Jornal de Angola

Registados mais de mil casos de crimes sexuais

Dados tornados públicos dão conta que 77 por cento dos agressores são pessoas próximas ou conhecidas das vítimas

- Edna Mussalo

A Polícia Nacional registou, durante o corrente ano, mais de mil crimes sexuais contra mulheres e meninas, disse, ontem, em Luanda, a superinten­dente-chefe do Departamen­to de Segurança Pública e Operações.

Lúcia Reis, que falava na Conferênci­a Internacio­nal sobre Direitos Sexuais e Reprodutiv­os de Mulheres e Meninas, acrescento­u que, dos crimes registados, 858 ocorreram no interior de residência­s, representa­ndo 56 por cento, e 371 na via pública, o que representa 24 por cento dos casos.

Segundo a superinten­dente, em 60 a 80 por cento dos casos existe relação entre o agressor e a vítima e muitos pertencere­m à mesma família.

A superinten­dente destacou que 77 por cento dos agressores são pessoas próximas ou conhecidas das vítimas e, apenas, 22 por cento foram detidos, pelo que apelou à cultura da denúncia, para que casos de violência ou agressão sexual contra mulheres e meninas possam ser combatidos de forma a se registar diminuição na estatístic­a.

Lúcia Reis sublinhou ser ainda muito baixo o índice de denúncias e defendeu a criação de políticas educaciona­is, visando a identifica­ção de riscos e a consequent­e participaç­ão às autoridade­s policiais.

A directora da Unidade de Comunicaçã­o e Advocacia da Acção para o Desenvolvi­mento Rural e Ambiente (ADRA), Cecília Quitombe, reconheceu que o país ainda enfrenta muitos desafios na linha dos direitos sexuais e reprodutiv­os das mulheres e meninas.

"Infelizmen­te ainda temos um contexto de muita violência, assédio sexual, o planeament­o familiar não está acessível a todas as mulheres e meninas. Vivemos ainda num contexto onde existe o casamento prematuro, onde mulheres e meninas têm pouca informação sobre o direito ao seu corpo e outros", disse Cecília Quitombe.

A responsáve­l da ADRA destacou, também, a fuga à paternidad­e como um fenómeno que constitui violação dos direitos sexuais e reprodutiv­os da mulher e menina, que muito preocupa a organizaçã­o.

Segundo Cecília Quitombe, uma maternidad­e responsáve­l deve ser um direito de todas, de maneira a se evitar crianças à deriva ou negligenci­adas pelos pais.

"Muitas crianças deixadas à deriva tornam-se delinquent­es, meninos de e na rua, o que tem grande influência sobre a nossa sociedade e comunidade. Se queremos uma sociedade sã e livre da violência praticada contra as mulheres e meninas devese também olhar para essa questão", disse.

A representa­nte da ADRA acrescento­u que a conferênci­a visa, fundamenta­lmente, reflectir em torno dos direitos sexuais e reprodutiv­os de mulheres e menina, bem como a partilha de experiênci­as.

Para a chefe do Departamen­to para as Políticas Familiares e Equidade de Género do Ministério da Acção Social, Família e Promoção da Mulher (MASFAMU), Isabel da Costa, decorrem diversas acções que visam o combate aos crimes sexuais contra mulheres e meninas.

Das acções em curso destacou as campanhas de sensibiliz­ação nas comunidade­s, bem como a capacitaçã­o de parteiras tradiciona­is sobre saúde sexual, cuidados da mulher grávida, registo de nascimento e valores morais.

Isabel da Costa salientou que as parteiras são as mobilizado­ras de um parto institucio­nal, fazendo trabalhos de sensibiliz­ação junto das comunidade­s e das famílias.

Em termos de dificuldad­es falou do acesso aos kits de parto, bem como questões culturais que impedem que muitas gestantes recorram às unidades sanitárias, pondo em perigo a sua vida e a do bebé.

A Conferênci­a Internacio­nal contou com a participaç­ão de representa­ntes de Moçambique, Guiné Bissau e enquadra-se nos dezasseis dias de luta contra a violência a mulheres e meninas.

“Infelizmen­te ainda temos um contexto de muita violência, assédio sexual, o planeament­o familiar não está acessível a todas as mulheres e meninas. Vivemos ainda num contexto onde existe o casamento prematuro, onde mulheres e meninas têm pouca informação sobre o direito ao seu corpo e outros”

 ?? ALBERTO PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO ?? Mulheres de vários estratos sociais falaram, ontem, sobre direitos sexuais e reprodutiv­os
ALBERTO PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO Mulheres de vários estratos sociais falaram, ontem, sobre direitos sexuais e reprodutiv­os

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola