A PARTIR DE HOJE GRÁTIS
NOVA SÉRIE A MINHA GUERRA
Serafim Felício largou de Lisboa em maio de 1959, no navio ‘Niassa’, sem saber que o destino era Goa. Nos primeiros dois anos tomava conta dos depósitos de água e de pólvora e fazia guardas de honra à urna de prata em que repousa S. Francisco Xavier - o sacerdote jesuíta espanhol que Bento XVI proclamou como ‘Padroeiro do Oriente’ - na Basílica do Bom Jesus. Entretanto, fez uma formação e ingressou nas forças de segurança, que dependiam do comando militar. No verão de 1961, foi enviado como polícia para a fronteira Norte com a União Indiana, um posto pequeno, com uma guarnição, completamente isolado e sem acesso rodoviário.
Ao longo de seis meses esta pequena unidade policial repeliu inúmeros ataques do inimigo. Até ao dia da invasão, 18 de dezembro de 1961. Quando começou o bombardeamento, a unidade de Serafim recebeu ordens para retirar. “Começámos a descer a serra de noite, a descer, descer, não se via nada. Safámo-nos por um triz. Fomos dos últimos a chegar a Pangim e até já nos tinham dado como desaparecidos.”
“Sofrimento eterno”
A invasão foi rápida e vitoriosa para a União Indiana. Feito prisioneiro, Serafim é levado para o campo do Altinho. Esteve também em Aguada, uma prisão civil, e em Pondá. “Se a gente se mexesse ou fizesse algum gesto mais agressivo, éramos logo metralhados. Os sikhs eram terríveis e estavam sempre de armas apontadas.”
Serafim sobreviveu e resistiu à dureza do cativeiro, ao isolamento, ao arame farpado e à fome . “O sofrimento é eterno”, diz, 60 anos depois, recordando que a chegada a Lisboa, em maio de 1962, também não foi fácil. “Chegámos como presos.” No mesmo ano, foi enviado para Angola, onde já havia guerra.n
SAFÁMO-NOS POR UM TRIZ. FOMOS DOS ÚLTIMOS A CHEGAR. JÁ NOS CONSIDERAVAM DESAPARECIDOS”