A tentação da opinião sobre os demais enunciados jornalísticos
Tem sido cada vez mais notória atitudes de alguns locutores, pivôs ou apresentadores em adejectivarem de boa ou má uma notícia, até mesmo, em fazerem juízos de valores sobre assuntos divulgados em reportagens ou notícias jornalisticamente incompletas, que não integram depoimentos das duas partes. Alguém poderá dizer que no Brasil ou noutra realidade também é assim. Mas, o certo é que no Jornalísmo não é assim, havendo contudo a relatividade em visões teóricas, mas não é a regra.
Este artigo tem o objectivo de discordar da tendência de alguns pivôs em opinar sobre notícias ou matérias de carácter informativo, em sede de formatos de comunicação informativa, em circunstâncias, inclusive, em que o princípio do contraditório não é cumprido, chegando ao ponto de fazerem juízos de valores sobre pessoas ou instituições visadas, sem sequer ouvi-las; obejctiva-se ainda mostrar que tal moda não procede de um Jornalismo que se prese pelo rigor, isenção e imparcialidade que se impõe.
O Jornalismo enquanto ciência da informação tem as suas próprias formas de manifestar a sua leitura sobre os diferentes assuntos que dão sentido à vida humana nesta dimensão cronológica. Estas formas, porém, antes de integrarem no regaço da profissão, para os devidos efeitos, devem cumprir determinados critérios.
Ademais, a manifestação pública dos assuntos que cumpram os respectivos critérios obedece às regras de três formas de abordagens distintas, determinadas pela natureza da informação jornalística. São as abordagens descritiva, analítica e opinativa, sobre as quais assentam toda a sorte dos géneros jornalísticos.
O Jornalismo não é o dono da verdade, nem tão pouco o é o jornalista. Entretanto, ele tem a verdade como o seu objectivo. E as ferramentas às quais o Jornalismo recorre no encalço da verdadade informativa manifestam-se pela descrição e análise. A opinião por regra é relegada para as partes interessadas, que podem ser ou não jornalistas. Jorge Pedro Sousa no livro: Elementos de Jornalismo Impresso, sobre o assunto reforça essa perspectiva, afirmando que “geralmente, os jornalistas recorrem à descrição e à análise, deixando a opinião para colunistas, especialistas e opinantes” (2001).
Por cá, sobretudo, ao nível do Jornalismo Radiofónico e Televisivo, a opinião é o enunciado mais proeminente, em detrimento da análise e descrição. O jornalista Ismael Mateus, durante o debate promovido pelo Sindicato dos Jornalistas Angolanos no dia 2 do corrente, designou este fenómeno como carácter excessivo opinativo da comunicação social, em detrimento de um jornalismo mais interrogativo.
Em vista disso, numa época caracterizada pela evolução tecnológica no sector da informação e comunicação, em que “todo mundo sabe de tudo um pouco”, o Jornalismo precisa de se arrepender das suas culpas de manipulação, voltando aos manuais e acatar os ensinamentos ortodoxos da profissão, sob pena de confundir cada vez mais a audiência na distinção entre opinião e notícia, facto e opinião, entre tribunal e os media, contribuindo desta feita na degradação da credibilidade do Jornalismo que há muito tem sido posta em causa.
A Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERCA) e a Comissão da Carteira e Ética (CEE) têm um papel como que de sentinela para garantir a sobrevivência da profissão. A ERCA tem, entre outras, a responsabilidade de garantir que os conteúdos divulgados pelos media se pautem por critérios rigorosos que correspondam as boas práticas do Jornalismo, sendo que a CEE, para além de garantir e assegurar o funcionamento do sistema de acreditação dos profissionais de informação da comunicação social no país, tem o dever de suspender ou cassar a carteira do jornalista, assim como o acto de sancionar e julgar a violação dos deveres ético-deontológicos da profissão.
Com efeito, é urgente que as referidas instituições procedam em conformidade com os seus objectivos e atribuições, nos termos da lei, para o estabelecimento da ordem e equilíbrio, sobretudo, nas questões em que são flagrantes as violações dos deveres éticos e dentológicos da profissão e que, no mais das vezes, não tem havido a intervenção oportuna das mesmas.
Desafios em tempos de mudança, em que esperar pelo “normal” é perder tempo que não temos.silêncio
As mudanças que vivemos nos últimos meses condicionaram fortemente qualquer estratégia ou plano em execução. A digitalização da banca acelerou, não por uma visão estratégica, ou por uma evolução natural do modelo de negócio, mas sim por um fator externo “disruptivo” que impôs a necessidade deste novo “normal”.
Arriscamos em afirmar que a digitalização da sociedade e do setor financeiro deram um salto de cinco anos em cinco meses. Não nos referimos a nova “tecnologia”, mas sim à adoção da mesma no diaa-dia, na forma como as empresas realizam negócios e na forma como se concretiza o consumo.
Os canais digitais na banca deixaram de ser canais complementares para serem a forma possível de interação com os clientes e concretização de negócio. Nesta nova realidade, o futuro passou a ser o hoje, e os programas de transformação digital com uma execução prevista em anos passaram a ter o objetivo de serem executados em meses. Dentro desta não opção (porque não foi uma opção) de adotar o digital, os bancos continuam com a necessidade de se diferenciarem. Na Asseco PST, acreditamos que esta diferenciação acontece na vertente digital pela resposta de cada banco a três questões principais: conveniência, personalização, segurança.
Na conveniência, aspetos como facilidade de primeiro acesso ao banco, canais disponíveis, facilidade de autenticação, experiência de utilização, produtos e serviços complementares, apoio
“live” ao cliente, notificação e aconselhamento proactivo são cruciais.
No entanto, e sempre que tentamos auxiliar um cliente, podemos incorrer no excesso ou escassez de interação, e aí entramos no tema personalização, com duas dimensões distintas. A primeira: deixar o cliente configurar a sua interação com o banco da forma que lhe é mais conveniente, página de entrada, conceito de “favoritos”, organização de “menus”, controlo das suas finanças, alertas pessoais, mecanismos de poupança, etc. A segunda: o banco inferir do comportamento do cliente os temas em que o deve notificar, aconselhar, adaptar experiência de utilização e refinar processos (esta última dimensão muito relacionada com a analítica de dados e IA).
Por fim, a segurança, onde a explicação é simples. A interação tem de ser segura, caso contrário vamos ter perdas financeiras, danos na credibilidade e, ainda mais difícil de restaurar, a perda da confiança dos clientes.
Em conclusão, não adianta esperar pelo “antigo normal”. Ele não voltará. Este “novo normal” poderá regredir um pouco, mas antevemos que esta onda (que chegou acelerada pela pandemia) faça parte de um “set” com ondas maiores (como no surf), e as seguintes serão cada vez mais estruturais e modificadoras do negócio. Quem vende, como vende, a quem vende, que meios usa para vender, são perguntas que terão respostas em evolução contínua.
Esta onda tem de ser surfada rapidamente, preparando ao mesmo tempo as instituições para as próximas ondas que serão mais exigentes em aspetos operacionais e regulatórios da atividade financeira.
Administrador da Asseco PST