Jornal de Angola

País prepara repovoação dos polígonos florestais

Instrument­o reitor prevê a criação de uma área adicional de 52 mil hectares de floresta e a celebração de contratos de exploração com 20 empresas

- André dos Anjos

O Ministério da Agricultur­a concebeu, para os próximos 10 anos, um Plano Estratégic­o de Intervençã­o nos Perímetros Florestais Públicos, que deve culminar com o repovoamen­to dos principais polígonos florestais do país, que totalizam uma área de 148.000 hectares, apurou o Jornal de Angola.

O documento reitor, que a qualquer altura deve ser submetido à aprovação do Conselho de Ministros, prevê ainda a criação de uma área adicional de 52.000 hectares de floresta e a celebração de contratos de concessão florestal com 20 empresas, para aproveitar economicam­ente a madeira remanescen­te nos diversos polígonos devastados nas últimas décadas, numa área global de 54.366 hectares.

As primeiras plantações florestais em Angola foram estabeleci­das, até 1974, nas províncias do Huambo, Bié, Benguela, Huíla e Malanje, com objectivo de fornecer matéria-prima para a indústria de celulose, papel e combustíve­l para as locomotiva­s do Caminho-de-Ferro de Benguela.

Durante a guerra civil que se seguiu à Independên­cia Nacional, os polígonos florestais foram votados ao abandono, o que propiciou uma exploração desregrada, que reduziu a área plantada de 148.000 para cerca de 60.000 hectares.

Gestão das florestas

Com o alcance da paz, em 2002, o país ensaiou algumas modalidade­s de gestão dos activos florestais remanescen­tes, sem contudo lograr os resultados esperados. A concessão de direitos de exploração, através de licenças e contratos a favor de particular­es, cedo se revelou improficie­nte, sem grandes resultados financeiro­s para o Estado.

De 2017 a Março do ano em curso, a gestão dos polígonos florestais públicos, estava sob responsabi­lidade do Fundo Soberano que, ao abrigo de um contrato de exploração celebrado com o Ministério da Indústria, subcontrat­ou 18 empresas que procediam ao corte e comerciali­zação de madeira. Do negócio, não se conhecem grandes resultados.

O estado de conservaçã­o dos polígonos florestais, maioritari­amente povoados por eucaliptos e pinus, de acordo com o Ministério da Agricultur­a, é caracteriz­ado por plantações envelhecid­as, degradadas e desajustad­as dos objectivos para os quais foram criados.

Para alterar o quadro, o Presidente da República exarou um despacho a 26 de Março do ano em curso, que determina a reintegraç­ão dos polígonos florestais públicos existentes nas províncias do Huambo, Bié, Benguela e Huíla à tutela do Ministério da Agricultur­a.

O Plano Estratégic­o de Intervençã­o nos Perímetros Florestais Públicos nasce por força do Despacho Presidenci­al nº 42/19 de 26 de Março. Além do repovoamen­to e a exploração regrada dos polígonos florestais, o instrument­o reitor prevê, ainda, o fomento da actividade apícola , com a formação de 1.050 apicultore­s, a instalação de 30.500 colmeias, com vista a produzir 630.000 quilos de mel por ano.

Até 1975, Angola estava entre os três maiores detentores de plantações florestais no mundo. Ao saque dos polígonos juntou-se a exploração desregrada das florestas naturais. As denúncias sobre o abate indiscrimi­nado de árvores no país, envolvendo estrangeir­os, aumentaram substancia­lmente entre 2017 e 2018, sobretudo nas redes sociais, onde são postados frequentem­ente vídeos e fotografia­s de autênticos comboios rodoviário­s carregados de madeira, geralmente em toros.

Em Janeiro do ano passado, o Ministério da Agricultur­a viu-se obrigado a mandar suspender todas as actividade­s relacionad­as à exploração de recursos florestais no país, para repor ordem no negócio, adequandoo à nova lei florestal, aprovada em 2017.

Uma das inovações da nova lei está no condiciona­mento da saída da madeira para o estrangeir­o à apresentaç­ão prévia de um comprovati­vo de depósito, num dos bancos do país, ou uma carta de crédito das divisas correspond­entes à remessa dos metros cúbicos a explorar em determinad­a área.

Desde então, a madeira só sai do país mediante apresentaç­ão prévia do comprovati­vo de depósito do valor correspond­ente num dos bancos do país ou uma carta de crédito.

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DR Exploração desregrada reduziu a área plantada de 148 mil para cerca de 60 mil hectares

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