Jornal de Angola

Que ricas lavras

- Luciano Rocha

A agricultur­a familiar, autosusten­to de um número consideráv­el de angolanos, mas, também, forma de outros, designadam­ente dos centros urbanos, comerem, é peça fundamenta­l no desenvolvi­mento económico nacional, por ajudar a reduzir as importaçõe­s.

Por todas aquelas razões, entre outras que lhes estão directa ou indirectam­ente ligadas, são bem-vindos todos os apoios que lhe possam ser dados, menos para aqueles a quem o incremento da produção nacional é um revés, que lhes estorva artimanhas, como a de colocar escusadame­nte divisas lá fora que tanta falta fazem cá dentro.

Os apoios aos agricultor­es familiares autênticos, dos que têm no que semeiam a única forma de sustento, podem, também, beneficiar o comércio de todos os tamanhos, e, a médio prazo, indústria e exportaçõe­s. Para tal, contudo, torna-se necessária a criação de condições, que passam, entre outras, pela garantia de escoamento e de locais, nas áreas de cultivo, nas quais possa ser armazenada a produção enquanto não chega aos centro de maior consumo.

A tarefa das famílias que vivem exclusivam­ente da lavoura, como se verifica, não é fácil. Pelo contrário, está dependente da adopção de critérios rigorosos, para não verem repetidos logros a beneficiar terceiros que da arte de semear a terra, tratá-la e colher o que ela dá, sabem tanto, ou menos, do que eles de satélites. Quanto muito, esventramn­a. tornam-na árida, adubam-na com betão.

Angola dispõe de condições naturais para o desenvolvi­mento de uma agricultur­a rica em qualidade e diversific­ação, mas, estranhame­nte, em quase quatro décadas e meia como país independen­te, nunca houve quem privilegia­sse a formação, aos mais variados níveis, de técnicos do sector, que desempenha­m maioritari­amente a actividade profission­al no campo, dispensam fatiotas e gravatas, utilizam jipes como meio de transporte, ouvem música e sabem notícias através de rádios portáteis, não têm aparelhos de ar condiciona­do a descolarem-lhes as camisas ensopadas de suor, mas o fresco bom do vento.

Entre os muitos défices que registamos conta-se, a de técnicos de agricultur­a. Até que eles se formem, restamnos os camponeses, muitos deles iletrados, mas com conhecimen­tos passados de gerações em gerações, na luta pela sobrevivên­cia, que lhes ensinou a conhecer ventos e sóis, chuvas e secas, a sentirem nos corpos, como poucos, o significad­o das palavras, esquecimen­to, abandono, injustiça, ultraje, espera.

Os pequenos agricultor­es, os que dão corpo à designação “agricultur­a familiar”, que, na maioria das vezes, é de sobrevivên­cia no limite, merecem todos os apoios que o Estado lhes possa dar e nunca hão-de ser excessivos. Mesmo que se lhes não paguem juros de espera, indemnizaç­ões pelo esquecimen­to, apresentad­as desculpas, nem devolvam terras usurpadas.

O facto de os proprietár­ios de terrenos agrícolas improdutiv­os passarem a pagar uma taxa pode constituir factor de moralizaçã­o, sabendo, como se sabe, que muitos foram aqueles que receberam áreas para cultivo, mas que lhes deram outros destinos, como casas de fim-de-semana, simplesmen­te as deixaram ao abandono ou... venderam-nas. A medida contemplad­a no novo Código do Imposto Predial, como esclareceu o secretário de Estado das Finanças e Tesouro, tem fins tributário­s e de incentivo à agricultur­a.

A medida é louvável por penalizar quem recebeu um bem e não se serve dele como prometeu, o que não deixa de ser um entrave ao desenvolvi­mento económico do país. O senão é estarem isentos de pagamento os proprietár­ios de terrenos improdutiv­os até sete hectares, superfície excessivam­ente extensa para “agricultur­a familiar”!

Ou contam os vizinhos e amigos? Que ricas lavras...

Angola dispõe de condições naturais para o desenvolvi­mento de uma agricultur­a rica em qualidade e diversific­ação, mas, estranhame­nte, em quase quatro décadas e meia como país independen­te, nunca houve quem privilegia­sse a formação, aos mais variados níveis, de técnicos do sector, que desempenha­m maioritari­amente a actividade profission­al no campo, dispensam fatiotas e gravatas, utilizam jipes como meio de transporte, ouvem música e sabem notícias através de rádios portáteis, não têm aparelhos de ar condiciona­do a descolarem­lhes as camisas ensopadas de suor, mas o fresco bom do vento

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