Ideologia de corno
O brasileiro está mais perdido que marido traído. Durante nossos séculos iniciais, a discussão era binária do tipo a favor ou contra o rei. Depois o povo se dividia entre Império ou República. No século passado já foi complicando, mas era ainda fácil identificar as correntes políticas, fossem udenistas, comunistas, integralistas, trabalhistas, democratas, federalistas, liberais, republicanos, pessedista, fascista e, me perdoe essa mistura toda, esse cadinho, a quizomba, mas cada ideologia com suas características apropriadas (pau é pau, pedra é pedra). E cada um defendendo sua posição político-partidária. Havia, sim, uma ideologia nas várias ideologias.
No tempo da ditadura militar encetada em 1964 e que levou duas dezenas de anos, também era fácil saber de que lado se estava: a direita militarista e a esquerda em franca oposição ideológica. Então chegamos à República Nova e os partidos ainda se mostraram com suas verdadeiras caras e o eleitor sabia se iria votar nos conceitos de um Partido Democrata Trabalhista (PDT), um Partido da Frente Liberal (PFL) ou Movimento Democrático Brasileiro (MDB) ou Partido Socialista Brasileiro (PSB), Partido Comunista Brasileiro (PCB) ou outro do matiz do seu agrado ou interesse.
Foi então quando surgiu o Partido dos Trabalhadores (PT); PFL que já havia sido Arena virou Democratas (DEM), o MDB virou PMDB e surgiu o PSDB e por aí vai e quem não votava na esquerda de convergência com Lula seguia outros caminhos bem delineados. Mas, depois do “Mensalão da Petrobras” e da “Operação Lava-Jato” o mundo político, a cortina política e a essência política nacional viraram uma Casa de Noca. Ninguém está mais sabendo qual é a cor e a ideia de cada partido, pois o que era afeto à esquerda é também adotado pela direita, e isso muitas das vezes. Nas circunstâncias atuais, dá a nítida impressão que todos são de centro. Tem até comunista chamando por Deus e acendendo vela ou botando bozó na encruzilhada.
Para piorar, a situação política brasileira beira tanto a esquizofrenia que uma pesquisa recente mostra que eleitores de Lula, pasme, acham que se ele for preso e não puder competir nas próximas eleições irão votar em Bolsonaro. Acredite que 6% dos eleitores escolheriam o deputado Bolsonaro – da extrema direita – para substituir o ex-extremista de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva.
Estariam criando um novo tipo de eleitor o chamado “Lulanaro”. A pesquisa mostra que, no geral, Lula tem apoio dos menos escolarizados e com menor renda e Bolsonaro tem maior desempenho justamente naqueles que ganham mais e são mais escolarizados. Vemos que o eleitor consegue juntar ideologias que em qualquer lugar do mundo são inconciliáveis. O cara não está lá mais preocupado se o candidato é de esquerda ou de direita. Quer mesmo é acabar com o estado de corrupção, nem, que para isso crie uma ideologia Frankstein.
Outro fator que leva Bolsonaro aos mais claros sonhos dos lulistas é a possibilidade do parlamentar não só acabar com a corrupção, mandando prender e arrebentar, como acabar com a violência, nem que seja usando o mesmo remédio. Todo mundo perdido e mal pago.