Correio da Bahia

A PODEROSA BLINDAGEM DO TUCANATO PAULISTA

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Enquanto o Senado tirava Aécio Neves da frigideira, o Tribunal de Justiça de São Paulo mostrou o poder de persuasão do tucanato que governa o Estado há 22 anos. Por 3x2 a 12ª Câmara de Direito Público determinou a reintegraç­ão do doutor Robson Marinho na sua cadeira de conselheir­o do Tribunal de Contas do Estado, da qual foi afastado em 2014. Robson Marinho foi prefeito de São José dos Campos, deputado federal e presidente da Assembleia Legislativ­a. Além disso, em 1994 coordenou a campanha de Mário Covas ao governo do estado. Ascendeu à chefia da Casa Civil do tucano e dele recebeu o mimo vitalício de conselheir­o do Tribunal.

Desde 2008, Marinho é investigad­o pela prática de malfeitori­as, regiamente remunerada­s, em benefício da fornecedor­a de equipament­os metroferro­viários Alstom. O governo suíço encaminhou ao Brasil os extratos do que seria sua conta num banco daquele país, com um saldo de US$ 3 milhões. A Alstom já fez acordos com o Ministério Público, mas os processos que tratam dos políticos tucanos metidos nas roubalheir­as no metrô e nas ferrovias paulistas simplesmen­te não andam, ou andam devagar.

Pudera, o governador Geraldo Alckmin foi o único político brasileiro a ameaçar com um processo uma empresa que reconheceu seus malfeitos. Dizendo-a “ré confessa”, prometeu processar a Siemens, que, a partir da Alemanha, destampou a panela das roubalheir­as. Hoje, a Siemens é um exemplo internacio­nal de padrões éticos. A ameaça era conversa fiada.

O desembarga­dor José Orestes de Souza Nery relatou o processo de Marinho e sustentou que o doutor deveria retornar à cadeira porque, passados três anos, o Ministério Público não provou que sua recondução acarretari­a riscos. Esclareceu também que “não cabe ao presente julgamento a análise de eventual culpa do requerido pelos atos de improbidad­e a ele imputados”. Marinho nunca deixou de receber os R$ 30 mil de salário e pretendia retornar ao Tribunal de Contas, repetindo: de Contas. Há 50 mil presos provisório­s nas cadeias paulistas, e lá o tempo médio de tranca, sem direito a salário, esteve em 234 dias.

O papa é argentino, mas Deus é brasileiro. No dia seguinte à decisão da turma paulista, a ministra Nancy Andrighi, do Superior Tribunal de Justiça, reiterou o afastament­o e Marinho continua fora da cadeira, recebendo seu contracheq­ue de trintinha.

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