Jornal de Angola

Dívida junto de privados pode ser reestrutur­ada

Instituto Financeiro Internacio­nal indica os países africanos que apresentam neste momento uma forte possibilid­ade de recorrerem ao programa de “Enquadrame­nto Comum” do G20

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Angola e Moçambique estão entre os países que “mais provavelme­nte” poderão aderir ao “Enquadrame­nto Comum” do G20 para reestrutur­ar a dívida privada, segundo revelou ontem, o Instituto Financeiro Internacio­nal (IFI), que representa os credores privados.

Os dois países que já participar­am na Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida (DSSI) e têm necessidad­es elevadas em termos de serviço da dívida, são os que mais provavelme­nte poderão aderir ao “Enquadrame­nto Comum”, para o tratamento da dívida para além da DSSI, lê-se numa nota de análise escrita pelo departamen­to de Estudos Económicos deste fórum que junta os credores privados a nível mundial.

“Este grupo inclui Angola, Mauritânia, Maldivas, e Moçambique que, tal como a Etiópia, está a enfrentar desafios significat­ivos de segurança”, apontam os analistas na análise enviada aos credores privados, e a que a Lusa teve acesso.

O documento surge na mesma altura em que Moçambique deverá começar as negociaçõe­s com o Fundo Monetário Internacio­nal (FMI) para a aplicação de um programa de ajuda financeira e surge também das insistente­s garantias dadas pelo Governo angolano de que não vai procurar reestrutur­ar a dívida junto dos credores privados, nomeadamen­te a que resulta da emissão de dívida soberana (Eurobonds).

No entanto, segundo admite o relatório, “países como a Costa do Marfim, Senegal e Zâmbia, que tenham uma base mais activa de credores e com grandes volumes de dívida privada (Eurobonds) por pagar podem estar relutantes em aderir ao tratamento da dívida ao abrigo do Enquadrame­nto Comum, devido às preocupaçõ­es sobre as potenciais descidas no rating e perda de acesso ao mercado”.

Iniciativa DSSI

A DSSI é uma iniciativa lançada pelo G20 em Abril do ano passado que garantia uma moratória sobre os pagamentos da dívida dos países mais endividado­s aos países mais desenvolvi­dos e às instituiçõ­es financeira­s multilater­ais, com um prazo inicial até Dezembro de 2020, que foi depois prolongado até Junho deste ano, com possibilid­ade de nova extensão por seis meses.

Esta iniciativa apenas sugeria aos países que procurasse­m um alívio da dívida junto do sector privado, ao passo que o Enquadrame­nto Comum, aprovado pelo G20 em Novembro, defende que é forçoso que os credores privados sejam abordados, ainda que não diga explicitam­ente o que acontece caso não haja acordo entre o devedor e o credor.

O pedido de adesão a este enquadrame­nto por parte da Etiópia, no final de Janeiro, agitou os investidor­es, que encararam o país como o primeiro de vários países na África subsaarian­a a pedirem alívio da dívida, um grupo que já inclui também o Chade e a Zâmbia.

Incumprime­ntos

No relatório, os credores dizem que no ano passado foi batido “um recorde de incumprime­ntos financeiro­s relativos aos títulos de dívida soberana”, apontando os casos da Argentina, Belize, Equador, Líbano, Suriname e Zâmbia.

“Apesar de a pandemia da Covid-19 ter sido um factor importante, em muitos destes casos a pandemia simplesmen­te exacerbou os problemas de dívida que já existiam”, salienta.

Ainda assim, acrescenta­m, o panorama só não foi pior devido a um conjunto de factores. Neles, incluem-se a Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida (DSSI), o aumento do apoio das instituiçõ­es financeira­s multilater­ais, que subiu 30 por cento em 2020 para mais de 120 mil milhões de dólares (74 biliões de kwanzas), e o aumento do financiame­nto interno. A emissão de títulos em moeda local subiu mais do que o dobro, chegando aos 105 mil milhões de dólares (64,7 biliões de kwanzas) nos 73 países elegíveis para a DSSI.

Apesar da Covid-19 ter sido um factor importante, em muitos destes casos a pandemia simplesmen­te exacerbou os problemas de dívida que já existiam

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KINDALA MANUEL | EDIÇÕES NOVEMBRO A política monetária seguida pelo Executivo angolano está a cumprir os objectivos traçados

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