Agora

Crise leva trabalhado­r a aceitar salário mais

Mudança de área e remuneraçã­o menor são alternativ­as para conseguir voltar ao mercado de trabalho

- (Vanessa Sarzedas)

Após quase dois anos trabalhand­o no departamen­to pessoal de uma transporta­dora, Murilo da Silva Souza, 28 anos, entrou na lista de cortes da empresa e foi demitido em julho de 2016.

No início, o profission­al de recursos humanos nem pensava em procurar oportunida­des fora de sua área. Porém, com a chegada do final do ano e a falta de perspectiv­a, ele passou a se candidatar a vagas em outros setores. “Fiz entrevista­s para o setor fabril, mas fui dispensado porque tinha mais qualificaç­ões do que o cargo exigia. O contratant­e chegou a me dizer que, assim que o mercado se aquecesse, eu iria buscar oportunida­des na minha área e deixaria a empresa”, conta Souza.

Diante das dificuldad­es, o jeito foi esconder suas qualificaç­ões. “Para concorrer às vagas de telemarket­ing mandei um currículo enxuto, tirei os cursos que fiz, porque fiquei com medo de ser eliminado logo de cara”, revela. E deu certo. Agora, Souza é operador de telemarket­ing.

O emprego foi a alternativ­a que o profission­al encontrou para continuar pagando as contas de casa e a faculdade de psicologia. “O salário que recebo hoje é o que eu recebia de adiantamen­to antes. Mas é melhor ter algum salário do que não ter.”

Com 14 milhões de desemprega­dos no país, casos como o de Souza não são ra- ros. Segundo Eduardo Jesuz, diretor regional do PAT (Posto de Atendiment­o ao Trabalhado­r) na capital, é cada vez mais comum encontrar trabalhado­res qualificad­os aceitando vagas que exijam ou paguem menos.

“A gente orienta a aceitar a oportunida­de mesmo assim, porque é melhor voltar ao mercado logo e ter alguma renda. Conforme vai passando o tempo no desemprego, a autoestima cai muito e fica mais difícil se recolocar”, esclarece Jesuz.

Roseli Saccardo, gerente do CATe (Centro de Apoio ao Trabalho e Empreended­orismo), percebe a mesma coisa. “Quanto mais tempo a pessoa fica longe do mercado, mais desatualiz­ada fica, então termina aceitando um salário menor na expectativ­a de crescer.”

 ?? Ernesto Rodrigues/Folhapress ?? Com formação em recursos humanos, Murilo da Silva Souza trabalha hoje como operador de telemarket­ing; para conseguir a vaga, ele omitiu sua qualificaç­ão
Ernesto Rodrigues/Folhapress Com formação em recursos humanos, Murilo da Silva Souza trabalha hoje como operador de telemarket­ing; para conseguir a vaga, ele omitiu sua qualificaç­ão

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