Feira comunitária do livro chega aos leitores do Palanca
Projecto “Poesia ao Pôr-do-sol” promove a literatura e autores angolanos junto das comunidades, de forma a incentivar o gosto pela leitura entre os jovens
“Infelizmente a condição social e económica da maioria dos jovens nas comunidades não lhes permite adquirir livros”
“Romper barreiras discriminatórias” entre classes sociais tem sido uma das apostas permanentes da Feira do Livro “A cultura como bálsamo e terapia em tempo de Pandemia”, numa promoção do projecto “Poesia ao Pôr-do-sol”, coordenado pela escritora Kanguimbo Ananás, em parceria com a Editora das Letras.
Fazer das dificuldades o ponto de partida e superação dos obstáculos tem ajudado a levar um pouco de alegria às comunidades com jovens “ansiosos por saciar a fome pela literatura”, motivados pela vontade de aprender mais sobre a literatura angolana e seus criadores. Contrariamente aos cenários “convencionais”, o projecto “Poesia ao Pôr-do-sol” chegou à comunidade do Palanca. Sem o glamour habitual, o local escolhido desta vez foi a rua O, na Travessa da Pracinha do Distrito Urbano do Palanca, no município do Kilamba-Kiaxi, em Luanda.
Com as mesmas ideias de levar “Os livros às Comunidades”, o programa tem cumprido com o seu lema. A alegria estampada no rosto dos pequenos era visível, no areal da Travessa da Pracinha, e recordava o antigamente, quando os mais velhos à volta da fogueira contavam histórias aos mais jovens.
As crianças, jovens e adultos só queriam tocar, conversar e abraçar figuras públicas que se notabilizaram na literatura nacional e outras disciplinas artísticas, conhecidas apenas pela televisão, que ouviam nas rádios e liam nos jornais e revistas. A comunidade mostrou que também gosta de leitura. “Infelizmente a condição social e económica da maioria dos jovens nessas comunidades não lhes permite adquirir livros”, desabafa Bruna Botelho, da Editora das Letras.
Lamentou o facto de a população não ter verbas para comprar livros, ficando somente com a grande vontade de poder adquirir um exemplar. “As crianças só não comprado por falta de dinheiro. Muitas vezes, somos obrigados a oferecer alguns livros. Se tivéssemos alguns patrocínios poderíamos oferecer mais livros aos pequenos.”
Ainda assim, o evento tem tido um grande impacto junto das comunidades por onde já passou, visto que neste momento de pandemia da Covid-19 levar uma palavra de conforto aos jovens e crianças tem servido como “terapia e bálsamo”. O objectivo é facilitar o acesso aos livros para os jovens, bem como motivar o gosto pela leitura. “Até agora centenas de pessoas já presenciaram o evento, onde temos procurado conciliar música e poesia, literatura, levar arte aos musseques e zonas periféricas de Luanda, com palavra de incentivo e muita animação.” O projecto, vai ser levado, no mesmo formato, à comunidade do Calemba 2, no Camana, no próximo mês.
Durante os eventos já realizados, Kanguimbo Ananás tem sido uma das grandes promotoras da realização de mesasredondas, narração de histórias infantis, exposições, do cantinho de leitura, venda de livros e sessão de autógrafos com a participação de vários escritores. O momento cultural tem sido garantido por recital de poesia, não apenas com a participação dos escritores e poetas convidados, mas sobretudo, por dar espaço à criatividade dos visitantes, sobretudo, das crianças.
A feira encerrou com um espectáculo de música e declamação de poesia com Paulo Tatório, Waxiyaculo Francisco e Ernesto Daniel. O momento musical tem a participação de Adão Minjy, Lavacalhadora, Mafity Mafiry, Jordânio, Zone Ngunza, Dono da Escola, Dago Rimalógico e Cérebro Lírico.
O projecto tem como parceiros o Conselho Nacional da Juventude (CNJ), a Brigada Jovem de Literatura Angolana (BJLA) e o Clube Nacional de Poetas e Trovadores (CNPT) e é uma organização da Tchingapy Editora e da Kiala Eventos.