Restauração de obras na Câmara pode levar 1 ano
Prejuízos com a destruição provocada por bolsonaristas devem custar aos cofres públicos R$ 3,5 milhões. Só o gasto com o tapete verde do Congresso chegará a R$ 921,5 mil
Arestauração de obras do acervo artístico destruídas na Câmara dos Deputados por golpistas na invasão de 8 de janeiro pode levar até 12 meses. O maior prejuízo será com um dos maiores símbolos da Casa: o carpete verde do principal salão de circulação do Congresso será substituído ao custo de R$ 921,5 mil. No total, a Câmara calcula prejuízos de cerca de R$ 3,5 milhões com a depredação, segundo levantamento das áreas técnicas da Casa. O valor inclui as estimativas com reparos, restaurações e também mensuração de danos irreversíveis.
É pelo salão verde, cuja denominação é inspirada na cor do carpete, que circulam parlamentares, membros da sociedade civil e jornalistas. O local é considerado um ícone da Câmara. Em 8 de janeiro, os vândalos inundaram o local e provocaram furos e danos por fogo no carpete. O processo para substituição já teve início, segundo o documento elaborado por técnicos da Câmara.
A umidade excessiva do carpete fez com que os técnicos da Câmara retirassem temporariamente do salão verde a obra “Muro escultórico”, de Athos Bulcão. A peça também foi danificada, com um grande furo na parte inferior, e precisará de restauração.
A Câmara contabilizou danos em 64 bens do acervo cultural da Casa, como pinturas, esculturas, presentes protocolares e painéis. Há casos de obras com menor impacto, que foram apenas sujas, e danos de maior relevo.
Somente o reparo desses itens tem uma estimativa de custo de R$ 1,4 milhão. A previsão de prazo para a finalização dos tratamentos levou em consideração trabalhos anteriormente realizados, “principalmente nos grandes painéis inseridos à arquitetura”, segundo a avaliação técnica.
“A compreensão dos atos enquanto fator de prejuízo passa pelo entendimento de que há valoração cultural e financeira sobre esses bens. A primeira, repleta de fatores simbólicos, se estrutura sobre os seguintes componentes de valores: histórico, social, técnico/científico, artístico/estético, de raridade e de procedência”, diz documento do Centro de Documentação e Informação da Câmara. “Já na esfera financeira, os componentes se referem ao valor econômico dos itens, conforme referências de mercado.”
MAIS VALIOSA A obra de maior valor atacada por golpistas foi a escultura “Maria, Maria”, uma peça em bronze da artista Sônia Ebling (1918-2006), avaliada em R$ 180 mil. A escultura foi amassada pelos vândalos. Ela já teve seu tratamento finalizado. A escultura “Bailarina”, de Victor Brecheret, foi manchada e teve parte da estrutura de apoio rompida. A obra, avaliada em R$ 70 mil, também foi tratada e aguarda polimento. Três vasos e um ovo de avestruz foram totalmente destruídos e têm restauração considerada improvável. Todas foram presentes de autoridades, como um vaso dado à Câmara pelo então presidente da Assembleia Nacional da Hungria em 2011.
Várias dessas peças atacadas estavam em exposição na Casa, próximo à passagem interna para o Senado. A peça “The pearl”, em ouro, pérola e couro, ainda está desaparecida: a obra foi presente em 2019 do ministro das Relações Exteriores do Qatar, Mohammed bin Abdulrahman Al-Thani, ao deputado Rodrigo Maia, então presidente da Câmara.
Também foram furtados 16 itens da Polícia Legislativa da Câmara. São capacetes, escudos e máscaras de proteção contra gases. Dois carros Nissan Frontier foram vandalizados, sendo um deles incendiado. No entanto, os automóveis, no valor total de R$ 238 mil, eram locados e há previsão de cobertura de todos os custos por conta de seguro. Dessa forma, dos R$ 3.556.509,14 de prejuízos apurados, ficará a cargo dos cofres públicos da Câmara o valor de R$ 3.318.098,42. Os valores também constam no documento.
BENS ATINGIDOS O rastro de destruição atingiu não apenas obras de arte e a estrutura da Câmara, mas também os locais de trabalho de parlamentares e assessores. A área técnica contabilizou 98 bens patrimoniais afetados, como mobiliário, computadores, aparelhos telefônicos e monitores de vídeo.
Imagens anexadas aos documentos mostram computadores e mesas cobertos de urina. Os vândalos ainda jogaram água em impressoras e colocaram fogo em centrais de cabeamento de internet e cadeiras.
Há menção a danos nos gabinetes das lideranças do PT, MDB e PSDB, com um total de 52 bens quebrados, esses de propriedade privada, das equipes que ali trabalham. A reposição por perda total de duas maquetes do complexo de edifícios da Câmara ainda aguarda decisão para restauração. A previsão é de um custo de R$ 100 mil.