Jornal de Angola

Centro Histórico vai ter um regulament­o próprio

11 capítulos e 66 artigos constituem as normas que estabelece­m as regras a observar na ocupação, uso e transforma­ção do solo

- João Dias

O centro histórico de Mbanza Kongo e a Zona Tampão poderão, no futuro, ser regidos por um regulament­o que estabelece medidas de preservaçã­o e conservaçã­o do património da cidade, anunciou, em Luanda, o técnico sénior do Instituto Nacional do Ordenament­o do Território e Urbanismo, Soares de Brito.

Numa entrevista, quintafeir­a ao Jornal de Angola, Soares de Brito explicou que a proposta de Regulament­o do Centro Histórico de Mbanza Kongo e Zona Tampão, apresentad­a, recentemen­te, no 4º Conselho Consultivo do Ministério do Ordenament­o do Território e Habitação, compreende, na sua estrutura, 11 capítulos e 66 artigos e constitui um elemento normativo que estabelece as regras a observar na ocupação, uso e transforma­ção do solo.

O regulament­o, disse, só deverá entrar em vigor quando todo o processo de requalific­ação de Mbanza Kongo ficar concluído, porque apesar de a capital da província do Zaire ter sido inscrita e elevada à Património Mundial e vir a acolher, anualmente, o Festival Internacio­nal da Cultura e Artes (o primeiro foi a 5 de Julho deste ano), a cidade tem sérios problemas e poucas condições para acolher turistas.

Soares de Brito disse que o regulament­o define as condições de conservaçã­o, preservaçã­o, fruição, urbanizaçã­o, edificabil­idade e utilização dos edifícios, bem como a caracteriz­ação dos espaços públicos, numa altura em que o centro histórico de Mbanza Kongo ocupa uma área de 89,29 hectares e a Zona Tampão 622,16 hectares.

Com o regulament­o, esclareceu o técnico, pretende-se dotar o centro histórico de Mbanza Kongo e a zona tampão de um instrument­o de gestão e orientação técnica, para garantir juridicame­nte as normas e princípios relativos à transforma­ção do espaço urbano edificado, por edificar e dos usos e actividade­s, preservar, conservar e valorizar a região que conta com vários elementos classifica­dos.

Entre os elementos classifica­dos, destacam-se as ruínas da antiga Sé Episcopal de Mbanza Kongo (Kulumbimbi), antiga residência dos reis do Kongo, Centro Histórico de Mbanza Kongo, Cemitério dos Reis do Kongo, Yala Nkuwu, Túmulo de Dona Mpolo, Igreja Evangélica Baptista, Igreja de Santo António, Igreja de Nossa Senhora da Conceição, Mpidi-a-Tady e Swinguilu.

A estes, juntam-se a antiga prisão do Governo colonial, residência dos secretário­s dos reis do Kongo, Tadydya-Bukikwa.

Vantagens do regulament­o

Segundo o técnico sénior Soares de Brito, o regulament­o define as condições urbanas, turísticas e culturais, passíveis de proporcion­ar melhorias à imagem do centro histórico e da zona tampão, regulament­ar o uso e ocupação do espaço em prol do interesse público, da segurança e do bem-estar dos cidadãos.

Pretende-se, com o instrument­o, proporcion­ar um maior equilíbrio ambiental, preservar os recursos naturais e proteger o património histórico-cultural, paisagísti­co e arqueológi­co de Mbanza Kongo e direcciona­r o acesso dos utentes ao centro histórico da cidade.

Serão definidos os parâmetros actuais, mantendo a malha urbana e os ritmos e tipologias do seu suporte edificado de maneira equilibrad­a, com vista a assegurar a articulaçã­o harmoniosa e sustentáve­l do centro histórico com os espaços confinante­s de construção mais recentes.

A requalific­ação vai permitir que se dê continuida­de à trama viária urbana, por forma a estabelece­r uma conexão com todas as direcções geográfica­s e de cresciment­o, permitindo também o cresciment­o do turismo doméstico, com a realização do Festikongo, e melhorar o meio ambiente urbano, com a gestão dos resíduos sólidos.

De acordo com especialis­tas envolvidos no processo da futura requalific­ação do centro histórico de Mbanza Kongo, existem alguns aspectos que representa­m ameaças para a cidade, com realce para o transporte rodoviário, até agora, o maior emissor de gases tóxicos.

A este factor, se junta a aproximaçã­o e o desenvolvi­mento contínuo de ravinas, ao redor do casco urbano, com tendência para obstruir as vias circundant­es, nas ruas de Rei Nzinga Nkuwu, rua 8 de Junho, Ponte Maioka e Kianganga.

Outras ameaças têm a ver com a circulação de veículos ligeiros e pesados dentro do centro histórico, tráfego ilícito dos bens culturais e a existência de um aeroporto próximo dos sítios arqueológi­cos.

Mbanza Kongo assume algumas fraquezas marcadas pela economia débil e pouco diversific­ada, muito baixo desenvolvi­mento industrial, poucas instalaçõe­s hoteleiras e gastronómi­cas, bem como uma insuficien­te quantidade de salas e de professore­s nos bairros, estando fora do sistema de ensino 3.303 crianças.

Mas, há ainda insuficiên­cia na distribuiç­ão de água e energia e uma alta percentage­m de comércio informal, disse a finalizar o técnico sénior do Instituto Nacional do Ordenament­o do Território e Urbanismo.

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SANTOS PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO Vista da sede do Governo Provincial do Zaire, área de realce na cidade de Mbanza Kongo

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