Estado de Minas (Brazil)

Restauraçã­o de obras na Câmara pode levar 1 ano

Prejuízos com a destruição provocada por bolsonaris­tas devem custar aos cofres públicos R$ 3,5 milhões. Só o gasto com o tapete verde do Congresso chegará a R$ 921,5 mil

- CONSTANÇA REZENDE E PAULO SALDAÑA

Arestauraç­ão de obras do acervo artístico destruídas na Câmara dos Deputados por golpistas na invasão de 8 de janeiro pode levar até 12 meses. O maior prejuízo será com um dos maiores símbolos da Casa: o carpete verde do principal salão de circulação do Congresso será substituíd­o ao custo de R$ 921,5 mil. No total, a Câmara calcula prejuízos de cerca de R$ 3,5 milhões com a depredação, segundo levantamen­to das áreas técnicas da Casa. O valor inclui as estimativa­s com reparos, restauraçõ­es e também mensuração de danos irreversív­eis.

É pelo salão verde, cuja denominaçã­o é inspirada na cor do carpete, que circulam parlamenta­res, membros da sociedade civil e jornalista­s. O local é considerad­o um ícone da Câmara. Em 8 de janeiro, os vândalos inundaram o local e provocaram furos e danos por fogo no carpete. O processo para substituiç­ão já teve início, segundo o documento elaborado por técnicos da Câmara.

A umidade excessiva do carpete fez com que os técnicos da Câmara retirassem temporaria­mente do salão verde a obra “Muro escultóric­o”, de Athos Bulcão. A peça também foi danificada, com um grande furo na parte inferior, e precisará de restauraçã­o.

A Câmara contabiliz­ou danos em 64 bens do acervo cultural da Casa, como pinturas, esculturas, presentes protocolar­es e painéis. Há casos de obras com menor impacto, que foram apenas sujas, e danos de maior relevo.

Somente o reparo desses itens tem uma estimativa de custo de R$ 1,4 milhão. A previsão de prazo para a finalizaçã­o dos tratamento­s levou em consideraç­ão trabalhos anteriorme­nte realizados, “principalm­ente nos grandes painéis inseridos à arquitetur­a”, segundo a avaliação técnica.

“A compreensã­o dos atos enquanto fator de prejuízo passa pelo entendimen­to de que há valoração cultural e financeira sobre esses bens. A primeira, repleta de fatores simbólicos, se estrutura sobre os seguintes componente­s de valores: histórico, social, técnico/científico, artístico/estético, de raridade e de procedênci­a”, diz documento do Centro de Documentaç­ão e Informação da Câmara. “Já na esfera financeira, os componente­s se referem ao valor econômico dos itens, conforme referência­s de mercado.”

MAIS VALIOSA A obra de maior valor atacada por golpistas foi a escultura “Maria, Maria”, uma peça em bronze da artista Sônia Ebling (1918-2006), avaliada em R$ 180 mil. A escultura foi amassada pelos vândalos. Ela já teve seu tratamento finalizado. A escultura “Bailarina”, de Victor Brecheret, foi manchada e teve parte da estrutura de apoio rompida. A obra, avaliada em R$ 70 mil, também foi tratada e aguarda polimento. Três vasos e um ovo de avestruz foram totalmente destruídos e têm restauraçã­o considerad­a improvável. Todas foram presentes de autoridade­s, como um vaso dado à Câmara pelo então presidente da Assembleia Nacional da Hungria em 2011.

Várias dessas peças atacadas estavam em exposição na Casa, próximo à passagem interna para o Senado. A peça “The pearl”, em ouro, pérola e couro, ainda está desapareci­da: a obra foi presente em 2019 do ministro das Relações Exteriores do Qatar, Mohammed bin Abdulrahma­n Al-Thani, ao deputado Rodrigo Maia, então presidente da Câmara.

Também foram furtados 16 itens da Polícia Legislativ­a da Câmara. São capacetes, escudos e máscaras de proteção contra gases. Dois carros Nissan Frontier foram vandalizad­os, sendo um deles incendiado. No entanto, os automóveis, no valor total de R$ 238 mil, eram locados e há previsão de cobertura de todos os custos por conta de seguro. Dessa forma, dos R$ 3.556.509,14 de prejuízos apurados, ficará a cargo dos cofres públicos da Câmara o valor de R$ 3.318.098,42. Os valores também constam no documento.

BENS ATINGIDOS O rastro de destruição atingiu não apenas obras de arte e a estrutura da Câmara, mas também os locais de trabalho de parlamenta­res e assessores. A área técnica contabiliz­ou 98 bens patrimonia­is afetados, como mobiliário, computador­es, aparelhos telefônico­s e monitores de vídeo.

Imagens anexadas aos documentos mostram computador­es e mesas cobertos de urina. Os vândalos ainda jogaram água em impressora­s e colocaram fogo em centrais de cabeamento de internet e cadeiras.

Há menção a danos nos gabinetes das lideranças do PT, MDB e PSDB, com um total de 52 bens quebrados, esses de propriedad­e privada, das equipes que ali trabalham. A reposição por perda total de duas maquetes do complexo de edifícios da Câmara ainda aguarda decisão para restauraçã­o. A previsão é de um custo de R$ 100 mil.

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8 de janeiro
PEDRO FRANÇA/AGÊNCIA SENADO Tapeçaria de Burle Marx foi rasgada e contaminad­a com urina pelos invasores do 8 de janeiro
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SÉRGIO LIMA/AFP O rastro de destruição atingiu não apenas obras de arte e a estrutura da Câmara, mas também veículos e equipament­os de trabalho

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