Agora

Cantora simboliza religião marginal

Em “Fevereiros”, já em cartaz nos cinemas, Maria Bethânia une fé e festa, e vai do sagrado ao profano

- Leonardo neiva

Candomblé e catolicism­o, sexualidad­e e religião, sagrado e profano, festa e fé. Ao unir conceitos que parecem distantes, Maria Bethânia é mostrada como uma representa­ção da diversidad­e cultural e religiosa do Brasil no documentár­io “Fevereiros”, já em cartaz.

Adepta da umbanda, Bethânia volta todos os anos à sua cidade natal, Santo Amaro (BA), no mês de fevereiro, para participar dos festejos de Nossa Senhora da Purificaçã­o, santa católica.

Para o músico, compositor e professor de literatura da USP José Miguel Wisnik, a cantora é um caldeirão que mistura elementos como arte, cultura popular, religião e sexualidad­e. “São todas coisas que têm sido atacadas com virulência e violência na nossa sociedade, assim como as religiões afro-brasileira­s.”

O documentár­io faz uma relação entre a participaç­ão de Bethânia no desfile da Mangueira no Carnaval carioca em 2016 e as comemoraçõ­es

Segundo diretor do documentár­io “Fevereiros”, Marcio Debellian, o depoimento de Bethânia, que conduz a narrativa, foi a última sequência gravada para o filme, já depois das comemoraçõ­es apresentad­as no documentár­io. No longa, também há falas de Caetano Veloso e de Chico Buarque.

Para o historiado­r Luiz Antônio Simas, Bethânia representa socialment­e um elemento forte dentro de uma rede de proteção social de religiões marginaliz­adas no país, especifica­mente as criadas por descendent­es de escravos. Ele lembra que a própria Mangueira surgiu dentro de terreiros de candomblé e umbanda.

Terreiros que não têm espaços definidos, mas se constróem a partir dos rituais que são praticados sobre eles, explica o historiado­r.

“A Marquês de Sapucaí geralmente é inóspita, mas quando vem o Carnaval, a escola de samba, o cavaco, alguém que cospe uma cachaça para pedir licença e entrar ali, você transforma o território em terreiro.”

De acordo com Simas, o filme consegue mostrar a forma como a cantora “sacraliza o profano e profana o sagrado”, fazendo unir realidades que parecem distantes. (FSP)

Essa mistura é o Brasil que a gente ama, que achava que estava garantido, mas não está. Cada um tem sua espiritual­idade, o Estado não pode regimentar sobre isso Marcio Debellian, diretor de “Fevereiros”

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