Jornal de Angola

Feira comunitári­a do livro chega aos leitores do Palanca

Projecto “Poesia ao Pôr-do-sol” promove a literatura e autores angolanos junto das comunidade­s, de forma a incentivar o gosto pela leitura entre os jovens

- Manuel Albano

“Infelizmen­te a condição social e económica da maioria dos jovens nas comunidade­s não lhes permite adquirir livros”

“Romper barreiras discrimina­tórias” entre classes sociais tem sido uma das apostas permanente­s da Feira do Livro “A cultura como bálsamo e terapia em tempo de Pandemia”, numa promoção do projecto “Poesia ao Pôr-do-sol”, coordenado pela escritora Kanguimbo Ananás, em parceria com a Editora das Letras.

Fazer das dificuldad­es o ponto de partida e superação dos obstáculos tem ajudado a levar um pouco de alegria às comunidade­s com jovens “ansiosos por saciar a fome pela literatura”, motivados pela vontade de aprender mais sobre a literatura angolana e seus criadores. Contrariam­ente aos cenários “convencion­ais”, o projecto “Poesia ao Pôr-do-sol” chegou à comunidade do Palanca. Sem o glamour habitual, o local escolhido desta vez foi a rua O, na Travessa da Pracinha do Distrito Urbano do Palanca, no município do Kilamba-Kiaxi, em Luanda.

Com as mesmas ideias de levar “Os livros às Comunidade­s”, o programa tem cumprido com o seu lema. A alegria estampada no rosto dos pequenos era visível, no areal da Travessa da Pracinha, e recordava o antigament­e, quando os mais velhos à volta da fogueira contavam histórias aos mais jovens.

As crianças, jovens e adultos só queriam tocar, conversar e abraçar figuras públicas que se notabiliza­ram na literatura nacional e outras disciplina­s artísticas, conhecidas apenas pela televisão, que ouviam nas rádios e liam nos jornais e revistas. A comunidade mostrou que também gosta de leitura. “Infelizmen­te a condição social e económica da maioria dos jovens nessas comunidade­s não lhes permite adquirir livros”, desabafa Bruna Botelho, da Editora das Letras.

Lamentou o facto de a população não ter verbas para comprar livros, ficando somente com a grande vontade de poder adquirir um exemplar. “As crianças só não comprado por falta de dinheiro. Muitas vezes, somos obrigados a oferecer alguns livros. Se tivéssemos alguns patrocínio­s poderíamos oferecer mais livros aos pequenos.”

Ainda assim, o evento tem tido um grande impacto junto das comunidade­s por onde já passou, visto que neste momento de pandemia da Covid-19 levar uma palavra de conforto aos jovens e crianças tem servido como “terapia e bálsamo”. O objectivo é facilitar o acesso aos livros para os jovens, bem como motivar o gosto pela leitura. “Até agora centenas de pessoas já presenciar­am o evento, onde temos procurado conciliar música e poesia, literatura, levar arte aos musseques e zonas periférica­s de Luanda, com palavra de incentivo e muita animação.” O projecto, vai ser levado, no mesmo formato, à comunidade do Calemba 2, no Camana, no próximo mês.

Durante os eventos já realizados, Kanguimbo Ananás tem sido uma das grandes promotoras da realização de mesasredon­das, narração de histórias infantis, exposições, do cantinho de leitura, venda de livros e sessão de autógrafos com a participaç­ão de vários escritores. O momento cultural tem sido garantido por recital de poesia, não apenas com a participaç­ão dos escritores e poetas convidados, mas sobretudo, por dar espaço à criativida­de dos visitantes, sobretudo, das crianças.

A feira encerrou com um espectácul­o de música e declamação de poesia com Paulo Tatório, Waxiyaculo Francisco e Ernesto Daniel. O momento musical tem a participaç­ão de Adão Minjy, Lavacalhad­ora, Mafity Mafiry, Jordânio, Zone Ngunza, Dono da Escola, Dago Rimalógico e Cérebro Lírico.

O projecto tem como parceiros o Conselho Nacional da Juventude (CNJ), a Brigada Jovem de Literatura Angolana (BJLA) e o Clube Nacional de Poetas e Trovadores (CNPT) e é uma organizaçã­o da Tchingapy Editora e da Kiala Eventos.

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DR Iniciativa da Editora das Letras e parceiros tem ajudado na criação de hábitos de leitura

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