Como o avô, Bruno morre em seu auge
São Paulo Prefeito da capital paulista lutou contra câncer durante um ano e meio
Duas décadas depois, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), repete o drama do avô. Mario Covas descobriu um câncer no auge da carreira política, após se reeleger governador de São Paulo. Ele rompeu uma tradição da política e manteve os cidadãos informados sobre a evolução da doença. Morreu em 2001, aos 70 anos.
O prefeito de São Paulo morreu ontem às 8h20 aos 41 anos. Desde 2019, ele lutava contra um câncer no sistema digestivo com metástase nos ossos e no fígado. Deixa o filho Tomás, de 15 anos. Covas estava internado no Hospital Sírio-Libanês, no Centro da capital paulista, desde 2 de maio, quando se licenciou da prefeitura. Na sexta-feira (14), ele teve uma piora e a equipe médica informou que seu quadro havia se tornado irreversível.
O corpo foi levado para o Edifício Matarazzo, sede da prefeitura, para uma cerimônia breve para familiares e amigos próximos. Depois, seguiu em carro aberto até a Praça Oswaldo Cruz. O enterro, restrito à família, foi no Cemitério do Paquetá, em Santos, onde está sepultado o corpo de Mario Covas.
Entre os presentes na cerimônia religiosa, restrita a cerca de 20 pessoas, estavam o filho Tomás, de 15 anos, a ex-mulher Karen Ishiba, os pais, um irmão e o tio Mário Covas Neto, ex-vereador da capital. Havia também autoridades como o vice-prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o governador João Doria e sua mulher Bia Doria.
Sobre o caixão fechado foram colocadas as bandeiras do Brasil e de São Paulo. Tomás ajudou a carregar o caixão até o carro do Corpo de Bombeiros. Simpatizantes do prefeito aplaudiram a saída do corpo para o cortejo pelas principais ruas do Centro de São Paulo. Na Avenida Paulista, o carro dos bombeiros foi cercado por simpatizantes que queriam se despedir e seguravam faixas e cartazes.
POLÍTICA NO DNA
A ligação de Covas com a política remonta à sua adolescência. Antes mesmo de ingressar na graduação, Bruno Covas conseguiu um estágio privilegiado no mundo da política. Aos 15 anos, deixou a casa dos pais em Santos para viver no Palácio dos Bandeirantes, com o avô, que assumira, naquele ano de 1995, o governo de São Paulo. Foram seis anos como espectador privilegiado das decisões sobre os rumos do estado.
Naquela época já não escondia o desejo de seguir a carreira do avô. Ainda criança, havia feito a carteirinha do “clube dos tucaninhos”. Aos 17 anos, se filiou ao PSDB.
Mário Covas alertava que era preciso estudar. O neto seguiu o conselho e fez duas faculdades: direito na USP e economia na PUC-SP.
Em 2006, resolveu tentar um voo solo e se candidatou a deputado estadual. Foi eleito com 122,3 mil votos. Assumiu o mandato aos 20 anos. Impulsionado pelo sobrenome, não teve dificuldade para se reeleger em 2010. Foi o mais votado, com 239 mil votos. No ano seguinte, Geraldo Alckmin, o sucessor de seu avô no governo paulista, o convidou para assumir a Secretaria Estadual do Meio Ambiente.
Em 2014, decidiu que era hora de se arriscar em Brasília. Foi o quarto deputado federal paulista mais votado, com 352.708 votos. Votou a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff. No mesmo ano, chegou a se inscrever para disputar as prévias tucanas que escolheriam o candidato a prefeito de São Paulo. No meio do processo, acabou desistindo para apoiar João Doria, que após se sagrar vitorioso no duelo interno do PSDB o escolheu para vice da chapa. Bruno herdou a prefeitura de Doria, que renunciou ao comando da cidade para concorrer ao governo do estado.
O CÂNCER
À frente da maior cidade do país, adotou uma linha discreta, bem diferente do estilo espalhafatoso do antecessor. Teve dificuldade para impor uma marca. Em outubro de 2019, descobriu o câncer na cárdia, válvula entre o esôfago e o estômago. Fez quimioterapia e imunoterapia. Foi o primeiro prefeito da cidade de São Paulo a morrer durante o mandato. Os primeiros tumores foram descobertos há um ano e meio, quando ele investigava uma irritação na pele. Logo no início da luta, o câncer já se revelava metastático — quando se espalha por outros órgãos.
Eleito vice-prefeito de São Paulo em 2020, Ricardo Nunes (MDB) assume em definitivo o comando da cidade. Ele estava como prefeito em exercício desde 2 de maio, quando Covas se licenciou para dar continuidade do tratamento contra o câncer.
Em seu primeiro ato, o emedebista decretou luto oficial de 7 dias pela morte de Covas. “A dor toma conta, perder um amigo, um irmão, que é referência de integridade, companheirismo, generosidade, dói muito”, postou Nunes após a morte. Antes de se eleger vice-prefeito na chapa de Bruno Covas em 2020, Nunes foi vereador por dois mandatos. No primeiro deles, foi aliado do petista Fernando Haddad.
A dor toma conta, perder um amigo, um irmão, que é referência de integridade, companheirismo, generosidade, dói muito Ricardo Nunes
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