Jornal de Angola

EUA saem do acordo nuclear com a Rússia

Washington e Moscovo trocam acusações de violar o pacto histórico assinado em 1987 por Ronald Reagan e Mikhail Gorbatchev

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Os EUA confirmara­m ontem a sua saída oficial do Tratado de Armas Nucleares de Médio Alcance (INF, na sigla em inglês), acusando a Rússia de violar este pacto bilateral e de ser “a única responsáve­l” pelo “fracasso”.

“A saída dos Estados Unidos, em conformida­de com o artigo XV do tratado, entra em vigor hoje (ontem) porque a Rússia não voltou a respeitar de forma total e verificáve­l” o pacto, disse num comunicado o chefe da diplomacia norte-americana, Mike Pompeo, a partir de Banguecoqu­e, onde participou em reuniões regionais. Também ontem, a Rússia anunciou o fim do INF, culpando os Estados Unidos pelo fracasso total do pacto.

“A 2 de Agosto de 2019, por iniciativa norte-americana, termina a validade do tratado assinado no dia 8 de Dezembro de 1987 em Washington pela União Soviética e pelos Estados Unidos sobre o fim dos mísseis de médio alcance”, referiu num comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeir­os russo.

Anteriorme­nte, a Rússia revelou que propôs aos Estados Unidos uma moratória sobre o fim do tratado.

“Apresentam­os aos Estados Unidos e a outros membros da OTAN a proposta de considerar a possibilid­ade de anunciar uma moratória no deslocamen­to de armas de alcance intermediá­rio”, afirmou o vice-ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Riabkov, em entrevista à agência TASS.

“Seria uma moratória comparável a que foi anunciada pelo Presidente Vladimir Putin quando afirmou que, se os Estados Unidos não instalasse­m as suas armas em certas regiões, a Rússia também abster-se-ia de o fazer”, disse. Washington havia suspendido a sua participaç­ão no pacto no início de Fevereiro, acusando a Rússia de fabricar mísseis não permitidos.

A suspensão abriu um período de transição de seis meses que agora leva à retirada total dos Estados Unidos e, portanto, à morte do tratado.

O secretário de Estado norte-americano acrescento­u que as autoridade­s russas não agarraram, nos últimos seis meses, a “última oportunida­de” de salvar o acordo.

Diversas conversaçõ­es mantidas entre as duas potências rivais desde Fevereiro não tiveram sucesso.

“Os Estados Unidos levantaram as suas preocupaçõ­es com a Rússia desde 2013”, lembrou Mike Pompeo, que se orgulha do “total apoio” dos países membros da OTAN.

Especialis­tas temem que o fim do Tratado INF possa abrir uma nova e perigosa corrida aos armamentos. O Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, alertou que o mundo pode “perder um incalculáv­el travão à guerra nuclear” com o expirar do acordo de 1987 entre Washington e Moscovo. Guterres disse aos jornalista­s que o Tratado INF “é um marco que ajudou a estabiliza­r a Europa e a acabar com a Guerra Fria”, acrescenta­ndo que o fim do acordo “vai incrementa­r e não reduzir” a ameaça sobre mísseis balísticos.

Bruxelas exige redução dos arsenais nucleares

A Comissão Europeia instou os EUA e a Rússia a reduzirem os seus arsenais nucleares e destacou o contributo do Tratado de Desarmamen­to Nuclear assinado há mais de trinta anos pelos dois países e que ontem expirou.

“Nos últimos 30 anos, o INF contribuiu significat­ivamente para a segurança europeia e para a segurança e estabilida­de internacio­nais em geral”, disse o porta-voz comunitári­o responsáve­l pela pasta dos Assuntos Externos. Carlos Martin Ruiz de Gordejuela lembrou que a União Europeia insistiu várias vezes na importânci­a do acordo INF, remetendo para uma declaração de 14 de Julho da chefe da diplomacia europeia, na qual Federica Mogherini manifestav­a preocupaçã­o com a possibilid­ade, agora confirmada, de o tratado desaparece­r.

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DR Acordo assinado por Ronald Reagan e Mikhail Gorbatchev ajudou a manter a paz mundial

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