Sons da nossa terra
Levantamento mostra que os brasileiros são os que mais ouvem a própria música; canções que viram hit aqui também não costumam emplacar lá fora
Brasileiro gosta de música brasileira. A constatação é evidente quando damos uma passada pela programação da maioria das rádios.
Mas, desde a virada do século, a indústria vem passando por mudanças profundas. Nesta década, as gravadoras deixaram de lado os suportes físicos —CD, vinil— para enfim se estabelecer na internet, com o streaming já alcançando o rádio em tamanho por aqui.
Ouvir música no Youtube ou em plataformas especializadas vem se tornando regra, após anos de crise com downloads ilegais e pirataria.
Um levantamento feito pela Folha de S.paulo baseado nas faixas mais tocadas no Spotify —mais popular streaming de música— em diversos países confirma a percepção. Ou seja, mesmo com a globalização e o maior acesso à internet, o brasileiro continua preferindo a música brasileira.
“Seja porque nossa língua nos separa da América Latina, seja pelas nossas dimensões continentais, a música brasileira sempre foi muito mais importante do que qualquer outra para nós”, diz Eduardo Vicente, doutor em ciência da comunicação pela USP e pesquisador de música popular. “Nenhum país na América Latina tem um percentual de consumo de repertório doméstico como o nosso. Podemos nos comparar a Estados Unidos, Japão, países da Europa.”
Apesar da importância de alguns selos nacionais, a música brasileira, a partir dos anos 1960, foi basicamente administrada por gravadoras internacionais —que ganharam dinheiro com artistas daqui. Para Vicente, além da questão do idioma, nossa dificuldade de exportação pode ter a ver com a indústria. “O Brasil era um mercado bom para empresas internacionais”, diz. “Mas elas não tinham interesse em concorrer com outros artistas lá fora.”
Hoje, o funk até consegue chegar às paradas de países da América Latina, mas o sucesso internacional da nossa produção ainda é limitado a hits e situações pontuais. Como, aliás, havia sido com a bossa nova.
Mas o isolamento mostrado pelos números tem mais a ver com a preferência por música nacional do que com a ausência de hits no exterior. Um estudo do Nopem, o Nelson Oliveira Pesquisas de Mercado, que lista, por ano, os discos mais vendidos no país desde 1965, mostra os artistas brasileiros como maioria.
A maior entrada de sons estrangeiros, diz Vicente, aconteceu com as trilhas de filmes e novelas e coletâneas de gênero. Nos anos 1960, músicas em italiano, francês e espanhol eram mais frequentes. A partir dos anos 1970, faixas em inglês passaram a ser dominantes.
Curiosamente, bandas de rock tradicionais como Rolling Stones