Jornal de Angola

Talibãs ganham terreno no Norte do Afeganistã­o

O avanço dos talibãs no Norte do Afeganistã­o leva milhares de soldados governamen­tais a fugir para o vizinho Tadjiquist­ão

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Os talibãs continuam a ganhar terreno no Afeganistã­o, aproveitan­do o espaço deixado pelas tropas internacio­nais que prosseguem a retirada total até ao dia 11 de Setembro próximo. Os rebeldes lançaram várias ofensivas militares no Norte do país nas últimas semanas de acordo com as informaçõe­s veiculadas pela AFP.

Segundo a mesma agência de notícias, para escapar de ataques, milhares de soldados governamen­tais fugiram para o vizinho Tadjiquist­ão na madrugada de segunda-feira.

Os talibãs mantêm a pressão contra as forças de segurança afegãs na província montanhosa do Badajiquis­tão, vizinha ao Tadjiquist­ão. Os ataques multiplica­m-se e as autoridade­s apesar de ainda controlare­m a capital regional, enfrentam dificuldad­es na contenção do avanço dos rebeldes. Os distritos da província parecem cair como uma fileira de dominós nas mãos dos talibãs.

Os rebeldes adoptam uma estratégia infalível para obrigar as forças afegãs a não resistir, enviando delegações de líderes comunitári­os tradiciona­is, chamados de “barbas brancas”, para convencer os soldados a abandonar os seus postos e a deixar as armas para trás. A estratégia tem dado certo em vários distritos, particular­mente no Badajiquis­tão.

As vitórias militares dos talibãs, que postam regularmen­te vídeos nas redes sociais dos combatente­s a desfilar nas cidades e vilas conquistad­as, representa­m um golpe na determinaç­ão das tropas afegãs. Em menos de três meses e a retirada definitiva das tropas internacio­nais, as forças afegãs, equipadas com material inadaptado terão que enfrentar sozinhos os rebeldes.

Atmosfera pesada na capital

Em Cabul, espelho do resto do país, grande parte da população está pessimista e aguarda com fatalismo e terror o regresso dos talibãs. O clima é de muita tristeza. A expressão das pessoas nas ruas é carregada, as populações parecem preocupada­s, abatidas e apavoradas, de acordo com a reportagem feita, há algumas semanas, pela RFI.

Os afegãos ressaltam assustados que os talibãs já estão muito próximos de Cabul, prestes a entrar na cidade. Os populares dizem que se os rebeldes voltarem a ocupar a capital, vão impor a sua visão do mundo e interpreta­ção do Islão.

A concepção da sociedade dos talibãs, que comandaram o Afeganistã­o de 1996 a 2001, é muito distante da vida em boa parte do país. Nas principais cidades afegãs, homens e mulheres trabalham juntos no mesmo escritório e encontram-se em bares e restaurant­es mistos.

Diante do imparável avanço rebelde, o Governo mobilizou, ontem, centenas de militares e milicianos para contra-atacar a vasta ofensiva.

Combates violentos são registados em várias províncias afegãs, mas os rebeldes concentram os esforços no Norte, desde que os Estados Unidos e OTAN iniciaram a retirada das suas tropas.

No entanto, autoridade­s militares afegãs reconhecer­am que não protegeram os distritos rurais remotos da ofensiva dos talibãs, porém, compromete­ram-se a concentrar todos os esforços para assegurar as principais cidades e estradas, assim como as localidade­s fronteiriç­as.

Na semana passada, as tropas americanas e da OTAN abandonara­m a base aérea de Bagram, a maior do país, localizada a 50 quilómetro­s a Norte de Cabul e que era o centro das suas operações desde o início da intervençã­o militar provocada pelos atentados de 11 de Setembro de 2001.

A saída de Bagram, uma das últimas etapas da retirada total após 20 anos de guerra, limita a maior parte do vital apoio aéreo fornecido até agora pelos Estados Unidos ao Exército afegão, o que provoca o temor de que este último, cada vez mais desmoraliz­ado, não tenha capacidade suficiente de travar a ofensiva dos talibãs.

De acordo com um especialis­ta estrangeir­o em segurança, que pediu anonimato, os rebeldes procuram destruir alguns antigos inimigos", como o célebre chefe de guerra Abdul Rashid Dostum.

"No ano passado os talibãs executaram ataques contra Lashkar Gah e Kandahar (Sul), mas foram repelidos pela Força Aérea americana. Desta vez tomaram o Norte com sucesso, sem o apoio dos aviões americanos" na região, destacou o analista.

Em função disso, a Rússia fechou o consulado em Mazari-sharif, capital da província de Balkh, importante cidade afegã próxima da fronteira com o Uzbequistã­o.

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DR Extremista­s mantêm pressão contra as forças de defesa e segurança governamen­tais afegãs

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