Mercado fechado para transgênero
Parada LGBTQIA+ da Bahia terá debate virtual sobre racismo e empregabilidade
A quantidade de portas fechadas na cara de Amanda Silveira, 26, deixaram traumas. Entre eles, o fato dela não enviar fotos para ninguém, a não ser por extrema necessidade. Amanda topou conversar com o CORREIO desde que nenhuma foto dela fosse veiculada. Contou que já colocou currículo em lojas, mercadinhos, call centers, tentou até trabalho braçal em açougues, mas a resposta foi quase sempre a mesma: 'obrigado pelo interesse, mas não vamos te contratar'. Isso quando havia resposta.
Essa é a realidade de uma mulher negra e transgênero no Brasil, país onde 90% da população travesti e transexual tem a prostituição como fonte de renda, segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra).
O mercado de trabalho para as mulheres trans e negras será discutido em uma das mesas da 19ª Parada do Orgulho LGBTQIA+ da Bahia, que acontece virtualmente em 5 de dezembro (sábado), ao vivo nos canais “Me Salte” e Jornal CORREIO* (Instagram, Facebook e Youtube), a partir das 18h. A mesa, batizada de ‘Travestis e Transexuais negras não trabalham só em salão’ será conduzida pela vereadora eleita de São Paulo, Érika Hilton (Psol) e pela artista Inaê Leoni.
VIOLÊNCIA E EMPREGO
A Bahia é o terceiro estado com mais assassinatos de trans. Divide a posição com Minas Gerais e registrou 17 crimes este ano. Os dois estados dispararam em relação aos números do ano passado.
A Bahia pulou de 5 para 17, ou 240% de aumento. Minas saiu de 4 para 17, ou 325% de aumento. Em 2020, São Paulo lidera com 21 assassinatos e o Ceará aparece na segunda colocação, registrando 19.
Sobre a relação da violência com o mercado de trabalho, o Relatório da Violência Homofóbica no Brasil, publicado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH), aponta que a transfobia faz com que esse grupo “acabe tendo como única opção de sobrevivência a prostituição de rua”.
A baiana Ariane Senna, 40, ficou conhecida por ser candidata a vereadora nas últimas eleições. Primeira psicológa trans formada no estado, foi expulsa de casa aos 13 anos e a única alternativa que encontrou para sobreviver foi fazer programas na orla da capital. Nesse período, foi estuprada, assaltada e até atropelada. "Sofremos diversas violências, que começam na infância. Muitos jovens transgênero são colocados para fora de casa na juventude, ficam ao relento. Aí ficam duas alternativas: prostituição ou morte", diz Ariane.
Inaê Leoni afirma que a transgeneridade chega antes dela em qualquer espaço. E que, por isso, sente que precisa ser excelente e perfeita em todos os pontos para conseguir oportunidades. Ela contou que houve situações em que participava de uma roda de conversa sobre homofobia - e, de cara, sentiu que o nome precisava ser transfobia para contemplá-la - e percebeu o tom de deboche quando falava do seu currículo de gestora e mediadora cultural, além de arte-educadora. "Falavam num tom de 'nossa, quanta coisa', e não é tanta coisa. Nem o direito de ter uma trajetória profissional as pessoas trans têm".
Primeira mulher trans do Brasil a prestar serviço na Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), Millena Passos afirma que é importante ainda discutir o porque das trans e negras só conseguirem trabalho em áreas específicas, como salões de beleza, na prostituição e, em alguns casos raros, na área de enfermagem.
O projeto Diversidade tem realização do GGB, produção Maré e parceria e criação de conteúdo Correio/Me Salte e Movida; e patrocínio do Big e Goethe Institut.
Matheuzza (atriz e educadora); Bagageryer Spilberg (apresentadora e transformista); das cantoras Doralyce e Josyara; do rapper Hiran; e de Malayka SN (DJ, visual artist e drag)
Lésbicas - Mulheres que sentem atração afetiva/sexual por outras mulheres;
Gays - Homens que sentem atração afetiva/sexual por outros homens;
Bissexuais - Pessoas que sentem atração afetivo/sexual por homens e mulheres;
Travestis, Transexuais e Transgêneros - Não se relaciona com a orientação sexual, mas identidade de gênero. Corresponde às pessoas que não se identificam com o gênero atribuído em seu nascimento;
Queer - Pessoas que não se identificam com os padrões cis e heteronormativos;
Intersexo - Pessoas cujas combinações biológicas e desenvolvimento corporal - cromossomos, genitais, hormônios, etc. - não se enquadram na norma binária (masculino ou feminino);
Assexuais – Pessoas que não sentem atração sexual por outras pessoas;