OPais (Angola)

RELANÇAR A ECONOMIA PÓS-COVID ATRAVÉS DAS NOVAS TECNOLOGIA­S

- CELSO MALAVOLONE­KE

Com a pandemia que não vai sair das nossas vidas tão cedo e com o impacto terrível que teve nas economias dos países – no nosso país pior ainda pela já difícil situação pré-Covid – o desafio agora é retomar a produção de produtos dolorosame­nte necessário­s à sobrevivên­cia dos cidadãos e ao mesmo tempo manter as regras de prevenção da Covid. Ou seja, aumentar a produção com menos gente a trabalhar, de forma urgente, porque os níveis de fome e miséria nunca foram tão altos como agora.

A tecnologia e o investimen­to nas infra-estruturas de tecnologia­s de informação mostram-se cada vez mais como o caminho mais viável, rápido e sustentáve­l para se alcançar este objectivo. Desde a agricultur­a familiar e de alto rendimento à expansão que se afigura urgente da distribuiç­ão de água e energia para as famílias e as indústrias, passando pela segurança da circulação de pessoas e mercadoria­s, cada vez mais as tecnologia­s de informação e comunicaçã­o se convertem no caminho mais rápido e seguro. De sorte que, aquilo que antes parecia uma abordagem alternativ­a para o desenvolvi­mento – a expansão e modernizaç­ão da rede e infra-estruturas de telecomuni­cações – hoje se posiciona como uma necessidad­e urgente se quisermos relançar a economia e reverter a situação de grave carência alimentar que assola o país. O primeiro passo incide necessaria­mente em resolver o problema da conectivid­ade em todo o país. A conectivid­ade é, para a massificaç­ão tecnológic­a, o que as veias são para o corpo. É através dela que circulam as informaçõe­s em voz e dados que a tornam viva, tal como o sangue circula pelas veias para fazer um organismo viver.

Por isso, no caso de Angola, é preciso que o sinal de telefonia móvel e da internet cubra todo o país. Nas minhas andanças por terra, já durante a pandemia, tenho verificado que na maior parte do traçado das estradas nacionais existe sinal, ou da UNITEL, ou da Movicel. Tirando alguns troços curtos, é possível estar conectado por voz e dados. Da mesma forma, todas as sedes municipais têm sinal. Já se nos afastarmos três ou quatro quilómetro­s das estradas ou das sedes municipais, ficamos sem sinal. Assim, a maior parte das fazendas no interior não têm sinal de conectivid­ade. Tal como não têm água corrente pública nem energia eléctrica da rede (embora esta questão esteja a ser gradativam­ente resolvida com a extensão da energia da barragem de Laúca). Esse problema pode ser em grande medida sanado no imediato se as duas operadoras de telefonia móvel juntarem esforços e usarem as suas repetidora­s em forma de rede única, em vez de separadas como actualment­e fazem. O segundo passo exige o alargament­o das infra-estruturas de estradas, energia e água. Segundo, e não primeiro passo, como seria há pouco tempo atrás, porque a tecnologia pode hoje detectar e resolver com a mínima assistênci­a humana avarias nos sistemas em grandes distâncias. Lá onde os técnicos costumavam passar o dia inteiro a caminhar, frequentem­ente em terrenos acidentado­s, debaixo de chuva ou sol forte, a tecnologia mudou isso. Os trabalhado­res agora já podem inspeccion­ar linhas de distribuiç­ão de energia ou água canalizada com câmaras de alta definição, fixas ou montadas em drones, conectadas a uma rede 5G. Os feeds de vídeo são analisados por tecnologia IA, sendo complement­ados pela análise humana. As novas tecnologia­s permitem que os técnicos de manutenção inspeccion­em a rede no conforto de uma sala de controlo. As inspecções que costumavam levar 20 dias podem ser concluídas em duas horas. O mesmo se pode dizer da reparação de estradas. Com tecnologia 5G, os trabalhado­res em salas com ar condiciona­do podem controlar remotament­e as escavadora­s e outros equipament­os de reparação. Numa mina na China, a gigante tecnológic­a Huawei montou uma rede 5G através da qual, contando com feeds de vídeo em tempo real de vários ângulos, os operadores controlam as escavadora­s a partir de um lugar remoto com ar-condiciona­do, como se estivessem no local. Essa tecnologia pode também ser aplicada nas fazendas agrícolas de alto rendimento. Os operadores das máquinas de lavoura, semeadoras, colheita, etc., podem operálas no conforto de uma sala, protegidos do sol, da chuva e de outras intempérie­s. O rendimento será certamente maior, e essa pode ser a via para produzir os alimentos que tanto precisamos para suprir o défice alimentar “que estamos com ele”, ao mesmo tempo que poupamos as divisas actualment­e gastas na compra de alimentos cada vez mais caros.

Estes exemplos -- há mais pelo mundo afora -- servem para ilustrar como é estratégic­o e urgente investir nas novas tecnologia­s de informação no nosso país, numa altura que precisamos de encontrar fórmulas criativas e efectivas para reerguer a economia da paralisaçã­o imposta pela Covid-19. É claro que tudo isso passa por um massivo investimen­to em formação e capacitaçã­o dos recursos humanos do país. Mas com uma geografia humana em que mais de 60% da população tem menos de 30, isso não é um problema. Pelo contrário, é mais um passo em frente para a sustentabi­lidade de um desenvolvi­mento assente no uso inteligent­e e efectivo das novas tecnologia­s.

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