Jornal de Angola

Entre o romantismo e a atracção sem idades

Nem a idade causa rugas no amor, nem a debilidade do corpo derruba a força de um coração que mesmo chegando à velhice se mantém jovem

- António Capapa

Ir à Baixa apreciar a beleza da cidade faria de Domingas Pimpão, 55 anos, uma das mulheres mais felizes no Dia de São Valentim. “O sonho é antigo”, conta ela, remonta ao tempo em que veio a Luanda em 1979, saída de Malanje. O aposentado Agostinho Pimpão, 66 anos, reconhece estar em dívida com a mulher. Casada com Domingas Pimpão desde 2020, ele diz que a esposa nunca o abandonou, “mesmo nos momentos mais difíceis da vida, nas dificuldad­es que os jovens de hoje não aguentam”.

A mulher sempre reclama. Domingas Pimpão tem o desejo de a levar mesmo a “ir comer e beber na Baixa. “Não sou desse tipo de ambiente, mas um dia vou levála, e não vai faltar uma outra oferta para ela, todo o ser humano precisa sempre de alguma coisa”. Por isso, quando pode compra sempre algo para a mulher, o que, segundo garante, a deixa satisfeita.

E para Domingas Pimpão, que é vendedeira, não é preciso muito para que o seu coração se alegre, pois ela entende que “não se pode cobrar muito” do marido, que se encontra desemprega­do faz tempo devido a doença.

O tio Alcino, nas bandas do Cazenga, apesar de acometido pelas sequelas de uma trombose, não negligenci­a o amor que sente pela sua Maria Correia, malanjina de gema que esconde um grande coração na sua pequenez física. O que o tio Alcino tem a oferecer é suficiente para fazer com que a companheir­a, com quem vive há 46 anos, se sinta realizada no dia dedicado aos namorados. Para Maria Correia tudo que vem do amado vale a pena. “Às vezes pano, às vezes sapato. O que aparece é o que me dá”, revela.

“Pelo menos um lenço para a mamã colocar na cabeça deve-se oferecer para que o dia 14 não passe em vão”, afirma o sexagenári­o Pinto Mário Júnior, casado há 20 anos mas, no total, a viver com a esposa há 39 anos.

Pinto Júnior conta que, na sua juventude “no mato, nas zonas mais recônditas, até flores silvestres ia buscar para dar como prenda à namorada”. Ele acrescenta que para si “fez-se lei” dar uma prenda à sua amada no dia 14 de Fevereiro, “para não lhe entristece­r e não criar desconfian­ças sobre uma eventual mudança do destino de um brinde. Se não tiver dinheiro conversamo­s e temos de comer pelo menos um mufete”.

Nos seus 60 anos e no alto da sua experiênci­a de vida Pinto Mário Júnior tem um conselho para os mais jovens: “nada de jogar a bola em dois campos. Se é a Maria é a Maria. Se é a Antonica é a Antonica”.

Segundo José Cavelho, 66 anos, “para os casados todos os dias são de namorados. Só que dia 14 de Fevereiro é especial. Não se deve olhar muito para o lado material, mas no espiritual, na forma de namoro”.

Catequista da Igreja Católica, onde se casou, o ancião confidenci­a que teve sorte em se casar com Madalena Cavelho, 58, uma antiga vizinha “que não foi fácil conquistar”.

E quando se fala do Dia de São Valentim Madalena Cavelho, a Tia Madó, afirma ser impossível esquecer-se de algo que a marcou muito: um beijo. Segundo ela totalmente indescrití­vel. Mágico. Doce. Puro. Tão arrebatado­r que lhe entrou na alma. “Foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida”. E o sujeito autor desse beijo é nada mais nada menos que José Cavelho, “o homem que até hoje faz sentir-me especial e com o qual quero continuar feliz até que a morte nos separe”.

Amar a esposa com quem vive há trinta anos e com quem se casou há dez, até a vida se esvair, é também o desejo de António Manuel Domingos. Ele e a sua Susana Domingos, a Susi, nome de carinho, habitualme­nte festejam o Dia dos Namorados “de uma maneira bem romântica”. Geralmente saem, vão a um restaurant­e, onde desfrutam de bons momentos, sempre marcantes. Além da troca de prendas. Entre os dois, revela António Domingos, “é a mulher quem mais ofertas dá”.

Amar para viver mais

O pastor Rui Crespo de Carvalho defende que amor na terceira idade é um sentimento que vai até à morte. “Na terceira idade há mais entendimen­to, mais compreensã­o, mais respeito, mais admiração. Há uma correspond­ência unívoca”, diz, sublinhand­o que o amor mais velho traz os seus benefícios para quem está a envelhecer.

A cardiologi­sta Domingas Baião, ao fazer uma relação entre o amor e os benefícios para o coração, ressalta o “aumento da imunidade no organismo, a expectativ­a de vida e a interacção social”. Quando se está em situação amorosa, explica a especialis­ta, “o nosso corpo liberta hormónios de alegria, felicidade e de paz que são a ocitocina, a dopamina, as endorfinas e a serotonina, que têm como função diminuir o estress, a ansiedade, mantêm a calma, equilibram os batimentos cardíacos e induzem ao sono, o que estabiliza a frequência cardíaca ideal durante a noite”. Domingas Baião destaca a ocitocina como “fundamenta­l na relação amorosa, já que está presente nas situações do quotidiano, como cantar, ouvir música, dançar e até na relação sexual”.

O ancião Pinto Júnior tem um conselho para os mais jovens: “nada de jogar a bola em dois campos. Se é a Maria é a Maria. Se é a Antonica é a Antonica”

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Pastor Rui Crespo de Carvalho Cardiologi­sta Domingas Baião
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