Hemoba sem estoque para a demanda
Saúde Aumento de 12% na procura por sangue na Bahia liga o alerta para a crise no hemocentro
Cerca de 31 mil hemocomponentes (produtos derivados do sangue) foram solicitados para a Fundação de Hematologia e Hemoterapia da Bahia (Hemoba) em janeiro e fevereiro de 2024, o que representa aumento de 12% em relação ao mesmo período de 2023, quando 27.683 solicitações foram registradas. Por conta dessa alta na demanda, o estoque dos tipos sanguíneos A-, A+, B+, O- e O+ é crítico.
Ainda não se sabe quais foram os principais fatores que influenciaram o crescimento de pedidos por hemocomponentes neste ano. No entanto, a diretora de Hemoterapia da Hemoba, Rivânia de Andrade, aponta como possíveis causas o aumento do número de transplantes de órgãos e medula óssea e a abertura de novas unidades de saúde que realizam procedimentos que exigem a transfusão de sangue.
“Acabou o Carnaval, voltamos à vida normal. Os pacientes estão sendo internados para fazer os seus procedimentos cirúrgicos e/ou transplantes. Em relação aos transplantes de medula óssea, nós temos o Hospital das Clínicas e o Hospital Martagão Gesteira, que são os grandes demandantes”, explica.
De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde (Sesab), 98 transplantes (de medula e órgãos) foram realizados na Bahia em janeiro deste ano, 54 a mais do que em janeiro de 2023. Ainda não há dados de fevereiro de 2024, mas no mesmo período em 2022, houve a notificação de 81 transplantes.
Outro fator que pode ter contribuído para o aumento da demanda foi a abertura de uma unidade de oncohematologia no Hospital Roberto Santos, em junho do ano passado. “Isso também aumenta a demanda. Pacientes oncohematológicos precisam receber transfusão, seja de sangue ou de plaquetas, que é um dos derivados que a gente tira da bolsa de sangue”, explica Rivânia de Andrade.
Novos serviços oferecidos em cidades do interior e em outras regiões do estado também contribuem para o crescimento da demanda. Em 2022, a cidade de Paulo Afonso, por exemplo, inaugurou o Hospital Núcleo Vida – Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon). Vale ressaltar que pacientes oncológicos precisam de suporte hematológico, realizado por meio da transfusão de sangue e plaquetas, para o tratamento contra o câncer.
Dentre as solicitações de hemocomponentes deste ano, cinco foram direcionadas para o tratamento de dengue: duas para o hospital de Simões Filho, na Região Metropolitana de Salvador, em janeiro, e três para o Hospital Couto Maia, na capital, em fevereiro.
COLETA INSUFICIENTE
Em média, a Bahia coleta entre 10 mil e 11.500 bolsas de sangue por mês, número considerado baixo para as demandas do estado. Segundo Rivânia de Andrade, o ideal seria coletar entre 12 mil e 13 mil mensalmente.
Com a alta demanda e em meio à epidemia de dengue, a Hemoba fica em alerta para casos mais graves da doença. “O estoque crítico que temos no momento não é exclusivamente por baixa coleta. Pelo contrário, estamos tendo número razoável de coletas, mas há um consumo muito elevado de hemocomponentes. Mas estamos preocupados porque diante de uma epidemiologia da dengue, a gente poderá ter um número maior de inaptidão, e em caso de uma crise epidêmica maior, pode haver o aumento do consumo”, alerta Luiz Catto, diretor-geral da Hemoba.
Para doar sangue, o voluntário deve estar em boas condições de saúde, ter entre 16 e 69 anos e pesar acima de 50kg. Menores de 18 devem ser acompanhados por pais ou responsáveis legais, e pessoas acima de 60 só podem doar se já tiverem doado em outra ocasião. No dia da doação, o candidato não pode estar em jejum, não pode ter ingerido bebida alcoólica e não pode ter fumado por pelo menos duas horas antes do procedimento. Além disso, deve ter dormido, no mínimo, seis horas na noite anterior.
A sede da Hemoba, na Ladeira do Hospital Geral (HGE) funciona de segunda a sexta, das 7h30 às 18h30, e aos sábados, das 7h30 às 16h30.
Voltamos à vida normal. Os pacientes estão sendo internados para fazer os seus procedimentos cirúrgicos e/ou transplantes Rivânia de Andrade
Diretora de Hemoterapia do Hemoba
Estamos preocupados porque, diante de epidemiologia da dengue, pode haver um número maior de inaptidão
Luiz Catto Diretor-geral do Hemoba, sobre descarte de bolsas contaminadas