relação a temas maiores, ligados à educação e à saúde e que ‘morrem’ na CCJ”, critica o deputado Tercílio Turini (PPS)

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