AFINAL, VAI TER OU NÃO?
Sputnik V Entenda a situação da vacina russa no Brasil; especialistas acreditam que problema pode ser resolvido com transparência
processo seja demonstrado de maneira que quem analisa possa cumprir as etapas e chegar no mesmo lugar. Isso não veio”, disse, na ocasião.
Para o farmacêutico Julio Ponce, doutor em Epidemiologia pela Universidade de São Paulo (USP), a Anvisa seguiu os mesmos critérios rigorosos com que analisou as outras vacinas já aprovadas.
“Naquele momento, a Anvisa não tinha informações suficientes para tomar uma decisão a favor da importação, o que não quer dizer que a vacina não é segura. O que aconteceu foi que a empresa não trouxe os documentos para atestar essa informação”, explica.
VETOR VIRAL
Entender a ponderação sobre o suposto adenovírus replicante na Sputnik V é importante justamente porque é ele quem faz com que ela seja uma vacina baseada em um vetor viral. Isso significa dizer que os cientistas modificaram geneticamente esse adenovírus e inseriram nele um DNA capaz de codificar a proteína spike do coronavírus.
Só que, ao contrário de outros imunizantes que também usam adenovírus - como o da AstraZeneca e o da Janssen -, a Sputnik V usa dois vetores: o Ad26 e o Ad5. Esse é justamente o trunfo da vacina russa, em comparação a outras.
“A ideia de modificar dois adenovírus diferentes é para reduzir uma possível resposta imune contra o próprio vetor. Por isso, ela tem uma eficácia maior do que as outras vacinas com vetor viral. A eficácia dela no estudo publicado foi acima de 90%, enquanto as outras ficam em torno de 70% a 75%”, diz a infectologista e
que trabalha em cima de documentos. Então, a questão da Sputnik tem que ser resolvida com comunicação e transparência”, opina ela.
Ponce também não vê grandes riscos no adenovírus em si - justamente porque as doenças causadas por ele não têm muita gravidade. “Mas se eu estou vendendo um produto dizendo que não tem vírus replicante e eu admito a possibilidade de ter, preciso comprovar que, mesmo com essa capacidade de replicação, ela não é prejudicial à saúde. E a Sputnik não fez isso”.
O farmacêutico afirma que “entende o rigor” da Anvisa. Quando os cientistas russos afirmam que há ‘menos’ do que o limite internacional permite para adenovírus em uma vacina, eles não afirmam que o índice é zero.
“Isso poderia ser resolvido pedindo para o Gamaleya fazer uma análise com o mesmo limite do placebo. Eu entendo que a Rússia utilizou um limite diferente e que, dentro dos limites estabelecidos pela agência russa, teria passado. Mas não é o limite da Anvisa”, pondera Ponce, reforçando que a agência brasileira faz parte de um consórcio de países rigorosos na avaliação de medicamentos e produtos biológicos desde 2016. “Ou seja, ela é reconhecida internacionalmente pelo seu rigor”, completa.
PARECER TÉCNICO
Alguns dias após a decisão da Anvisa, no dia 4 deste mês, o comitê científico do Consórcio Nordeste divulgou uma nota afirmando que recebeu com surpresa a decisão da agência. No documento, anexaram um parecer do médico e virologista Amilcar Tanuri, doutor em Genética e Virologia e professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
No parecer, o professor afirma que os benefícios da Sputnik V para a população seriam “enormes”. Ao CORREIO, Tanuri afirmou que os documentos que recebeu respondem à pergunta principal da Anvisa - sobre o vírus replicante -, além de informações sobre a segurança. “A tecnologia da Sputnik é muito semelhante à usada pela AstraZeneca e pela Janssen. No documento, eu falo que não é plausível que ela seja muito mais tóxica que as outras”, explica.
No entanto, ele contesta que exista um vírus replicante na vacina. Teria havido, assim, um erro de interpretação, especialmente porque a agência não teria tido acesso aos novos documentos.
Para Tanuri, diante da situação epidemiológica do Brasil, é preciso analisar o que a Anvisa aponta como risco-benefício. Sem a vacinação em massa o quanto antes, é possível que surjam novas variantes mais transmissíveis e fa“Fiquei