Estado de Minas (Brazil)

NOVO EDITAL DA 381 É APROVADO PELA ANTT

Mais uma tentativa de privatizaç­ão da BR deve ser feita este ano. Documento confirma retirada de obrigações da concession­ária e a duplicação pelo governo do trecho até Caeté

- BERNARDO ESTILLAC

O novo edital de concessão da BR-381 foi aprovado em reunião extraordin­ária da Agência Nacional de Transporte­s Terrestres (ANTT) no início da tarde de ontem. O trecho de cerca de 300 quilômetro­s entre Caeté e Governador Valadares deve ter nova tentativa de repasse à iniciativa privada ainda neste ano. O projeto agora será analisado pelo Ministério dos Transporte­s e o Tribunal de Contas da União (TCU). O documento confirma os anúncios feitos pelo governo federal no início de fevereiro e remove dois lotes da rodovia, tirando da eventual concession­ária a responsabi­lidade por duplicar e reassentar famílias dos arredores da estrada no gargalo da saída e chegada a Belo Horizonte.

Em novembro do ano passado, o governo federal fez a terceira tentativa frustrada de conceder a administra­ção da ‘Rodovia da Morte’. Assim como nas duas oportunida­des anteriores, o leilão terminou sem empresas interessad­as. As concession­árias alegavam que o terreno acidentado por todo a extensão da estrada e os riscos jurídicos atrelados à necessidad­e de remoção de famílias que vivem às margens da via tornavam a exploração comercial da concessão inviável.

A retirada dos lotes nos arredores da capital foi o primeiro aceno para as concession­árias, anunciado durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a Belo Horizonte em 8 de fevereiro. Na ocasião, o ministro dos Transporte­s, Renan Filho (MDB-AL), tratou sobre o interesse do governo em aliviar a situação das eventuais concession­árias.

“A iniciativa privada fez algumas ponderaçõe­s, quem é mineiro sabe que o risco não pode ser todo transferid­o para o privado naquela rodovia. Por quê? Porque o sujeito vai lá e faz a obra, aí depois vem uma chuva muito forte e a rodovia cede. Como a iniciativa privada vai assumir sozinha a obrigação de fazer aquele trecho novamente? Porque, obviamente, o recurso privado tem que ter uma lógica de retorno”, disse o ministro em entrevista coletiva.

De acordo com a ANTT, o novo edital traz mecanismos que delegam atribuiçõe­s ao governo federal na administra­ção da estrada e aumentam a atrativida­de econômica para as concession­árias. Em pronunciam­ento, o diretor-geral da agência, Guilherme Theo Sampaio, falou sobre as medidas, mas não detalhou como será proposto o compartilh­amento de responsabi­lidades entre Poder Público e iniciativa privada.

“Do ponto de vista regulatóri­o, para trazer maior atrativida­de, melhoramos a taxa interna de retorno do projeto, uma necessidad­e apontada pelo mercado. Além disso há os pontos de risco, que são o próprio reassentam­ento que passa a ser executado pelo governo federal, e também o risco geológico, onde trazemos um compartilh­amento moderno avançado que vai mitigar os riscos e trazer uma integração entre poder concedente e concession­ária”, afirmou Sampaio.

A reportagem solicitou um detalhamen­to da melhoria na taxa interna de retorno à concession­ária e dos termos do compartilh­amento do risco geológico. Até o fechamento desta edição, não houve resposta por parte da ANTT.

Segundo a ANTT, o investimen­to previsto no trecho é de R$ 9,25 bilhões. O edital aprovado na agência ainda aponta que a concessão tem potencial de gerar aproximada­mente 73 mil empregos diretos e indiretos. As obras incluem 27,83 quilômetro­s de duplicação para obras remanescen­tes, 85 quilômetro­s de duplicação para obras de ampliação de capacidade, 40,6 quilômetro­s de faixas adicionais duplas e 42,1 quilômetro­s de faixas adicionais simples. Além disso, o projeto conta com obras de melhoria, como 9,7 quilômetro­s de vias marginais de duas faixas, 20 passarelas, 166 pontos de ônibus e 1 rampa de escape.

A expectativ­a da agência é de que o TCU devolva o edital à ANTT ainda em abril com as observaçõe­s necessária­s para a elaboração do documento final apresentad­o às concession­árias. O novo leilão está previsto para o último trimestre do ano.

NOVELA

Com leilões desertos em 2013, 2022 e 2023, a concessão da BR-381 foi malograda em diferentes formatos, incluindo também versões em que a estrada foi oferecida para administra­ção da iniciativa privada junto da BR-262. A versão apresentad­a no edital atual, porém, é a mais disruptiva e fomenta o otimismo do governo federal e de grupos que trabalham pela duplicação da estrada há décadas.

Desde que o último leilão terminou sem interessad­os no último mês de novembro, o Movimento Pró-vidas BR-381, formado por ativistas, empresas e prefeitos das cidades cortadas pela estrada, fez diferentes incursões à Brasília para discutir alterações no edital de concessão com membros da ANTT, do Ministério dos Transporte­s, do TCU e do Departamen­to Nacional de Infraestru­tura de Transporte­s (DNIT).

O grupo levou à capital federal demandas antigas de quem milita por obras de melhorias na estrada. Entre as pautas estavam justamente a determinaç­ão da responsabi­lidade do governo federal pelo reassentam­ento de famílias e duplicação do gargalo da chegada a BH e o estabeleci­mento de medidas de compartilh­amento de risco geológico entre o Poder Público e a concession­ária para as obras no restante da estrada. ■

Brasília – O presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD), declarou ontem que a renegociaç­ão da dívida de cerca de R$ 160 bilhões de Minas Gerais com a União vai servir de exemplo para os demais estados. Nos próximos dias, ele pretende se reunir com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), para definir um prazo para o posicionam­ento do governo federal. “Talvez seja a questão mais relevante e mais preocupant­e da Federação brasileira, que é referente às dívidas dos estados com a União. Dívidas muitas vezes impagáveis, de valores estratosfé­ricos. Todos sabem que Minas é um desses estados absolutame­nte endividado­s”, disse o parlamenta­r.

Para apresentar o plano alternativ­o ao Regime de Recuperaçã­o Fiscal (RFF) apresentad­o à Assembleia Legislativ­a pelo governador Romeu Zema, Rodrigo Pacheco recebeu, em Brasília, os governador­es do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB); do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL); e de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republican­os). O senador afirmou que tem como prioridade a criação de um programa federal que incentive o pagamento das dívidas por meio de uma adequação das indexações dos débitos.

“Ao resolver esse problema, nós estamos resolvendo o problema de estados como São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Goiás, que naturalmen­te voltarão a ter a sua capacidade de investimen­to para o bem da população nesses estados”, declarou o presidente do Senado. Segundo ele, o formato atual de cobrança dos débitos in

“Talvez seja a questão mais relevante e mais preocupant­e da Federação brasileira, que é referente às dívidas dos estados com a União. Dívidas muitas vezes impagáveis, de valores estratosfé­ricos”

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Rodrigo Pacheco (PSD-MG) Presidente do Senado

viabiliza o pagamento das dívidas, pois elas vêm aumentando ao longo dos anos. “(Isto acontece) em função de uma indexação do IPCA, mais 4%, limitada à Selic, mais a correção monetária que, de fato, faz com que essas dívidas tenham grande dificuldad­e em serem adimplidas”, explicou.

Fernando Haddad antecipou ao governador de São Paulo, em reunião na quartafeir­a, que o governo federal deve aceitar nova renegociaç­ão da dívida da União com os estados. A ideia é apresentar o texto aos governador­es do Sul e Sudeste – os maiores interessad­os no acordo – em reunião que deve ser marcada na próxima semana. O ministro se compromete­u a conversar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a proposta que o Tesouro montou para enviar o projeto de lei complement­ar da renegociaç­ão ao Congresso ainda no primeiro semestre deste ano.

“O ministro Haddad colocou que a ideia dele é fazer uma apresentaç­ão já na semana que vem para o presidente da República. A partir do ok, do aval do presidente, ele chamaria os estados então para conversar, para tentar fazer o acordo, ajustar o que tem que ajustar num período de 60 dias”, declarou Tarcísio de Freitas na saída do encontro.

PROPOSTA

A proposta a que se refere o senador Rodrigo Pacheco defende a federaliza­ção das empresas estatais como a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) e a Companhia de Desenvolvi­mento Econômico de Minas Gerais. Usando as participaç­ões acionárias como título de pagamento da dívida, quantifica­ndo e valorizand­o as empresas de forma justa e nunca com valor inferior ao mercado. O contrato também deve prever uma cláusula de recompra por Minas em até 20 anos.

Também está na proposta a cessão dos direitos creditório­s da ação judicial movida em face das empresas mineradora­s envolvidas nos rompimento­s de barragens de Mariana e Brumadinho para a União, consideran­do que causaram significat­ivos danos ao estado. O acordo ainda prevê a aplicação da integralid­ade dos recursos pela União no âmbito de Minas Gerais e seus municípios.

Outro item da proposta de Pacheco é a antecipaçã­o de créditos de Minas Gerais junto à União, em razão do acordo de compensaçã­o de perdas financeira­s decorrente­s da Lei Kandir, celebrado na Ação Direta de Inconstitu­cionalidad­e por Omissão (ADO) 25, relatada pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

E ainda a instituiçã­o de um novo programa de pleno pagamento das dívidas dos estados, um novo Refis para os estados, concebido pelo governo federal e pelo Congresso Nacional, como uma regra geral para os entes federados devedores que tenham o evidente intuito de quitação do seu débito fiscal. ■

As mudanças climáticas extremas que vêm afetando o Brasil e Minas Gerais foram o foco do “Seminário Técnico Crise Climática em Minas Gerais – Desafios na Convivênci­a com a Seca e Chuva Extrema”, que se reuniu pela primeira vez na Assembleia Legislativ­a de Minas Gerais (ALMG) ontem. O evento contou com a presença de deputados estaduais, membros de universida­des, órgãos públicos e membros da sociedade civil. “Todo final de ano temos o mesmo problema de seca intensa, chuvas extremas afetando várias pessoas, produtores perdendo suas lavouras, gado morrendo, pessoas com falta d'água. Por outro lado, fortes chuvas desalojand­o centenas de pessoas", afirmou o presidente da Assembleia, Tadeu Martins Leite (MDB).

Os participan­tes vão analisar as políticas públicas existentes e sugerir melhorias ou novas para o enfrentame­nto da questão climática de forma duradoura nas reuniões on-line que começarão em 4 de abril. O novo seminário está marcado para 8 e 9 de agosto. A Assembleia também firmou parceria com o Parque Tecnológic­o de Belo Horizonte (BH-TEC) para fomentar startups que proponham soluções que possam prever, evitar ou minimizar os danos das mudanças de clima.

Tadeu Martins Leite afirmou ainda que espera que, depois do relatório, possa ser iniciada a parte prática das propostas. “Após o primeiro semestre, que vai ser em discussões dentro da Casa, nós teremos esse relatório para iniciar a parte prática do trabalho. Não só da parte legislativ­a, fiscalizaç­ão, mas também a ideia da inovação para que possamos amenizar o problema através da tecnologia”, declarou.

No fim do ano passado, mais de cem municípios mineiros entraram em estado de alerta após falta de chuvas regulares que durou quase um ano. A seca afetou mais de 300 mil produtores rurais do norte e nordeste do estado, segundo estudo realizado pela Empresa de Assistênci­a Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG). O clima extremo segue atingindo várias partes do Brasil. Uma bolha de calor, com temperatur­as que podem chegar até 45 graus, chegam ao Rio de Janeiro. A onda de calor, vinda do norte da Argentina e do Paraguai, deve afetar outras regiões do país.

FOTOS E VÍDEOS ESTÃO VETADOS

Desde terça-feira, está proibida na Assembleia Legislativ­a a realização de filmagens e gravações nas dependênci­as da Casa que mostrem qualquer tipo de conversa privada entre parlamenta­res ou terceiros. A medida, tomada pela Mesa Diretora, é justificad­a pelo uso indevido de imagens. “Embora as atividades do processo legislativ­o nas dependênci­as da Assembleia sejam atos públicos, o direito de filmagem e gravação nesses recintos não pode possibilit­ar o uso indevido ou exposição de imagens ou conversas particular­es de parlamenta­res ou terceiros”, diz o texto.

Nos bastidores, a ação visa inibir parlamenta­res adversário­s que utilizam vídeos e imagens para justificar ataques contra outros deputados. A mesma regra se aplica aos assessores, agora proibidos de filmar qualquer conversa que não seja pública. A preocupaçã­o dos parlamenta­res com os vídeos surgiu após um assessor do deputado Caporezzo (PL) filmar as deputadas Lohanna (PVMG), Bella Gonçalves (Psol) e Beatriz Cerqueira (PT) durante conversa privada, na qual as parlamenta­res discutiam as ameaças sofridas por apoiadores da extrema direita. As imagens foram publicadas nas redes sociais do deputado no ano passado, após uma discussão na Comissão de Direitos Humanos com a deputada Bella.

"Dizem, na verdade, falar é tão fácil que até papagaio sabe. Estou de acordo com a medida e com o bom trabalho realizado pela presidênci­a da ALMG”, afirmou Caporezzo ao Estado de Minas. Além das estranheza­s entre os parlamenta­res, de acordo com alguns servidores, outro motivo impulsiono­u a medida. Muitos candidatos que disputarão o deste ano estão indo à Assembleia fazer filmagens indevidas. Um grupo ligado à extrema direita vem registrand­o parlamenta­res e incentivan­do brigas, com o intuito de viralizar nas redes sociais.

Conforme a deliberaçã­o, as punições serão as seguintes: caso o deputado seja responsáve­l pela divulgação de alguma filmagem será configurad­o um ato incompatív­el com o decoro parlamenta­r. No caso de um servidor será motivada a instauraçã­o de procedimen­to disciplina­r. Para os visitantes, a conduta será considerad­a passível de restrição de acesso às dependênci­as da Assembleia Legislativ­a. ■

 ?? ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS ?? DUPLICAÇÃO DO TRECHO DA RODOVIA ENTRE BELO HORIZONTE E CAETÉ, SEGUNDO O EDITAL APROVADO ONTEM, SERÁ FEITA PELO GOVERNO FEDERAL
ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS DUPLICAÇÃO DO TRECHO DA RODOVIA ENTRE BELO HORIZONTE E CAETÉ, SEGUNDO O EDITAL APROVADO ONTEM, SERÁ FEITA PELO GOVERNO FEDERAL
 ?? PEDRO GONTIJO/AGÊNCIA SENADO - 7/12/23 ?? PACHECO E HADDAD, QUE SE ENCONTRARA­M EM DEZEMBRO, TÊM NOVA AGÊNCIA SOBRE A DÍVIDA
PEDRO GONTIJO/AGÊNCIA SENADO - 7/12/23 PACHECO E HADDAD, QUE SE ENCONTRARA­M EM DEZEMBRO, TÊM NOVA AGÊNCIA SOBRE A DÍVIDA
 ?? GUILHERME DARDANHAN/ALMG ?? O PRIMEIRO SEMINÁRIO SOBRE CRISE CLIMÁTICA FOI REALIZADO ONTEM NA ASSEMBLEIA LEGISLATIV­A. O PRÓXIMO ESTÁ AGENDADO PARA 8 E 9 DE AGOSTO E TAMBÉM SERÁ REALIZADO NO PARLAMENTO MINEIRO
GUILHERME DARDANHAN/ALMG O PRIMEIRO SEMINÁRIO SOBRE CRISE CLIMÁTICA FOI REALIZADO ONTEM NA ASSEMBLEIA LEGISLATIV­A. O PRÓXIMO ESTÁ AGENDADO PARA 8 E 9 DE AGOSTO E TAMBÉM SERÁ REALIZADO NO PARLAMENTO MINEIRO

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