“Nkawu”, símbolo da hierarquia Bakongo em exibição
O objecto, pertencente ao grupo etnolinguístico Bakongo, é tido como um símbolo da hierarquia do poder político tradicional e encontra-se na sala de exposição permanente do Museu Nacional de Antrolopolgia, no quadro do projecto “A Peça do Mês”
Apeça denominada “Nkawu” (Bastão) é a terceira exposta, nesta fase de pandemia, pelo Museu Nacional de Antropologia, nas suas instalações, em Luanda, por forma a dar sequência ao projecto “A Peça do Mês”, referente ao mês de Setembro.
O objecto, pertencente ao grupo etnolinguístico Bakongo, é feita de madeira com a extremidade inferior, em forma de lança, decorada em baixo relevo, com figuras geométricas, subdivididas por três círculos convexos, que realçam toda a sua ornamentação.
A mesma constitui um dos símbolos (mais) representativos do poder tradicional, ostentado pelos soberanos nas cerimónias de julgamento, que, geralmente, realizam sob uma larga e umbrosa árvore designada por “YalaNkuwu”, que, em algumas áreas Kikongo, recebe o nome de “Sombra da verdade”.
Segundo o director do museu, Álvaro Jorge, a peça é um símbolo de hierarquia do poder político tradicional, usado na entronização do fórum jurídico, em que o chefe ‘espeta’ o bastão no chão, como indicador da abertura da audiência.
“Estamos sempre com este projecto, que teve início em 2016. No mês passado apresentámos o ‘O Pescador’, que é designado aqui no país, principalmente, pelos ilhéus, como ‘Mutambe a Mbiji’. É uma actividade que nos agrada muito”, enfatizou.
Utilização da peça
A maioria da população angolana, sobretudo a que vive nas zonas rurais, é regida. O seu exercício resulta do prolongamento do sangue, valordosantepassadosdasdiferentes linhagens até aos seus actuais detentores.
No desempenho das suas funções de orientação politica, religiosa,
cultural, económica e de supervisão da administração da justiça nas áreas sob sua jurisdição, as entidades soberanas, conhecidas como autoridades tradicionais, recebem os títulos de “Ntotila” para os Bakongos, “Mwanangana” para os Tcokwe, “Osama” para os Ovimbundu e “Ngola” entre os Kimbundu e outros.
Consta que essas designações só podem ser outorgadas aos grandes chefes que têm sob a sua responsabilidade uma etnia e deverá ter sob a sua alçada uma corte, conforme referenciada. A legitimidade e a consagração do poder das autoridades tradicionais obedecem a certos rituais, para que a comunidade as reconheça, as respeite e as venere como representantes dos seus ancestrais e de ‘Deus’. Por outro lado, esse poder ao cargo tornase vitalício a partir da entronização, outorga e ostentação dos símbolos de poder.
Visualização
O director do museu avançou que, nesta fase de pandemia, infelizmente, não se tem um número elevado de visitantes, com grandes aglomerados, mas, ainda assim, são reguladas as medidas de biossegurança contra a doença do Novo Coronavírus. Tendo em conta a dimensão das salas, fazem com que em cada uma se façam presentes cinco visitantes, por forma a mitigar os efeitos nefastos da pandemia.
“Isso é um imperativo! Cumprimos com as recomendações exigidas. Recebemos, também, da tutela do Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente materiais de biossegurança. Temos os termómetros infra-vermelho, o álcoolgel, as máscaras, luvas e é de uso obrigatório no museu”, aclarou.