Unicef reforça apelo de ajuda a Moçambique
O agravamento da crise humanitária em Cabo Delgado levou o Unicef a reforçar o apelo para acudir a situação em Moçambique
O Unicef aumentou o valor do apelo humanitário para Moçambique de 52 milhões para 96,5 milhões de dólares para apoiar as vítimas da violência armada.”será necessário mais apoio da comunidade internacional para responder adequadamente às necessidades da população afectada nas províncias do Norte e para continuar a apoiar as pessoas afectadas por desastres naturais que ocorreram no Centro de Moçambique”, disse Maria Luisa Fornara, representante do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), citada numa nota da entidade a que a Lusa teve acesso.
Segundo o Unicef, do valor total, 55,7 milhões de dólares serão canalizados para os deslocados da violência armada em Cabo Delgado, 46 por cento dos quais são crianças. “Muitas crianças sofreram traumas profundos. Se não forem tratadas, poderão tornar-se um factor para uma crise prolongada que poderá rapidamente alastrar a outras áreas”, referiu o Unicef no documento.
Para a agência das Nações Unidas, a situação humanitária em Moçambique “deteriorou-se significativamente” desde o início do ano, face aos contínuos ataques em Cabo Delgado, surtos de doenças transmissíveis e o impacto do ciclone Eloise. De acordo com o Unicef, mais de 300 mil crianças em idade escolar estão deslocadas e dependem da escolarização de emergência, estimando-se que 33 mil estejam a sofrer de desnutrição potencialmente fatal.
Deslocados de guerra que chegam a Pemba relatam um cenário de terror, num alerta acompanhado pelas Nações Unidas, enquanto o Governo dá a situação como controlada. “Palma não está calmo, ainda há violência”, conta Mussa Amade, 56 anos, que chegou a Pemba há uma semana num barco carregado com 106 pessoas - das quais 46 crianças - em fuga de Quitunda, local onde decorriam os projectos de gás até ao ataque de 24 de Março.
Quase três meses volvidos, apesar de as autoridades terem anunciado em Abril que era seguro regressar à vila de Palma, sede de distrito, “os tiros continuam” e “já houve mortes”, num cenário em que prevalece o medo. “Quem não fugia de Palma, era perseguido”, descreve Mussa à Agência Lusa, acerca do cenário das últimas semanas, dando conta de noites em que desconhecidos entraram nas casas, para matar, raptar e saquear o que podiam. “Muitas pessoas estavam a ceifar arroz e eles aproveitaram”, relata.
O ministro da Defesa de Moçambique, Jaime Neto, disse que há um esforço adicional em curso e que as autoridades controlam a situação, em declarações feitas na semana passada a jornalistas, em Maputo. “Naturalmente, quando há um ataque existe um deslocamento das populações de um ponto para outro, mas, de um modo geral, a situação está sob controlo”, disse.
Numa actualização divulgada no domingo, o Altocomissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) refere que “os distritos costeiros de Mocímboa da Praia, Quissanga e Palma, bem como os distritos de Meluco e Muidumbe, são considerados de difícil acesso devido à presença de grupos armados, insegurança, dificuldades logísticas e de transporte”.
A ajuda essencial ainda não conseguiu entrar, numa altura em que “é fundamental alcançar as populações nessas áreas”, destaca a organização, referindo que “as comunidades deslocadas e anfitriãs precisam urgentemente de assistência humanitária” por não terem alimentos, serviços de saúde nem abrigo”.