Presidente lamenta mortes nos protestos contra abusos
Muhammadu Buhari apela aos manifestantes para cessarem manifestações contra a Polícia e adverte que “sob nenhuma circunstância serão tolerados” actos que ameacem a segurança nacional, a lei e a ordem
O Presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari, lamentou, quinta-feira, que “vidas humanas se tenham perdido” devido aos violentos protestos contra os abusos policiais, tendo avisado os manifestantes que não permitirá que ponham “em perigo a paz e a segurança nacional”.
“Entristece-me profundamente que vidas inocentes tenham sido perdidas. Estas tragédias são injustificadas e desnecessárias”, disse Buhari numa mensagem à nação.
O chefe de Estado nigeriano apelou à população para “resistir à tentação de ser utilizada por elementos subversivos para causar o caos e matar” a democracia.
Os protestos na Nigéria têm como alvo os membros do Esquadrão Especial Antiroubo (SARS, em inglês), uma força policial acusada por grupos de defesa dos direitos humanos de ter matado e torturado cidadãos nigerianos.
A contestação, que conta com uma forte mobilização de jovens, teve início depois de um vídeo de agressões alegadamente cometidas por membros do SARS ter sido divulgado nas redes sociais.
Como resposta aos protestos, o Governo nigeriano anunciou, no dia 11 de Outubro, que iria desmantelar esta força policial, mas tal não foi suficiente para demover os manifestantes, que reclamam o fim das agressões por parte das forças de segurança.
“Infelizmente, a rapidez com que agimos (para desmantelar o SARS) parece ter sido mal interpretada como um sinal de fraqueza, e distorcida por alguns pelos seus interesses egoístas e antipatrióticos”, disse Buhari no discurso.
De acordo com a Amnistia Internacional, pelo menos 56 pessoas morreram desde o início dos protestos, em 8 de Outubro, incluindo 38 na passada terça-feira, em Lagos.
Os protestos têm-se realizado um pouco por todo o país, que conta com uma população superior a 196 milhões de pessoas, com principal destaque para a maior cidade, Lagos, a capital, Abuja, e outras importantes cidades, como Port Harcourt, Calabar, Asaba e Uyo.
Além dos confrontos entre Polícia e manifestantes, nos últimos dias, a Nigéria tem sido palco de pilhagens e roubos a supermercados e bancos.
De acordo com o governo do estado de Lagos, um armazém que continha milhares de sacos com alimentos, destinados a famílias afectadas pela Covid-19, foi saqueado por centenas de homens e mulheres que invadiram o local.
A campanha para o fim do SARS reuniu apoio internacional, incluindo de membros do movimento ‘Black Lives Matter’ e do co-fundador da plataforma social Twitter, Jack Dorsey, que partilhou várias publicações de manifestantes nigerianos.
Na passada terça-feira, a Polícia nigeriana anunciou a criação de uma brigada anti-crime (SWAT) para substituir a SARS, tendo posteriormente garantido que nenhum antigo membro da unidade desmantelada poderá integrar a nova força.
Prisão incendiada
Uma das principais prisões da Nigéria foi incendiada esta quinta-feira como parte de protestos crescentes contra a violência policial no país. Vídeos publicados nas redes sociais mostram nuvens de fumo a subir do Centro Correccional de Ikoyi em Lagos.
O morador do bairro de Ikoyi, Tunde Oguntola, disse à agência de notícias DPA que ouviu vários tiros quando soldados e polícias entraram na cadeia e meios de comunicação locais noticiaram que prisioneiros foram mortos. O porta-voz da Polícia, no entanto, não confirmou quaisquer mortes.
O incêndio da prisão é mais um episódio violento na sequência dos protestos contra a violência e a corrupção policial na Nigéria. A população da maior cidade do país, Lagos, vive um ambiente de repressão e incerteza.
Condenações
As Nações Unidas e a União Africana condenaram, ontem, a brutalidade policial e exigiram a responsabilização dos autores da repressão de terça e quarta-feira, que causou vários feridos e mortos em Lagos.
Numa declaração transmitida pelo seu porta-voz, o secretário-geral das Nações Unidas, à qual a Efe teve acesso, António Guterres, apelou ao “fim da brutalidade e dos abusos policiais na Nigéria”, após a repressão que na terça-feira deixou pelo menos 20 pessoas mortas em manifestações de uma escala sem precedentes contra o regime.
Por sua vez, o presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, condenou veementemente a violência em Lagos, e apelou aos intervenientes para rejeitarem o uso da violência e respeitarem os direitos humanos e o Estado de Direito. Reiterando “o compromisso da UA de continuar a acompanhar o Governo e o povo da Nigéria no apoio a uma solução pacífica”, Moussa Faki Mahamat encorajou as autoridades nigerianas a conduzir “uma investigação para assegurar que os autores de actos de violência sejam responsabilizados”.