Ouvidor suspeita que jovens mortos por PMS não reagiram
Para órgão que fiscaliza as polícias, há indícios de que não houve confronto em favela no Jaguaré
O ouvidor das polícias Civil, Militar, Benedito Mariano, afirmou ontem que o órgão trabalha com indícios de que “não houve confronto armado” entre os policiais da Força Tática, da Polícia Militar, e os quatro jovens entre 15 e 17 anos mortos na favela do Areião, no Jaguaré (zona oeste), no sábado. Os PMS afirmam que houve tiroteio.
Os três PMS foram afastados das ruas enquanto o caso é investigado pela Corregedoria da PM e pelo DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa).
“A Ouvidoria trabalha com indícios de que não houve confronto armado entres os policiais e os civis mortos. Evidentemente, se isso se comprovar, será uma ocorrência extremamente grave, de uso desnecessário da força. Pelo que vemos no vídeo [feito com celular, em que se ouvem cinco disparos], trabalhamos com a hipótese de concorrência de intervenção policial, mas sem confronto armado com os civis”, diz.
Os PMS afirmaram que os quatro adolescentes ocupavam um Ford Focus preto, roubado, e que fugiram dos policiais até a favela, onde teriam colido o veículo contra um muro. Na sequência, segundo os PMS, os jovens desembarcaram atirando.
Moradores e familiares das vítimas ouvidos pela reportagem afirmam que os quatro foram mortos após descerem do carro e erguerem às mãos. “As pessoas ouviram eles dizerem: ‘perdemos, senhor. Perdemos”, diz Flávia (fictício), mãe de um dos adolescentes mortos.
Os familiares contam que os quatro adolescentes cresceram juntos e, até começo deste ano, tiveram uma vida sem problemas. Desde janeiro, porém, três deles foram flagrados portando ou vendendo drogas. Um deles também era suspeito de participado do roubo de um carro. Dizem que os jovens possivelmente roubaram o carro para exibi-lo na região, nos chamados “roleios”, e que nenhum era violento. “Não estou dizendo que eram santos, mas a polícia não está aí para servir e proteger?”, disse Flávia.