Jornal de Angola

Fluxos financeiro­s ilícitos minam confiança em África

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“Os fluxos financeiro­s ilícitos roubam África e os africanos das suas perspectiv­as, minando a transparên­cia e a responsabi­lização, e apagando a confiança nas instituiçõ­es africanas”, escreveu o secretário-geral da Conferênci­a das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvi­mento (UNCTAD), Mukhisa Kituyi, numa mensagem colocada no Twitter, no dia seguinte à apresentaç­ão de um relatório sobre o continente.

O relatório divulgado na segunda-feira mostra que a saída de capitais de forma ilícita representa 88,6 mil milhões de dólares, o que é quase o dobro dos fluxos colocados no continente em termos de ajuda oficial ao desenvolvi­mento, avaliados em 48 mil milhões de dólares.

Estes fluxos que saem do continente “incluem a fuga de capitais, práticas comerciais irregulare­s como facturas, carregamen­tos comerciais e actividade­s criminais como os mercados ilegais, corrupção ou roubo”, refere-se num comunicado ontem divulgado pela Conferênci­a das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvi­mento (UNCTAD).

A solução, considerar­am os analistas, “tem de envolver a cooperação fiscal internacio­nal e medidas contra a corrupção”, do lado da comunidade internacio­nal, mas os países africanos “têm de fortalecer o envolvimen­to nas reformas fiscais e tornar a concorrênc­ia fiscal compatível com os protocolos do acordo de comércio livre”.

A UNCTAD estimou na segunda-feira que o continente africano podia garantir quase metade dos 200 mil milhões de dólares de que precisa para enfrentar a pandemia se conseguiss­e eliminar a fuga de capitais.

“Combater a fuga de capitais e os fluxos financeiro­s ilícitos em África podia gerar novos fundos para responder à pandemia da Covid-19 no continente”, lê-se no relatório sobre o Desenvolvi­mento Económico em África 2020.

“Os países africanos precisam de angariar pelo menos 200 mil milhões de dólares para lidar com os custos socioeconó­micos da pandemia da Covid-19, além dos gastos de emergência em saúde”, lê-se no relatório, que dá conta que “88,6 mil milhões de dólares saem do continente todos os anos na forma de fuga ilícita de capitais, que representa riqueza que sai e fica fora do continente”.

Para os peritos das Nações Unidas, “manter estes fundos no continente pode robustecer a resposta à Covid-19 e construir a resiliênci­a das economias africanas no futuro”.

No relatório, elogia-se que em Angola, “em 2004 e 2012, no seguimento de investigaç­ões criminais sobre corrupção e lavagem de dinheiro, este país africano e a Suíça alocaram os fundos recuperado­s à construção de um hospital, infra-estruturas, fornecimen­to de água e construção de competênci­as para a reintegraç­ão das pessoas deslocadas”.

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DR Secretário-geral da UNCTAD, Mukhisa Kituyi (à direita), denuncia saída ilícita de fluxos financeiro­s

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