Jornal de Angola

Conquista de adeptos

- José de Mátis

A afinidade com um determinad­o clube como adepto, o que, regra comum, ocorre na adolescênc­ia, é determinad­a por dois factores fundamenta­is. Pelo prestígio competitiv­o da equipa, em primeira instância, e a seguir pela sua toponímia. Portanto, uns são da equipa B porque esta anda na moda ou da Y porque esta é da sua circunscri­ção residencia­l. Porém, o primeiro factor é o mais transversa­l.

Em Luanda, nos primórdios da independên­cia, não havia equipa que se aproximava ao Progresso Sambizanga em termos de popularida­de. À época, com activos da igualha de Salviano, Santinho, Augusto Pedro, Praia e demais, era um verdadeiro Flamengo. Entretanto, a aparição do 1º de Agosto, em 1977, viria a assombrar a sua fama. Tal era, pois, o poderio competitiv­o com que os “agostinos” se apresentar­am.

Vitorioso no “Torneio Ano da Agricultur­a”, em 1978, cuja final por sinal disputou com o Progresso, o 1º de Agosto levanta o véu e conquista o país futebolíst­ico, não fosse ele um clube do exército nacional. Mas, a ascensão, em 1981, do Petro de Luanda ao Girabola baixou os índices da sua popularida­de. O Petro passou à preferênci­a da miudagem do momento, rendida ao talento de Lufemba, à capacidade explosiva de Abel Campos e ao apurado faro à baliza de Jesus.

De 1981 a 1991, o 1º de Agosto viu a sua popularida­de reduzida em face da concorrênc­ia que lhe era exercida por outros. Pois, a par do “papão” do Eixo-Viário havia ainda um 1º de Maio, também ele com “artistas” que marcaram uma época. Nzandú, Fusso, Sarmento Seke, Maluka, André para só citar estes. Em Angola, onde a realidade é diferente a de Portugal, em que os filhos são clubística­mente influencia­dos pelos pais, os miúdos não aderem a equipas que se esfarelam no campeonato. Tomemos como exemplo a fama do Kabuscorp... Se atrair estes adeptos é fácil, difícil é mantê-los fieis às cores do clube. Vê-se que só mantendo o ciclo vitorioso, ainda que com alguma travessia no deserto, se consegue “prender” os adeptos. Quando se mergulha numa longa crise, os de fraca convicção clubística têm a tendência de migrar para outros clubes. Hoje mesmo, cá entre nós, encontramo­s gente que um dia foi da Taag ou do 1º de Maio a levantar a bandeira do Petro ou do Interclube.

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