Amazônia ajuda a regular clima, mas não é o pulmão do mundo
Mitos e dúvidas rondam debate sobre floresta amazônica, centro das polêmicas dos últimos dias
SALVADOR Com a crise das queimadas na Amazônia, o mundo voltou as atenções para o Brasil. Chefes de Estado, celebridades, cidadãos de diversas partes do planeta demonstraram na última semana preocupação com o destino da maior floresta tropical do mundo.
Com o alvoroço, mitos foram disseminados como verdades e fotos antigas foram veiculadas como novas. Confira o que é verdade e o que é mito entre as afirmações populares sobre a Amazônia.
Um das principais é dizer que a Amazônia é o pulmão do mundo. O erro, comumente repetido nas últimas décadas, partiu de um cálculo sobre a alta produção de oxigênio no processo de fotossíntese das grandes árvores da Amazônia.
No entanto, árvores adultas consomem, na sua respiração, praticamente a mesma quantidade de oxigênio produzida na fotossíntese. Por isso, o saldo de produção de oxigênio gerado pela floresta é pequeno.
Pouco mais da metade do oxigênio produzido no planeta é gerado por algas marinhas (55%). O pulmão do mundo, portanto, está nos oceanos.
Embora não seja o pulmão do mundo, a Amazônia tem um papel fundamental na regulação do clima global, junto a outras grandes florestas tropicais.
Outro processo que acontece massivamente na Amazônia é a evapotranspiração, feita pelas folhas das árvores para liberar o excesso de água captado pelas raízes. De microgotículas em microgotículas, cada uma das árvores da Amazônia lançam na atmosfera de trezentos a mil litros de água por dia.
O resultado é a geração de chuvas para o Centrooeste, Sudeste e Sul brasileiros, em um fenômeno que ficou conhecido como “rios voadores”, que influenciam também as correntes dos oceanos.
Com árvores de folhas perenes, as florestas tropicais funcionam como estoques de carbono (que compõe caules, folhas e raízes das árvores). As queimadas lançam o carbono na atmosfera, ampliando o efeito-estufa, que causa o fenômeno do aquecimento global.
Outro boato famoso é que países tentariam tornar a região em território internacional. O boato corre há décadas e começou com uma foto falsa de um mapa que mostrava a Amazônia como um território internacional, separado do Brasil.
O mito contava que o mapa estaria em livros pedagógicos que orientavam o ensino na escolas dos Estados Unidos, criando o receio de que os americanos tentariam tirar a Amazônia do domínio brasileiro.
É mentira também que a Amazônia seja a maior floresta do mundo. É a floresta boreal, também chamada de Taiga, e tem extensão de 12 milhões de km².
A Panamazônia, que compreende o território brasileiro e de mais oito países na região, tem 8,47 milhões de km². O território amazônico no Brasil é de 5,5 milhões de km².
Entre as florestas dos trópicos, a Amazônica vence em território. Portanto, é reconhecida como a maior floresta tropical do mundo.
Biodiversidade
É verdade, no entanto, que a Amazônia é a maior reserva de biodiversidade do planeta.
É o ecossistema com maior diversidade de espécies em um mesmo território. Segundo dados da Conservação Internacional, o bioma abriga 10% de todas as espécies conhecidas no mundo. Entre as espécies de fauna, 20% estão na Amazônia, segundo estudo da WWF. A região também é rica em espécies endêmicas (únicas da região), como o boto-cor-de-rosa. (Folha)