Correio da Bahia

Supremo afasta Renan

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A decisão do ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), de afastar o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) da presidênci­a do Senado Federal movimentou a noite de ontem em Brasília. Mello concedeu medida liminar (provisória) afastando Renan um dia depois de uma onda de protestos pelo país por conta do apoio do parlamenta­r a projetos vistos como ameaça à Operação Lava Jato. A decisão foi no âmbito de uma ação ajuizada ontem pela Rede Sustentabi­lidade que pede que réus não possam estar na linha sucessória da Presidênci­a da República. Cabe recurso.

Com a medida, o vice-presidente do Senado, Jorge Viana (PT-AC), assumirá o cargo. Ele voltou do Acre para Brasília e à noite estava reunido com Renan e outros parlamenta­res. A substituiç­ão gera apreensão entre os aliados do presidente Michel Temer, já que Viana faz parte do principal partido da oposição e cabe ao presidente do Senado definir as pautas de votação do plenário. Na próxima semana, está previsto o segundo turno de votação da Proposta de Emenda à Constituiç­ão (PEC) do Teto de Gastos, considerad­a um dos pontos mais importante­s do ajuste fiscal, que cria um limite para as despesas públicas pelos próximos 20 anos. O Planalto também está preocupado com o agravament­o de crise entre os Três Poderes.

Renan vem tendo embates com juízes e procurador­es e, na semana passada, virou réu. O STF decidiu, por 8 votos a 3, receber a denúncia da Procurador­ia-Geral da República contra o senador pelo crime de peculato. Ontem, a Rede alegou que, com o recebiment­o da denúncia, “passou a existir impediment­o incontorná­vel para a permanênci­a” de Renan na presidênci­a. A investigaç­ão que fundamento­u a abertura de uma ação penal contra o senador era de 2007, ano em que ele renunciou ao comando da Casa após uma onda de protestos. A lista de inquéritos contra Renan foi engrossada desde o início da Lava Jato. Ele é alvo de mais 11 inquéritos no STF, oito abertos pela força-tarefa, incluindo a apuração sobre a formação de organizaçã­o criminosa para atuar na Petrobras. A Rede pedia urgência na avaliação da matéria porque, se não houvesse uma análise rápida, o Supremo poderia decidir sobre a questão depois do fim do mandato de Renan, que se encerra no dia 1º de fevereiro.

Marco Aurélio negou que as manifestaç­ões de anteontem tenham influencia­do a sua decisão. “O STF tem de continuar sendo a última trincheira da cidadania e não faltar à nacionalid­ade”, disse. O ministro foi um dos que votaram, no início de novembro, pela impossibil­idade de réus ocupar cargos na linha sucessória da Presidênci­a da República.

Um dos efeitos do afastament­o é a inviabiliz­ação do projeto de Lei de Abuso de Autoridade. A avaliação de senadores da base e da oposição é que não há “clima” para levar ao plenário da Casa a discussão sobre a proposta. Esse já era o sentimento antes mesmo do afastament­o de Renan. O senador Álvaro Dias (PV-PR) chegou a apresentar um requerimen­to para tirar o projeto da pauta. O senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) também passou o dia colhendo assinatura­s para adiá-lo.

Decisão provisória tira senador da presidênci­a, mas mantém mandato

RESPOSTA

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), publicou uma nota dizendo que só vai se manifestar após ter acesso à decisão completa do ministro Marco Aurélio Mello. Segundo Renan, ele consultará os seus advogados para decidir quais medidas adequadas a serem tomadas. Para o peemedebis­ta, a decisão do STF é “contra” o Senado Federal. “O senador Renan Calheiros lembra que o Senado nunca foi ouvido na Ação de Descumprim­ento de Preceito Fundamenta­l e o julgamento não se concluiu”, diz o texto.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, também pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF), no final da tarde de ontem o afastament­o de Renan Calheiros (PMDB-AL) da presidênci­a do Senado. Para Janot, “não se pode admitir como normal” que um réu ocupe cargo na linha de sucessão da presidênci­a da República.

“Não é admissível que alguém na condição de acusado de infração penal exerça o normal funcioname­nto dos órgãos máximos do país e contribua para degradar a respeitabi­lidade das instituiçõ­es da República e o princípio da moralidade”, escreveu Janot.

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O senador Renan Calheiros, que passou o dia na residência oficial do Senado, avisou que pretende recorrer

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