Que ricas lavras
A agricultura familiar, autosustento de um número considerável de angolanos, mas, também, forma de outros, designadamente dos centros urbanos, comerem, é peça fundamental no desenvolvimento económico nacional, por ajudar a reduzir as importações.
Por todas aquelas razões, entre outras que lhes estão directa ou indirectamente ligadas, são bem-vindos todos os apoios que lhe possam ser dados, menos para aqueles a quem o incremento da produção nacional é um revés, que lhes estorva artimanhas, como a de colocar escusadamente divisas lá fora que tanta falta fazem cá dentro.
Os apoios aos agricultores familiares autênticos, dos que têm no que semeiam a única forma de sustento, podem, também, beneficiar o comércio de todos os tamanhos, e, a médio prazo, indústria e exportações. Para tal, contudo, torna-se necessária a criação de condições, que passam, entre outras, pela garantia de escoamento e de locais, nas áreas de cultivo, nas quais possa ser armazenada a produção enquanto não chega aos centro de maior consumo.
A tarefa das famílias que vivem exclusivamente da lavoura, como se verifica, não é fácil. Pelo contrário, está dependente da adopção de critérios rigorosos, para não verem repetidos logros a beneficiar terceiros que da arte de semear a terra, tratá-la e colher o que ela dá, sabem tanto, ou menos, do que eles de satélites. Quanto muito, esventramna. tornam-na árida, adubam-na com betão.
Angola dispõe de condições naturais para o desenvolvimento de uma agricultura rica em qualidade e diversificação, mas, estranhamente, em quase quatro décadas e meia como país independente, nunca houve quem privilegiasse a formação, aos mais variados níveis, de técnicos do sector, que desempenham maioritariamente a actividade profissional no campo, dispensam fatiotas e gravatas, utilizam jipes como meio de transporte, ouvem música e sabem notícias através de rádios portáteis, não têm aparelhos de ar condicionado a descolarem-lhes as camisas ensopadas de suor, mas o fresco bom do vento.
Entre os muitos défices que registamos conta-se, a de técnicos de agricultura. Até que eles se formem, restamnos os camponeses, muitos deles iletrados, mas com conhecimentos passados de gerações em gerações, na luta pela sobrevivência, que lhes ensinou a conhecer ventos e sóis, chuvas e secas, a sentirem nos corpos, como poucos, o significado das palavras, esquecimento, abandono, injustiça, ultraje, espera.
Os pequenos agricultores, os que dão corpo à designação “agricultura familiar”, que, na maioria das vezes, é de sobrevivência no limite, merecem todos os apoios que o Estado lhes possa dar e nunca hão-de ser excessivos. Mesmo que se lhes não paguem juros de espera, indemnizações pelo esquecimento, apresentadas desculpas, nem devolvam terras usurpadas.
O facto de os proprietários de terrenos agrícolas improdutivos passarem a pagar uma taxa pode constituir factor de moralização, sabendo, como se sabe, que muitos foram aqueles que receberam áreas para cultivo, mas que lhes deram outros destinos, como casas de fim-de-semana, simplesmente as deixaram ao abandono ou... venderam-nas. A medida contemplada no novo Código do Imposto Predial, como esclareceu o secretário de Estado das Finanças e Tesouro, tem fins tributários e de incentivo à agricultura.
A medida é louvável por penalizar quem recebeu um bem e não se serve dele como prometeu, o que não deixa de ser um entrave ao desenvolvimento económico do país. O senão é estarem isentos de pagamento os proprietários de terrenos improdutivos até sete hectares, superfície excessivamente extensa para “agricultura familiar”!
Ou contam os vizinhos e amigos? Que ricas lavras...
Angola dispõe de condições naturais para o desenvolvimento de uma agricultura rica em qualidade e diversificação, mas, estranhamente, em quase quatro décadas e meia como país independente, nunca houve quem privilegiasse a formação, aos mais variados níveis, de técnicos do sector, que desempenham maioritariamente a actividade profissional no campo, dispensam fatiotas e gravatas, utilizam jipes como meio de transporte, ouvem música e sabem notícias através de rádios portáteis, não têm aparelhos de ar condicionado a descolaremlhes as camisas ensopadas de suor, mas o fresco bom do vento