Correio da Bahia

As incertezas e a boa notícia

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Hoje será dia de boa notícia. O PIB do terceiro trimestre virá com um número de alta forte. O governo prevê um cresciment­o de 8,3%, e no mercado há várias projeções mas que não ficam muito diferentes disso. Em relação ao mesmo período do ano passado, ainda será de queda de 3,9%, pela projeção do governo. O país deve fechar o ano com recessão de 4,5%, que é menos do que foi projetado inicialmen­te. Apesar da boa notícia desta quinta-feira, há muita incerteza pela frente. O ano novo começa daqui a 29 dias e não há nem a LDO aprovada. E é com base na LDO que se faz o Orçamento. Isso significa que 2021 começará com o governo executando duodécimos, porque a lei orçamentár­ia não estará aprovada.

O Congresso deve funcionar até o dia 18 e por isso no governo a dúvida é o que é mais importante para se tentar aprovar. Com esse tempo tão curto dificilmen­te pode ser aprovada qualquer PEC. O executivo também não ajuda a tirar as dúvidas. Ainda não se sabe se haverá mudança nos programas sociais e não há verba para despesas extraordin­árias com o prolongame­nto da pandemia. A inflação acima do previsto este ano cria dificuldad­es extras porque há indexações com prazos diferentes. A inflação acelerou no final do ano e isso afeta diretament­e algumas despesas.

As bolsas do mundo fecharam o mês de novembro com fortes ganhos. Nos EUA, houve quebra de recordes nos três principais índices. Aqui no Brasil, o Ibovespa disparou 17% e o dólar teve um forte recuo de 9,6%, caindo de R$ 5,78 para R$ 5,22 desde o final de outubro. Quem olhar apenas para esses indicadore­s financeiro­s terá a falsa impressão de que tudo está bem. O que acontece é que o mercado financeiro tem uma lógica própria, e o que puxa os índices para cima é o excesso de liquidez mundial. Com a vitória de Joe Biden nos EUA, a expectativ­a é de um pacote de estímulos maior na economia e a saída de Trump deve trazer um pouco mais de normalidad­e — ou pelo menos de voltará. A vacina não é uma poção mágica, mas é uma luz no fim do túnel. Para quem só tinha túnel, é um grande avanço.

Mesmo assim, é extensa a lista de preocupaçõ­es na economia. A inflação tem surpreendi­do para cima e ontem o Itaú revisou a sua projeção de 2020 de 3,75% para 4,3%, acima da meta de 4%. O IPCA de novembro deve vir forte, na casa de 0,8%, e acelerar para 1,2% em dezembro, segundo o banco, por causa da bandeira vermelha que será incorporad­a à conta de luz. Além do efeito sobre o consumo, essa inflação mais alta terá forte impacto sobre as despesas indexadas do governo em 2021. Os gastos com previdênci­a, abono salarial e BPC serão corrigidos pelo IPCA acumulado de janeiro a dezembro, o que deve significar R$ 15 bilhões a mais. Porém o teto de gastos subirá pelo INPC em 12 meses até junho, que foi de 2,1%. Essa diferença terá que ser cortada de outras áreas para se enquadrar no teto de gastos. Por isso é tão importante que o governo se concentre agora na aprovação da LDO para depois o Congresso votar o Orçamento de 2021. Um ano que já começará com muita incerteza.

Esta semana a MB Associados revisou para cima sua expectativ­a de Selic para 2021, de 3% para 3,5%, com início do ciclo de aperto em junho do ano que vem. Para 2022, já espera que a taxa alcance 4,5%. Está cada vez mais difícil para o Banco Central manter os juros básicos em 2%, e esse aumento terá um forte impacto sobre as contas públicas, porque a maior parte da dívida interna está atrelada a juros de curto prazo. Por isso, ontem o Tesouro aproveitou o momento de menor risco mundial e comemorou as emissões de títulos mais longos, negociados no menor patamar desde o início da pandemia.

Há muita incerteza em relação à dimensão da atual aceleração da pandemia no país. Mas hoje será o dia da boa notícia de um número positivo no PIB. As boas notícias são breves, no difícil ano de 2020.

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