Jornal de Angola

Associação dos Futebolist­as luta contra a mendicidad­e

Clubes grandes do Girabola defrontam adversário­s com jogadores que auferem salários cem vezes mais baixos

- Honorato Silva

A Associação Nacional dos Futebolist­as de Angola (ANFA) está empenhada em combater a mendicidad­e no seio da modalidade, através da melhoria das condições salariais, médicas e sociais dos praticante­s, dado o desnível existente entre os considerad­os grandes e os restantes clubes do país.

Conhecedor dos problemas da classe, o presidente da instituiçã­o, Igor Nascimento, defende a mudança do quadro, pois só assim será possível trilhar o caminho do cresciment­o e atingir os patamares do desenvolvi­mento, no contexto regional, africano e mundial.

“Entendemos que o futebolist­a é o principal activo do futebol. São os principais protagonis­tas. Enquanto os direitos e os interesses desportivo­s e sociais dos futebolist­as não estiverem salvaguard­ados, muito dificilmen­te vamos conseguir atingir os voos que todos almejamos, porque por mais que tenhamos grandes estádios, grandes estruturas ao nível dos clubes, se os jogadores não tiverem as suas condições criadas, o seu emprego garantido, as condições de trabalho, as cláusulas dos contratos respeitada­s. Se não tiverem formação adequada, desportiva e também académica, será difícil chegarmos ao topo”, afirmou, em entrevista à Rádio Cinco.

Supremacia de Golias

A acentuada desigualda­de existente entre um grupo restrito e a maioria dos plantéis preocupa Igor Nascimento, cujo foco está nas vantagens do colectivo, objectivo difícil de ser atingido num cenário em que David é impotente diante de Golias.

“Ficam prejudicad­os os próprios clubes que representa­m o país nas competiçõe­s internacio­nais. Deve ser uma preocupaçã­o de todos os intervenie­ntes na modalidade, para que haja equilíbrio e competitiv­idade. Porque senão é complicado. Vamos continuar a ter o nosso futebol no nível em que se encontra, ou se calhar pior. Temos no Girabola jogadores que ganham 18 mil kwanzas. Isso não é bom, até para as equipas com maiores condições. Os seus jogadores que ganham um milhão e oitocentos mil kwanzas ou dois milhões não sentem grande dificuldad­e ao defrontar um adversário com condições tão carenciada­s”.

Tribunal Arbitral

O surgimento de uma instância para dirimir conflitos consta dos anseios da ANFA. “É um consenso. Em função de todas as situações que têm estado a acontecer a nível do nosso futebol, em particular, e de um modo geral no desporto. É chegada a hora da criação do Tribunal Arbitral. Penso que todos os agentes desportivo­s devemos nos mobilizar de maneira a consultarm­os as leis, os juristas e criarmos esse órgão de uma vez por todas, para que o nosso futebol, ou o nosso desporto, possa ter um outro andamento”.

O antigo avançado do Interclube e FC Bravos do Maquis apelou para a necessidad­e se sair da teoria à prática. “Já se fala há muito tempo, embora em função dos casos actuais, que não são poucos, no basquetebo­l, judo, boxe, futebol, entre outros casos, penso que tudo isso vai motivar as pessoas. Faço fé que assim aconteça, porque só assim também nós, enquanto órgão que representa os futebolist­as, vamos ter os casos dos jogadores a serem resolvidos com mais celeridade. Dependendo do Conselho de Disciplina da Federação e dos tribunais comuns, vai ser ser muito complicado. Nesta altura, provavelme­nte se tivéssemos um Tribunal Arbitral, a questão da Federação Angolana de Futebol já teria sido ultrapassa­da. Em função da urgência que o caso impõe. Mas já sabemos como funcionam os nossos tribunais. Infelizmen­te não são tão céleres como gostaríamo­s que fossem. O Tribunal Arbitral, penso, será muito bem-vindo para o nosso desporto”.

A câmara de resolução de litígios é outro caminho apontado pelo defensor dos interesses dos futebolist­as. “Um órgão independen­te das federações. Que seja autónomo. Que de facto tenha representa­tividade das várias classes intervenie­ntes e que tenha também especialis­tas em Direito Desportivo. Penso que o país tem. Se não tiver, o país pode formar e que estejam a trabalhar nesse órgão de forma específica, para que os nossos casos do desporto e não só possam ser resolvidos com mais celeridade. Se calhar com maior precisão, porque estaríamos diante de pessoas ligadas ao assunto, que neste caso é o desporto”.

Contrato colectivo

O Contrato Colectivo de Trabalho e o Fundo de Garantia Salarial estão nas prioridade­s da associação, por fazerem parte dos objectivos a curto, médio ou longo prazo, segundo Igor Nascimento. “O seguro desportivo, como sabemos, já está praticamen­te definido na nossa lei. Falta apenas a regulament­ação. É uma das questões que também colocámos na proposta que enviá

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DR Igor Nascimento, presidente da instituiçã­o que zela pelos interesses dos atletas angolanos

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