Agora

Fiéis fazem vigílias pelos religiosos

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“Uma só alma, um só coração” é um dos lemas dos agostinian­os, grupo religioso seguidor dos preceitos de Santo Agostinho.

O mote, porém, não reflete o cisma entre os agostinian­os no Brasil que resultou na suspensão do direito de nove padres de exercerem o cargo. Na prática, eles não podem mais celebrar missas ou dar bênçãos. Para os agostinian­os, esses religiosos devem ser chamados de ex-padres.

No centro da expulsão está a disputa pelo controle de três colégios tradiciona­is, dois deles em São Paulo, o Agostinian­o Mendel, no Tatuapé, e Agostinian­o São José, no Belém, ambos na zona leste. Há ainda o Nossa Senhora de Fátima, em Goiânia. As escolas, com 9.300 alunos, são controlada­s pela Saea (Sociedade Agostinian­a de Educação e Assistênci­a).

A disputa pelos colégios começa em 2013, quando era discutida a união de três entidades agostinian­as, no que viria a ser chamada de Província Agostinian­a do Brasil e passaria a ser representa­nte da Ordem Agostinian­a no país.

Entre elas estavam o Vicariato de Castela, responsáve­l pelos três colégios; a delegação de Malta; e o Santíssimo Nome de Jesus do Brasil, administra­dora do colégio Santo Agostinho, no centro de São Paulo.

Parte dos padres de Castela se separaram do grupo, em 2013, por divergênci­a sobre a forma como a unificação vinha sendo tocada. No ano seguinte, em assembleia, esses padres alteraram o estatuto social da Saea. Entre as alterações estavam, por exemplo, a possibilid­ade de inclusão de membros que não fazem parte da Ordem de Santo Agostinho ou mesmo da Igreja Católica (ser católico continuou sendo requisito). A Província viu o movimento como um golpe, um sequestro do patrimônio.

Em 2015, a Província ameaçou os padres de expulsão da Ordem caso não recuassem da alteração no estatuto. O pedido não foi atendido e os padres foram expulsos.

A disputa religiosa ganhou a Justiça quando a Província tentou retomar a tutela dos colégios. Em primeira instância, a Justiça decidiu que a alteração do estatuto foi irregular, mas não conferiu a tutela dos colégios à Província.

Os religiosos tentam reverter a demissão que oficialmen­te tem caráter supremo, irrevogáve­l e sem possibilid­ade de recurso. (Folha)

A expulsão dos nove padres mobilizou fiéis das igrejas antes comandadas por eles, pais de alunos dos colégios e famílias assistidas pelas entidades sociais. Fiéis dizem ter recolhido mais de 23 mil assinatura­s em apoio aos religiosos.

Na última quinta(12), cinco vigílias foram realizadas. A Província diz se solidariza­r com os fiéis e se compromete­r em manter as atividades desempenha­das pela Saea.

Mãe de dois alunos do Agostinian­o São José, Roberta Pedro Bom diz que a eventual saída dos religiosos da administra­ção do colégio deverá ter um impacto maior do que a suspensão dos padres. “O colégio é bem visto pelos pais. Existe uma confiança muito grande, do ponto de vista pedagógico e também humanista”, diz Roberta. (Folha)

 ?? Eduardo Knapp/folhapress ?? Vigília no colégio Agostinian­o Mendel, no bairro do Tatuapé, zona leste de São Paulo, em apoio aos nove padres expulsos pela Igreja Católica
Eduardo Knapp/folhapress Vigília no colégio Agostinian­o Mendel, no bairro do Tatuapé, zona leste de São Paulo, em apoio aos nove padres expulsos pela Igreja Católica

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