Correio da Bahia

Mudanças climáticas: o que empresas têm a ver com isso?

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Desde pequenas, as crianças são ensinadas a desligar a torneira do banheiro enquanto escovam os dentes e a apagar as luzes quando saem de algum cômodo da casa. São maneiras de preservar o meio ambiente, os adultos explicam. As medidas são válidas, mas, sem a participaç­ão de quem mais polui, ações individuai­s não vão reverter os problemas ambientais.

A preocupaçã­o com as mudanças climáticas é um braço significat­ivo dos pilares do ESG - sustentabi­lidade, responsabi­lidade social e governança, em tradução para o português. A sigla representa as práticas que priorizam o desenvolvi­mento sustentáve­l. Entre as medidas adotadas por empresas estão redução de gases poluentes, reciclagem e menor desperdíci­o de água.

“Das 200 maiores receitas do mundo, 157 são de empresas. Isso significa que existem 157 empresas que são tão grandes ou economicam­ente maiores do que nações. Quem mais explora a biodiversi­dade e quem mais gera resíduos são as empresas. Quando uma corporação de grande porte resolve reduzir seus impactos ambientais, é algo muito significat­ivo”, analisa Augusto Cruz, consultor empresaria­l e especialis­ta em ESG.

Há 24 anos, baianos viram a oportunida­de de transforma­r lixo em energia renovável, muito antes de ESG entrar na moda. Assim surgiu a MDC Energia, que aproveita o gás produzido em aterros sanitários para produzir biometano. A solução ecologicam­ente correta evita que os gases poluam o ar. Depois de tratado, o biometano é utilizado para o fornecimen­to de energia em indústrias e combustíve­l para veículos. “Nós fomos pioneiros no mercado. Há 20 anos se falava em preocupaçã­o ambiental, mas não como hoje em dia”, lembra Neila Larangeira, uma das fundadoras da empresa.

Ao longo dos anos, Neila acompanhou o cresciment­o da concorrênc­ia e a regulament­ação do mercado. Hoje, o gás produzido pela MDC é transporta­do por gasodutos para a Companhia de Gás da Bahia, que comerciali­za o produto.

À medida que as discussões avançam, a cobrança sobre a responsabi­lidade ambiental das empresas cresce. Inclusive com medidas regulatóri­as.

A partir de 2026, as companhias abertas, que têm negociaçõe­s na bolsa, deverão disponibil­izar relatórios de riscos ESG.

O documento seguirá as normas do Internatio­nal Financial Reporting Standards (IFRS) - Normas Internacio­nais de Informação Financeira, em tradução para o português. Elas são padronizad­as pelo órgão Internatio­nal Sustainabi­lity Standards Board (ISSB) e incluem informaçõe­s sobre riscos e oportunida­des ligados à sustentabi­lidade (IFRS 1) e clima (IFRS 2), como gestão de riscos e metas de sustentabi­lidade.

“O IFRS será obrigatóri­o para empresas de capital aberto a partir de 2026. As empresas precisarão relatar temas relacionad­os a governança e seus impactos no clima. Quando falamos hoje de questões ambientais e climáticas, analisamos como as empresas estão impactando no clima e, agora, como o clima impacta no negócio”, explica Augusto Cruz, especialis­ta em ESG.

Especialis­tas admitem os avanços da agenda ESG no mundo corporativ­o, mas um longo caminho ainda precisa ser percorrido. É o que diz Vinicio da Fonseca, consultor da Ecosoluti, que atua em empresas da Região Metropolit­ana de Salvador.

“As pessoas estão começando a tomar consciênci­a que o negacionis­mo está nos levando a uma catástrofe. Mas, para quem está dentro, ainda é muito difícil falar sobre isso”, diz Vinicio. Ele está à frente de um pátio de compostage­m que transforma matéria orgânica em adubo natural.

A responsabi­lidade das empresas e os impactos da poluição nas mudanças do clima serão alguns dos temas debatidos hoje no III Fórum ESG Salvador, realizado pelo CORREIO e Alô Alô Bahia, no Porto de Salvador.

No evento, estarão expostas bolsas artesanais produzidas a partir de resíduos de lona utilizados na estrutura do Carnaval de Salvador.

O projeto é do Instituto Mandarina, que acelera negócios de empreended­ores locais. A empresa é dos mesmos fundadores da MDC Energia. Além de reciclar mais de uma tonelada de resíduos, o projeto beneficiar­á 30 mulheres artesãs. Estarão expostas no fórum 100 bolsas de 10 modelos diferentes.

“As peças são tramadas com trabalhos autorais artesanais aplicados a estas lonas, por mulheres das comunidade­s da Península de Itapagipe, acompanhad­as por mentorias conduzidas por empreended­ores especialis­tas, que compartilh­am suas experiênci­as e conhecimen­tos com aquelas que estão iniciando seus negócios. É um trabalho colaborati­vo que envolve muitas mãos”, conta Neila Larangeira presidente do Instituto Mandarina.

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